domingo, agosto 30, 2009
Inglourious Basterds, de Quentin Tarantino
Um filme muito divertido, não o melhor que vi de Tarantino, mas mesmo assim uma delícia para ver, sobretudo nos tempos que vão correndo, em que poucos filmes interessantes têm aparecido. O enredo rocambolesco faz lembrar a banda desenhada de Cuto ou de Blake e Mortimer, e transmite um prazer do género dos filmes de Indiana Jones nos anos 80, cuja ingenuidade é neste caso substituídapor um espírito satírico e violento - mais adaptado aos anos 00... Esteticamente é magnífico, as cenas são muito bem filmadas, e as interpretações estão óptimas, destacando-se o magnífico trabalho de Christoph Waltz no vilão nazi, que domina completamente o filme, e sendo o pior o de Brad Pitt, cujo overacting sulista resulta pouco convincente. Quentin Tarantino continua com um inegável talento de pegar nos ingredientes dos filmes B e trash e transformá-los em arte; acho apenas que por vezes se alonga demasiado em certas cenas, forçando demasiado algumas notas - uma certa auto-indulgência que também se nota em Death Proof e que beneficiaria de um editing mais exigente. Mas n conjunto é um óptimo filme.
quarta-feira, agosto 26, 2009
Corfu, de Robert Dessaix
Gostei deste livro, que acho interessante em vários aspectos. Para começar, é uma leitura agradável e o enredo é engraçado, no género comédia romântica. Mas o que me tocou foram dois aspectos - primeiro, o tema da vida como viagem, tão bem ilustrado pelo poema de Cavafis Ítaca, e da procura da amizade perfeita; segundo, a experiência dos locais como incluindo as memórias das outras pessoas que os visitaram e do que lemos e sonhámos sobre eles.
Com efeito, quando visitamos um local, experimentamo-lo no contexto do nosso imaginário - tal como a Corfu de Dessaix é permeada pela presença dos Durrells e de Sissi, também a "minha" Paris é habitada pelo grupo de Sartre, pelas ersonagens de Zola ou mesmo pelas de Dumas, tal como Londres pelos Bloomsburyites ou Nova Iorque pelas personagens dos filmes de Woody Allen. O nosso imaginário histórico, literário, cinematográfico, musical, etc etc, enriquece e influencia imenso a forma como experimentamos e vivemos os locais que visitamos.
Quanto à vida como uma viagem, muitos livros, desde a Odisseia, tratam esse tema, e este não diz propriamente nada de novo. Mas o autor escreve com sensibilidade e inteligência, discorre sobre as peças de Tchékov de forma inteligente e que dá vontade de as ver de novo (e como lamento nunca ter visto O Tio Vânia!), cita os poemas de Safo e de Cavafis a propósito e faz-nos senti-los, e as suas evocações da procura da amizade perfeita tocam-me particularmente, pois foi sempre um dos objectivos / sonhos da minha vida. É sempre bom ler passagens como esta: "... veio-me à mente uma frase de Emerson, à minha mente seca como o pó, analítica, uma expressão que me fascinara quando a lera pela primeira vez: "inimigos magníficos". Segundo Emerson, era o que os amigos (no sentido de seres que enriquecem a nossa vida) deviam ser uns para os outros. De repente a expressão fazia algum sentido, um sentido um tanto bizarro: o amigo como invasor a quem admiramos, a quem desejamos (pois a capitulação é doce), mas a quem resistimos, a quem afastamos continuamente. Era tão menos sentimentalista, muito mais dinâmico do que "almas gémeas", "amigos íntimos" e todas as outras palavras que eu tentara escolher entretanto." Ou: "Acho que vou falar de um "amigo especial", suponho que é o que quer dizer uma "alma gémea", aquele género de amigo que Montaigne amou há quatrocentos anos (o seu nome era La Boétie), alguém que foi por ele amado pela única razão de "ele ser ele e eu ser eu"."
Com efeito, quando visitamos um local, experimentamo-lo no contexto do nosso imaginário - tal como a Corfu de Dessaix é permeada pela presença dos Durrells e de Sissi, também a "minha" Paris é habitada pelo grupo de Sartre, pelas ersonagens de Zola ou mesmo pelas de Dumas, tal como Londres pelos Bloomsburyites ou Nova Iorque pelas personagens dos filmes de Woody Allen. O nosso imaginário histórico, literário, cinematográfico, musical, etc etc, enriquece e influencia imenso a forma como experimentamos e vivemos os locais que visitamos.
Quanto à vida como uma viagem, muitos livros, desde a Odisseia, tratam esse tema, e este não diz propriamente nada de novo. Mas o autor escreve com sensibilidade e inteligência, discorre sobre as peças de Tchékov de forma inteligente e que dá vontade de as ver de novo (e como lamento nunca ter visto O Tio Vânia!), cita os poemas de Safo e de Cavafis a propósito e faz-nos senti-los, e as suas evocações da procura da amizade perfeita tocam-me particularmente, pois foi sempre um dos objectivos / sonhos da minha vida. É sempre bom ler passagens como esta: "... veio-me à mente uma frase de Emerson, à minha mente seca como o pó, analítica, uma expressão que me fascinara quando a lera pela primeira vez: "inimigos magníficos". Segundo Emerson, era o que os amigos (no sentido de seres que enriquecem a nossa vida) deviam ser uns para os outros. De repente a expressão fazia algum sentido, um sentido um tanto bizarro: o amigo como invasor a quem admiramos, a quem desejamos (pois a capitulação é doce), mas a quem resistimos, a quem afastamos continuamente. Era tão menos sentimentalista, muito mais dinâmico do que "almas gémeas", "amigos íntimos" e todas as outras palavras que eu tentara escolher entretanto." Ou: "Acho que vou falar de um "amigo especial", suponho que é o que quer dizer uma "alma gémea", aquele género de amigo que Montaigne amou há quatrocentos anos (o seu nome era La Boétie), alguém que foi por ele amado pela única razão de "ele ser ele e eu ser eu"."
sexta-feira, agosto 21, 2009
Quiet Summer days
Dias algo estranhos, estes últimos. Em parte entorpecido pelo calor, a quantidade de trabalho e a solidão doméstica - pouco habituado a viver sozinho, não sei lidar muito bm com isso, fico sempre algo melancólico, embora desta vez até me tenha sabido bem. Pouco tempo para ler, e vontade de voltar a ler mais não-ficção. Alguns rasgos de insight que me entristeceram mas me apaziguaram. E reencontrei uma pessoa no Facebook com quem perdera o contacto há décadas, o que foi bom, mas também me despertou alguma sensação de estranheza - o que sou eu sem os últimos 30 anos? É quase como se me revisse numa vida diferente.
De qualquer forma, no conjunto sinto-me bem. Apaziguado e morno, mas é uma melhoria. Será que vou acabar por me converter a um conceito de felicidade como contentment, tiédeur? Muitas vezes tenho pensado que talvez fosse melhor, mas não quadra com o meu carácter... Como dizia uma personagem interpretada por Fanny Ardant em La Vie Est un Roman (filme que marcou um dia crucial da minha vida, embora na altura eu não me apercebesse, e de que só essa cena me ficou): "J'aime le feu, le glace, pas cette constante tiédeur que vous voulez pour nous." (a frase pode não ter sido esta, mas a ideia era)
quinta-feira, agosto 20, 2009
The Dwarf, de Pär Lagerkvist
Um outro autor sueco, que eu desconhecia ter ganho o prémio Nobel até o ter descoberto em Estocolmo. Um livro estranho e inquietante, passado numa corte italiana imaginária do Renascimento, onde o Príncipe poderia ser Ludovico Sforza, a cidade Milão, a princesa Beatriz d'Este, mestre Bernardo Leonardo da Vinci. Ou não, uma vez que o que se transmite é uma espécie de ensaio sobre a inveja, o desejo e a frustração de um ser que se defende da inferioridade por uma pseudo-misantropia que esconde e disfarça (mal) uma ânsia meio ingénua meio implacável de ser como os outros, de compreender e pertencer ao género humano. Pelo menos essa é a impressão que me fica deste livro, escrito com uma crueza forte numa linguagem aparentemente de conto de fadas. Muito bom.
sábado, agosto 08, 2009
A doação de sangue dos homossexuais
Nos últimos dias houve muitos post na "blogosfera" e no Facebook sobre esta questão, a propósito de uma entrevista do director do Instituto de Sangue: é ou não um discriminação considerar que ser homosseual é uma contra-indicação a ser doador de sangue? O argumento principal a favor dacontra-indicação é qe dar sangue não é em si um direito, mas sim receber sangue "seguro". O que é verdade, decerto. Mas eu concordo que o estabelecer que "ser homossexual" em si é uma contra-indicação está errado e é uma forma de discriminação que deveria desaparecer. É óbvio que é fundamental assegurar o mais possível que o sangue administrado está live de doenças transmissíveis, e concordo que se recusem os dadores com comportamentos de risco. Mas mesmo admitindo que s homossexuais - ou os "men who have sex with men" na teminologia anglo-saxónica politicamente correcta actualmente utilizada - tenham maior frequência de comportamentos de risco, isso não é obrigatório. E quanto a mim, a razão principal para eliminar essa fraseologia é precisamente a de que conduz a um reforço da ideia-feita de que homossexualidade = promiscuidade e a uma visão negativa dos homossexuais, que forçosamente contrbui para a homofobia que já
é tão prevalente na nossa sociedade e que penso ser fundamental eliminar. Mesmo que a selecção dos dadores continue da mesma forma - ou seja, que os homens que têm sexo com homens contnuem a ser recusados caso a caso porque os responsáveis pela selecção não os considerem suficientemente seguros - não deveser assumido que são recusados por "serem homossexuais". Mesmo porque os inquéritos são muito pouc fiáveis, pois as pessoas - homo ou heterossexuais - podem sempre mentir sobre os seus hábitos. E quando se diz que é "só" um questão de palavras, está a ser-se hipócrita, porque as palavras são muito importantes.
Quanto à tão badalada entrevista, é um manancial de disparates que só podem desacreditar quem os profere. Olim tem o direito às suas opiniões, mas pelo que diz estas são completamente homofóbicas e disparatadas, e é por isso que subscrevi a causa do facebook pedindo a sua demissão. Só pela pérola dos homens violados já merecia!
Enfim, as questões de linguagem são importantes,e tudo o que contribua para o fim da homofobia e a aceitação da homossexualidade como algo perfeitamente natural parece-me fundamental. Queremos ou não ser civilizados? E a verdadeira civilização passa pela implementação da felicidade das pessoas.
Documents Concerning Rubashov the Gambler, de Carl-Johan Vallgren
Mais um livro de um autor sueco que comprei em Estocolmo. É interessante, mas ficou aquém das minhas expectativas depois de ler as críticas na contracapa, ao contrário dos outros, que as excederam. O chamado realismo fantástico é utilizado soberbamente por muitos autores, de Gabriel García Márquez a Salman Rushdie, passando por José Saramago, e o tema da imortalidade / viagens no tempo, muitas vezes tratado em livros de ficção científica, deu origem a muitos livros facsinantes. Este livro toma como ponto de partida a imortalidade da personagem principal, o jogador Rubashov, para tratar o tema do Mal ao longo do século XX, que de facto foi particularmente pródigo em situações arrepiantes - Rubashov testemunha / vive a 1ª Guerra Mundial, o extermínio dos kulaks, os programas eugénicos nazis, o Holocausto, a Guerra Fria, o terrorismo do IRA, a guerra dos Balcãs. O livro é interessante, Vallgren escreve bem, mas esforça-se demasiado por transmitir a sua ideia - fica-se com a sensação a partir do meio que já disse o que tinha a dizer e que há mutas páginas supérfluas. E nos últimos capítulos, certifica-se de que percebemos bem a mensagem, em passaens como: "Loss is perhapsthe only constant in humankind's existence, corruption its godmother, and Rubashov had to experience this as few others. [...] Joseph Rubashov symbolises all the widows, widowers, orphans, the abandoned, deceived, mourning, terrified, all those tormented, bullied, expelled, enslaved, prosecuted, totured; but he has a uniquely dual role, as he also represents: all the survivors, those whose fate has often been many times worse than those they survived. He is a case study in the mechanisms of suicide, he symbolises the wretchedest of the wretched: those who want to die, but cannot."
Preferiria um pouco mais de subtileza e menos explicações... Mas mesmo assim, um bom livro.
Preferiria um pouco mais de subtileza e menos explicações... Mas mesmo assim, um bom livro.
Poupanças à portuguesa
Há dias, pr volta das 23:00, saía eu do Media Markt em Alfragide, e dei com uma fila imensa de carros parados. Surpreendido pela insólita situação - àquela hora, em Agosto - pensei se teria havido algum acidente que tivesse cortado a estrada. Mas mais à frente percebi a verdadeira causa! É que ali fica a famosa bomba da gasolina mais barata, e todos aqueles carros estavam em fila para abastecer os seus depósitos por uma pechincha! Pois é, como podiam os donos daqueles Toyotas e BMWs resstir a comprar gasolina sem chumbo 95 a 1.119 € o litro? Vale bem a pena, estar uma meia hora à espera numa noite de Verão! Sempre se poupam uns 2 € por depósito! Sem comentários...
domingo, agosto 02, 2009
Into the Wild, de Sean Penn
Um filme muito belo, sobre o desejo de liberdade e de comunhã com a Natureza, nese caso com um resultado trágico, mas realista - a Natureza é certamente bela, mas igualmente implacável, e não basta ser um jovem talentoso, culto e bem intencionado da classe média para conseguir sobreviver sozinho. Mas o filme é excelente - esteticamente muito belo, com óptimas interpretações, um grande afecto pelas personagens e uma banda sonora magnífica, com as canções e a voz de Eddie Vedder. Gostei muito.
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