segunda-feira, maio 05, 2008

Dez anos




Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.
Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crêpe bows round the white necks of the public
doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.
He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.
The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good.

W.H. Auden



Todo o dia este poema tem andado às voltas na minha cabeça, mesmo que afastado por momentos por me concentrar nas actividades do quotidiano. Diz-se que time heals, e é de certa forma verdade; mas é também verdade que não produz uma restitutio ad integro; cura mas também deforma, esbate, esfuma, deturpa, enquista. Quando olho para dez anos atrás, tudo me parece simultaneamente pungente e irreal, como num sonho, e interrogo-me: mas será que isto existiu mesmo? foi outra vida? Como a pergunta de Satoco no final de O Mar da Fertilidade: Mas tem a certeza de que existiu alguém chamado Quioáqui Matsugae?

Por outro lado, tento evocar os momentos de felicidade, e por vezes ressurgem, de forma quase sempre imprevisível, e então sim, tenho a certeza de que existiu. E nessas alturas, são outros os versos que me vêm automaticamente à cabeça, aqueles que são para mim uma espécie de divisa do que passou:

Is it too late to touch you, Dear?
We this moment knew -
Love Marine and Love Terrene -
Love celestial too -

Emily Dickinson


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