Atrasado, o Verão chegou em força... Não sei se o planeta está realmente a aquecer nem, caso isso seja verdade, se a actividade humana é responsável. Na minha curta vida (em termos geológicos, obviamente) não penso que dê para avaliar - os Verões sempre foram quentes, uns mais do que os outros, e os INvernos sempre foram frios, uns mais frios do que os outros. Como cada vez mais me custa suportar o calor, fico grato por este ano ter chegado mais tarde. Sempre me senti um pouco alien no Verão, com toda a gente radiante a correr para a praia e a deliciar-se com temperaturas acima dos 30ºC. Eu detesto fazer praia em Lisboa, cansa-me estar muito tempo ao sol, e fico com uma terrível inércia e desconforto físico nos dias quentes. De qualquer forma, também eu vou migrar para sul por 2 semanas para alguma praia e espero que muita leitura à sombra... E agradeço ao progresso que nos forneceu essa maravilhosa invenção que é o ar condicionado. Quanto ao calor, há que aguentá-lo até Setembro.
segunda-feira, julho 30, 2007
domingo, julho 29, 2007
A beringela biológica
Há uns tempos, decidi fazer uma salada de beringelas e grão. Levava 3 beringelas. Quando comprei os ingredientes no supermercado - sou geralmente muito meticuloso a cumprir as receitas - as beringelas vinham embaladas 2 a 2; preparava-me para comprar 4 quando reparei que mais ao lado, na prateleira dos legumes, havia uma sberingelas "biológicas", mais caras, embaladas individualmente. Comprei uma, completando assim a quantidade necessária.
Atrasei-me nesse dia, de modo que liguei para casa e disse às minhas filhas para irem adiantando a receita. Quando cheguei, já estava a salada quase pronta, e perguntei: "Então, entenderam-se com a receita, estava tudo em ordem?"; ao que me responderam: "Sim, já fizemos tudo... Mas uma das beringelas estva toda podre!". Logo me assaltou a terrível suspeita: "Qual delas? A que estava embalada sozinha?". "Sim! Essa mesmo!". Ou seja, a beringela podia não ter utilizado químicos, mas pelos vistos fizeram-lhe alguma falta...
domingo, julho 22, 2007
Safe, de Todd Haynes
Vi há algum tempo Safe, não escrevi nada na altura, depois com o Verão, a família de férias, a inércia, a inércia!..., fui adiando, como com tantos outros posts que componho mentalmente mas que nunca chego a passar a escrito, mas gostava de deixar a minha impressão.
Safe é um filme muito interessante a vários níveis. Formalmente é muito bom: contido, com uma excelente interpretação da sempre óptima Julianne Moore, com um ambiente extremamente bem conseguido, em que a ansiedade, o medo, a claustrofobia, progridem num crescendo quase palpável. Há quanto a mim dois planos de leitura principais - um relacionado com o caso particular daquelas personagens (aquela mulher, aquelas fobias, aquele grupo de entre-ajuda, aqueles médicos, aquele subúrbio), o outro em que aquela história serve como metáfora de um problema mais generalizado: a sensação de insegurança e malestar crescente numa classe média suburbana e provida de uma afluência material e de um excesso de tempo livre que contrasta com a pobreza da sua vida interior, com a falta de objectivos e com o desinteresse geral da sua vida quotidiana, o que a leva a canalizar essa falta de sentido da vida numa série de medos absurdos, mal definidos e generalizados que acabam por ser o centro da sua vida. É nesse aspecto, e por essa leitura, que o filme se torna angustiante e que impressiona. Em relação à leitura mais estreita (a do caso particular contado), a minha visão é temperada por uma razoável experiência pessoal com doentes mais ou menos semelhantes, com os quais é muito difícil sentir empatia, pois nunca encontrei nenhum que fosse bonito como a Julianne Moore e são em geral pessoas auto-centradas, negativistas, sem capacidade de elaborar o sofrimento (nem aliás praticamente nada), e que se tornam extremamente destrutivas, corroendo tudo à sua volta, a começar pelas vidas dos familiares, sem qualquer consideração pelos sentimentos dos outros (aliás, o filme ilustra esses aspectos perfeitamente).
O final é como deve ser, em aberto, a melhor forma de terminar quer se faça uma ou outra leitura. É a melhor forma de nos pôr a pensar e de enfatizar o desconforto que o filme pretende causar.
Safe é um filme muito interessante a vários níveis. Formalmente é muito bom: contido, com uma excelente interpretação da sempre óptima Julianne Moore, com um ambiente extremamente bem conseguido, em que a ansiedade, o medo, a claustrofobia, progridem num crescendo quase palpável. Há quanto a mim dois planos de leitura principais - um relacionado com o caso particular daquelas personagens (aquela mulher, aquelas fobias, aquele grupo de entre-ajuda, aqueles médicos, aquele subúrbio), o outro em que aquela história serve como metáfora de um problema mais generalizado: a sensação de insegurança e malestar crescente numa classe média suburbana e provida de uma afluência material e de um excesso de tempo livre que contrasta com a pobreza da sua vida interior, com a falta de objectivos e com o desinteresse geral da sua vida quotidiana, o que a leva a canalizar essa falta de sentido da vida numa série de medos absurdos, mal definidos e generalizados que acabam por ser o centro da sua vida. É nesse aspecto, e por essa leitura, que o filme se torna angustiante e que impressiona. Em relação à leitura mais estreita (a do caso particular contado), a minha visão é temperada por uma razoável experiência pessoal com doentes mais ou menos semelhantes, com os quais é muito difícil sentir empatia, pois nunca encontrei nenhum que fosse bonito como a Julianne Moore e são em geral pessoas auto-centradas, negativistas, sem capacidade de elaborar o sofrimento (nem aliás praticamente nada), e que se tornam extremamente destrutivas, corroendo tudo à sua volta, a começar pelas vidas dos familiares, sem qualquer consideração pelos sentimentos dos outros (aliás, o filme ilustra esses aspectos perfeitamente).
O final é como deve ser, em aberto, a melhor forma de terminar quer se faça uma ou outra leitura. É a melhor forma de nos pôr a pensar e de enfatizar o desconforto que o filme pretende causar.
Death Proof, de Quentin Tarantino
Gostei imenso do último filme de Tarantino, é daqueles casos em que se sai do cinema com a sensação de ter visto cinema a sério, puro entertainment. É uma homenagem divertida e afectuosa aos filmes de acção / série Z dos anos 70, mas tão bem feita e com com uma qualidade de diálogos, interpretações (e direcção de actores), planos e perspectivas, que é um filme bom, qual toque de Midas transformando o lixo em arte. A violência caricaturada deixa de ser chocante ou repulsiva, as sequências de perseguições automóveis são empolgantes. Kurt Russell está muito bom, mas sobretudo as actrizes estão todas extraordinárias (o serem pouco conhecidas torna-as ainda mais convincentes), e o filme está repleto de planos que apelam à nossa nostalgia por um certo cinema americano / ideia americana: as jukeboxes, as estações de serviço, os carros, os duplos, os sotaques texanos, os rednecks, as Lolitas belas, ordinárias e provocantes, com os seus calções reduzidos, longas pernas, pés de unhas mal pintadas, cabelos luxuriantes. E abanda sonora é espectacular - onde vai ele descobrir aquelas músicas todas?
Enfim, muito bom, causou-me uma impressão tão favorável como quando vi Pulp Fiction; manter esta vitalidade e pujanças mais de 10 anos passados é muito bom sinal.
Enfim, muito bom, causou-me uma impressão tão favorável como quando vi Pulp Fiction; manter esta vitalidade e pujanças mais de 10 anos passados é muito bom sinal.
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