quinta-feira, junho 24, 2010
Nova viagem à Flandres
Depois da viagem à Flandres em Abril de 2009, regressei, e gostei tanto como da vez anterior. Comecei por voltar a Bruxelas, desta vez com um sol radioso, que fez encher as esplanadas dos cafés e restaurantes de uma multidão animada e cosmopolita. Nas Halles Sait Géry, que no ano anterior tinham estado desertas, foi difícil encontrar um lugar para nos sentarmos a saborear uma cerveja... Da mesma forma, a Grand Place estava muito mais bonita debaixo de sol.
Sabe-me sempre bem regressar a cidades / lugares onde já estive e de que gostei - ao prazer da descoberta de novos sítios (há-os sempre) junta-se uma sensação de familiaridade confortável, como quando se está com velhos amigos. Visitei a interessante Basilique Nationale art deco e o Musée Magritte, que ainda não existia há 1 ano, e que é muito bom - apesar de não estar lá nenhuma das obras mais conhecidas do pintor, a colecção é excelente e está muito bem exposta, com os trabalhos muito bem contextualizados.
De Bruxelas fui a Lewven / Louvain, a cidade universitária de Erasmo. É uma cidadezinha fantástica, combinando uma arquitectura gótica magnífica - a Stadhuis chega a ser mesmo demasiado ornamentada, tem de se olhar devagar os detalhos para os apreciar devidamente, e há também a catedral, a biblioteca da universidade, e sobretudo o conjunto, as praças, as casas de guildas, etc - com uma vida jovem e animada de estudantes que faria inveja a qualquer cidade espanhola. O Oude Markt é uma praça verdadeiramente incrível, basta estar lá para se ficar bem disposto.
Mechelen / Malines é mais uma cidade flamenga com um belo centro histórico, com a sua Stadhuis, casas de guildas, igrejas e praças. A torre da catedral de St. Romould sobressai na paisagem urbana, e mais uma vez há uma série de agradáveis praças com esplanadas e gente a beber cerveja e a conversar.
Por fim, Antuérpia. Uma cidade maior, mais esplanadas, cerveja, casas de guildas e igrejas... O Grotte Markt é quase tão bonito como a Grand Place de Bruxelas, e a disposição da praça é a meu ver mais interessante. Além da magnífica catedral gótica e da Stadhuis renascentista, há edifícios muito interessantes, como o Vleeshuis, o castelo, a Gare Central, exuberantes prédios Belle Époque, e claro as casas de guildas.
Fica a memória de alguns dias muito bem passados, e a vontade de voltar à Bélgica.
sexta-feira, junho 18, 2010
Lettres à Theo, de Vincent van Gogh
Gostei muito de ler as cartas de van Gogh ao irmão. Tocante, a escrita de van Gogh é apaixonada e intensa como os seus quadros (segundo Émile Bernard, “There, pulsating with life, one would find the whole of him.”), e é muito interessante seguir a evolução da sua vocação - de pregador protestante a pintor - e a génese de alguns dos seus quadros.
"...le monde ne m'importe guère, si ce n'est que j'ai une dette envers lui, et aussi l'obligation, parce que j'y ai déambulé pendant trente années, de lui laisser par gratitude quelques souvenirs sous la forme de dessins ou de tableaux qui n'ont pas été entrepris pour plaire à l'une ou l'autre tendance, mais pour exprimer un sentiment humain sincère."
Vincent viveu a sua curta vida de forma algo desastrada, mas sempre convicta, apaixonada e sincera, lutando com dificuldades financeiras (como é tristemente ir´nico ler: "C'est une perspective assez triste de devoir se dire, que jamais peut-être la peinture que je fais aura une valeur quelconque. Si cela valait ce que cela coûte, je pourrais me dire: je ne me suis jamais occupé de l'argent."!). Theo foi sempre o seu suporte inestimável, não só financeiro como afectivo. "Quand existe l'amitié véritable entre deux êtres, ceux-ci ne se fâchent pas facilement l'un contre l'autre, même lorsqu'ils en arrivent à se brouiller. Même si l'on se fâche, on ne tarde pas à se réconcilier."
"Ouf - le faucheur est terminé [...] - c'est une image de la mort tel que nous en parle le grand livre de la nature - mais ce que j'ai cherché c'est le «presqu'en souriant». C'est tout jaune, sauf une ligne de collines violettes, d'un jaune pâle et blond."
quinta-feira, junho 10, 2010
Viagem à Provença
Já não me lembro quando ou porque começou o meu desejo de ir à Provença. Foi seguramente há muito tempo, e provavelmente consolidado após a leitura, aos 20 e poucos anos, de O Quinteto de Avignon. Várias vezes adiada, finalmente lá fui conhecer a região.
As expectativas eram obviamente grandes, e a viagem não começou da melhor maneira - novo adiamento, desta vez de 2 semanas, devido às famosas cinzas vulcânicas - mas foram inteiramente realizadas. Adorei a viagem, foi das que mais gostei nos últimos tempos, e tenho em geral gostado de todas (sou um viajante optimista!).
É difícil descrever 5 dias felizes e muito intensos em poucas palavras, por isso não vou tentar. Direi apenas que o tempo esteve estupendo (o adiamento causado pelo vulcão revelou-se uma blessing in disguise, já que na data incial esteve a chover), as cidades, as aldeias e o campo são belíssimos, as pessoas muito mais simpáticas que em Paris e a comida excelente como era de esperar.
Num resumo muito resumido, para dar uma ideia e aguçar o apetite de quem queira lá ir:
A natureza é bastante semelhante ao Alto Alentejo / Beira Baixa, o que me proporcionou uma sensação de familiaridade e de "estar em casa", com a vantagem de haver tudo o resto e ainda a costa, de que vi pouco mas é muito bonita (espero regressar para ver o resto): vinhas, oliveiras, pinheiros, ciprestes, penedos de granito, as planícies pantanosas e salinas da Camargue. Renques de ciprestes evocam paisagens pintadas por Van Gogh. Não vi as famosas florações da alfazema, que são mais tarde.
Magníficos vestígios da História encontram-se por todo o lado: o teatro romano de Orange, os anfiteatros de Arles e Nîmes, a Pont du Gard, os pórticos românicos de St. Trophime em Arles de de St. Gilles-du-Gard, castelos como o do rei René em tarascon, as muralhas de Aigues-Mortes, o palácio gótico dos Papas em Avignon, os edifícios dos séculos XVII e XVIII do Cours Mirabeau em Aix...
Das cidades, destaco Aix-en-Provence, Avignon e Arles; das aldeias Les Baux, Gordes, Crestet; mas todas as vilas são interessantes e agradáveis, como St. Rémy, Tarascon, etc.
A comida é óptima, desde a famosa bouillabaisse de Marselha a qualquer salada bem temperada em qualquer vilazinha, e o vinho é delicioso. Os sabores mediterrânicos no seu melhor.
É óbvio que não há só qualidades: em geral conduz-se mal, as sinalizações fazem lembrar as portuguesas na sua tendência críptica, as rotundas com "esculturas" "modernas" também pululam nos arredores de Marselha, as multidões de ciganos internacionais e de working classes tornavam Saintes-Maries-de-la-Mer (uma vilazinha à beira-mar não muito diferente da Costa da Caparica mas com uma imensa igreja tipo fortaleza) naquilo que os meus filhos chamaria "o paraíso da chungaria" (mas o ambiente acabava por ter a sua graça), Nîmes no dia da feria anual transbordava de barulho, música pimba e gente bebida, um autêntico "bordel" tauromáquico de onde fugimos com dor de cabeça uma hora depois de chegarmos... Mas os lugares não serem perfeitos torna-os mais reais, quanto a mim, e há sempre pequenos contratempos nas férias.
Numa próxima vez, espero explorar a região oriental da Provença e Côte d'Azur.
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