Tem-me dado prazer ouvir este cd dos Muse, que ofereci no Natal à minha filha, seguindo o bom hábito de escolher presentes que agradem a quem recebe e a quem dá. Como alguém me disse, é um som muito torturado, a que eu prefiro chamar muito repassado de angústia da juventude, mas eu gosto deste género de música (e literatura, e cinema, caso quem me lê ainda não tenha percebido, o que duvido). Há alguns temas mais fracos, e ouvir o disco todo de seguida é um pouco cansativo, mas eles tocam muito bem e há algumas grandes músicas, como Starlight, Take a Bow ou Supermassive Black Hole.
terça-feira, março 27, 2007
segunda-feira, março 26, 2007
Les Nouveaux Libertins, de Pier Vittorio Tondelli
Há algum tempo, li Quartos Separados, de Pier Vittorio Tondelli, e gostei imenso, causou-me uma viva impressão, em grande parte por me identificar com a descrição do luto de uma relação que é das melhores que tenho lido. Desde então fiquei com vontade de ler mais livros do autor, mas nunca encontrara nada traduzido em Português e não sei ler italiano. Por isso foi com grande entusiasmo que li a tradução francesa de Altri Libertini, que estivera já n vezes à minha frente em casa de um amigo e em que eu estupidamente não reparara (tal como a de um outro, Pao Pao, que também já está na calha!).
Les Nouveaux Libertins é muito diferente de Quartos Separados; é claramente uma obra da juventude, cheia de pujança e raiva, um retrato da geração dele, acabada de sair da adolescência e ainda não instalada na vida, no final dos anos 70, repleta de angústia existencial e dúvidas, quando os ideiais dos anos 60 já tinham morrido e o optimismo materialista (de curta duração...) dos yuppies 80 ainda não começara (e não me parece que Tondelli aderisse aos yuppies...). A banda sonora poderia ser Smashing Pumpkins com Mellon Collie and the Infinite Sadness, mesmo sendo essa música de 15 anos depois, mas a angústia existencial da juventude é intemporal (vide Rimbaud ou Nizan).
A escrita é rápida, apressada, directa e poética, suponho que a tradução seja boa, tendo-me causado alguns problemas com o calão francês, em que não sou muito versado.
Próxima leitura: Pao Pao!
Les Nouveaux Libertins é muito diferente de Quartos Separados; é claramente uma obra da juventude, cheia de pujança e raiva, um retrato da geração dele, acabada de sair da adolescência e ainda não instalada na vida, no final dos anos 70, repleta de angústia existencial e dúvidas, quando os ideiais dos anos 60 já tinham morrido e o optimismo materialista (de curta duração...) dos yuppies 80 ainda não começara (e não me parece que Tondelli aderisse aos yuppies...). A banda sonora poderia ser Smashing Pumpkins com Mellon Collie and the Infinite Sadness, mesmo sendo essa música de 15 anos depois, mas a angústia existencial da juventude é intemporal (vide Rimbaud ou Nizan).
A escrita é rápida, apressada, directa e poética, suponho que a tradução seja boa, tendo-me causado alguns problemas com o calão francês, em que não sou muito versado.
Próxima leitura: Pao Pao!
domingo, março 25, 2007
Insinuações, ou o jornalismo de investigação à portuguesa - ou ainda bem que deixei de comprar o Público!
Inicialmente fui lendo umas vagas alusões na net (na blogosfera, como agora é tão bem dizer), mas não liguei ao assunto, por me parecer tratar-se de mais um dos muitos boatos mais ou menos maldosos que as pessoas adoram fazer circular. Mas há dias um amigo mostrou-me a peça de jornalismo de investigação do Público, e fiquei desgostado com a baixeza a que um jornal mainstream (pois não se trata propriamente do 24 Horas) chega - um daqueles desgostos inevitáveis que me provoca quase sempre o olhar com atenção para as manifestações mesquinhas da política portuguesa. Refiro-me obviamente à questão das dúvidas sobre a licenciatura de Sócrates.
A peça em causa é um exemplo acabado de um artigo de má fé, em que se enumeram uma série de pormenores burocráticos e minudências de carimbos e fotocópias e páginas numeradas ou não, em que, não demonstrando rigorosamente nada de substancial, se insinua do princípio ao fim que Sócrates ou falsificou a licenciatura ou a obteve de forma ilegal (por favores?). Qualquer pessoa minimamente familiarizada com a burocracia portuguesa sabe que este género de irregularidades de papelada são o pão nosso de cada dia - eu lido diariamente com n exemplos de processos perdidos, duplicados, números trocados, etc - aliás como é lógico que aconteça quando o número de papéis para tratar de qualquer assunto por mais insignificante que seja é sempre gigantesco. O que se deduz facilmente da trajectória académica de Sócrates é que cedo se desinteressou do curso para ingressar na política, e que tratou mais tarde de o terminar da forma mais fácil para despachar o assunto e ter um canudo, o que revela uma certa parolice mas nada mais do que isso. Certamente não será grande engenheiro, com um curso despachado ás três pancadas numa universidade privada e nunca tendo exercido, mas obviamente não é na engenharia que tenciona fazer a sua vida e esses seus dotes não têm qualquer interesse para os cargos que tem desempenhado.
Ou seja, o Público decidiu denegrir o primeiro-ministro, e fê-lo dando visibilidade a insinuações maldosas, que continuam a não passar disso mesmo. A meu ver, está perfeitamente ao nível da história do boato da homossexualidade de Sócrates, que só nunca foi abertamente discutida na imprensa mainstream por ser considerado um tema indecente / obsceno. Enfim, uma tristeza.
A peça em causa é um exemplo acabado de um artigo de má fé, em que se enumeram uma série de pormenores burocráticos e minudências de carimbos e fotocópias e páginas numeradas ou não, em que, não demonstrando rigorosamente nada de substancial, se insinua do princípio ao fim que Sócrates ou falsificou a licenciatura ou a obteve de forma ilegal (por favores?). Qualquer pessoa minimamente familiarizada com a burocracia portuguesa sabe que este género de irregularidades de papelada são o pão nosso de cada dia - eu lido diariamente com n exemplos de processos perdidos, duplicados, números trocados, etc - aliás como é lógico que aconteça quando o número de papéis para tratar de qualquer assunto por mais insignificante que seja é sempre gigantesco. O que se deduz facilmente da trajectória académica de Sócrates é que cedo se desinteressou do curso para ingressar na política, e que tratou mais tarde de o terminar da forma mais fácil para despachar o assunto e ter um canudo, o que revela uma certa parolice mas nada mais do que isso. Certamente não será grande engenheiro, com um curso despachado ás três pancadas numa universidade privada e nunca tendo exercido, mas obviamente não é na engenharia que tenciona fazer a sua vida e esses seus dotes não têm qualquer interesse para os cargos que tem desempenhado.
Ou seja, o Público decidiu denegrir o primeiro-ministro, e fê-lo dando visibilidade a insinuações maldosas, que continuam a não passar disso mesmo. A meu ver, está perfeitamente ao nível da história do boato da homossexualidade de Sócrates, que só nunca foi abertamente discutida na imprensa mainstream por ser considerado um tema indecente / obsceno. Enfim, uma tristeza.
O Bom Alemão, de Steven Soderbergh
The Good German é um bom film noir, com uma estética muito eficazmente apelativa por reproduzir o visual dos filmes dos anos 40, evocando assim Casablanca (homenageado na cena final) e um sem número de outros filmes sobre a 2ª Guerra Mundial e policiais negros. A história é igualmente típica de film noir, lembrando também uma série de filmes da e sobre a época. Talvez precisamente pelo grande cuidado na forma estética do filme, é sobretudo isso que fica - o prazer de ver um film noir género anos 40, sobre a 2ª Guerra e os Nazis - mais do que o conteúdo, mesmo que este possa ser igualmente relevante - o problema das culpas dos alemães e a forma como lidaram com elas depois do final da guerra, e a amoralidade dos vencedores dividindo o espólio.
sábado, março 24, 2007
Desce, Moisés, de William Faulkner
Continuo a reler os livros do ciclo de Yoknapatawpha (e a ler pela primeira vez alguns deles). Desce, Moisés não é dos meus favoritos, mas é muito bom e gostei muito de o reler, são histórias poderosas e magnificamente escritas (as minhas favoritas são Foi e O Urso), e essenciais para a compreensão do dramático universo sulista de Faulkner. Tal como Absalão, Absalão! é o romance dos Sutpen, O Som e a Fúria dos Compson, Sartoris e Os Invencidos dos Sartoris, The Hamlet, The Town e The Mansion dos Snopes, este é o dos McCaslin, brancos e negros. Aliás, o retrato de Faulkner dos negros do Sul do seu tempo é curioso - simultaneamente condescendente e admirativo, muito pouco politicamente correcto (ou mesmo racista) e afectuoso, tratando-os como forças da Natureza de uma humanidade mais primitiva e ao mesmo tempo mais pura do que os brancos, que são sempre atormentados por uma espécie de culpa / maldição de Caim.
sexta-feira, março 23, 2007
Notes on a Scandal, de Richard Eyre
Gostei bastante deste filme, que é interessante não só pela soberba interpretação de Judi Dench como pela história e os problemas que levanta - as relações obsessivas e assimétricas, o desejo não correspondido, a solidão, a dificuldade em aceitar a vida como ela é e o desejo de aventura e de significado, o sexo antes dos 18 anos... Apesar de ambas as personagens principais serem convencionalmente negativas - a solteirona lésbica frustrada e intriguista, a bela loura em crise de envelhecimento irresponsável e auto-indulgente - são-nos apresentadas de uma forma que nos leva a sentir simpatia por elas e empatia pelo seu comportamento (pessoalmente, não consegui evitar uma certa identificação com o medo da solidão e o desejo não correspondido da personagem de Judi Dench e com a sensação de meaninglessness of life e a auto-indulgência em ceder ao desejo de transgressão da personagem de Cate Blanchett). Quanto às questões do sexo antes dos 18 anos, dá tanto pano para mangas que é melhor deixá-la para outra altura.
quinta-feira, março 22, 2007
Parêntesis
Nos últimos tempos, uma crise depressiva fez-me interromper a escrita no blog - aliás, fez-me interromper uma série de actividades em geral. Em relação ao blog, fui assaltado pelas dúvidas recorrentes: mas que raios interessa o que eu escrevo? Quem se rala com as minhas opiniões ou ideias? Para quê estas elucubrações pretenciosas de um diletante? Talvez o melhor seja deixar de escrever e de encher ainda mais o ciberespaço que, assim como assim, já abunda em escritas sem interesse.
Com a acalmia dos humores, volta a disposição habitual. Sim, de facto a minha opinião é certamente irrelevante para quase toda a gente. Mas escrever sabe-me bem e, por outro lado, se eu gosto de percorrer blogs alheios e ler os escritos de outras pessoas sobre os mais variados assuntos, porque não hão-de algumas pessoas gostar uma vez por outra de ler os meus? E deste modo são já dois bons motivos para escrever quando me apetece.
Além disso, o dia hoje soube-me finalmente a Primavera - nem o calor doentio de há uma semana nem o frio insano que fez a seguir. Assim, acho que vou continuar a escrever. E deixo mais uma vez este poema de Susan Coolidge, que acho que já transcrevi aqui algures, mas cujo espírito é sempre bom relembrar - talvez a repetição me faça integrá-lo!
New Every Morning
Every day is a fresh beginning.
Listen my soul to the glad refrain.
And, spite of old sorrows
And older sinning,
Troubles forecasted
And possible pain,
Take heart with the day and begin again.
terça-feira, março 13, 2007
Valsas Nobres e Sentimentais, de Frederico Lourenço
Mais um livrinho de Frederico Lourenço, como sempre agradável de ler, embora me pareça que é uma recolha um pouco feita à pressão e enfeitada de um título poético e vistoso; provavelmente a publicação fez-se mais para aproveitar o facto de ele vender bem do que propriamente por haver um interesse na reunião dos textos.
Mais uma vez Frederico Lourenço escreve sobretudo sobre si próprio, o que não é um defeito mas convida a que o leitor sinta alguma afinidade com ele para apreciar a leitura. O que me leva a questionar: qual afinal a minha afinidade com o autor? Existe, indubitavelmente, em vários aspectos. E como é natural aquilo que aprecio menos são os aspectos em que discordo dele ou não o compreendo. Por exemplo, nunca fui apreciador de ópera e os meus conhecimentos de música são mais que limitados, pelo que não me prendem especialmente os textos entusiásticos sobre Elisabeth Schwarzkopf ou as considerações eruditas sobre ópera ou música clássica. Um certo snobismo aristocrático do autor, que adora referir as celebridades da sua intimidade, irrita-me um pouco, embora simpatize com a forma como ele transforma isso em crítica irónica do meio e dele próprio. E aquilo em que mais discordo dele é sem dúvida o seu catolicismo, que continuo a achar absurdo em qualquer pessoa que seja inteligente e consciente.
Quanto aos aspectos que eu aprecio: gosto da sua escrita e da sua cultura, da forma como lê e comenta as leituras (e em geral aquilo de que gosta), da sua paixão pela Grécia e a literatura clássica que também partilho, da sua abordagem franca e sensata da sexualidade. Estas qualidades compensam largamente (pelo menos nos livros, obviamente desconheço o autor como pessoa) os pontos de desacordo citados, mesmo o principal, o religioso. Anos atrás, talvez essa discordância fundamental me tivesse afastado de o ler, mas cada vez sou menos militante e mais consciente da complexidade e diversidade das coisas / pessoas / situações. E penso que globalmente fico a ganhar com isso.
Mais uma vez Frederico Lourenço escreve sobretudo sobre si próprio, o que não é um defeito mas convida a que o leitor sinta alguma afinidade com ele para apreciar a leitura. O que me leva a questionar: qual afinal a minha afinidade com o autor? Existe, indubitavelmente, em vários aspectos. E como é natural aquilo que aprecio menos são os aspectos em que discordo dele ou não o compreendo. Por exemplo, nunca fui apreciador de ópera e os meus conhecimentos de música são mais que limitados, pelo que não me prendem especialmente os textos entusiásticos sobre Elisabeth Schwarzkopf ou as considerações eruditas sobre ópera ou música clássica. Um certo snobismo aristocrático do autor, que adora referir as celebridades da sua intimidade, irrita-me um pouco, embora simpatize com a forma como ele transforma isso em crítica irónica do meio e dele próprio. E aquilo em que mais discordo dele é sem dúvida o seu catolicismo, que continuo a achar absurdo em qualquer pessoa que seja inteligente e consciente.
Quanto aos aspectos que eu aprecio: gosto da sua escrita e da sua cultura, da forma como lê e comenta as leituras (e em geral aquilo de que gosta), da sua paixão pela Grécia e a literatura clássica que também partilho, da sua abordagem franca e sensata da sexualidade. Estas qualidades compensam largamente (pelo menos nos livros, obviamente desconheço o autor como pessoa) os pontos de desacordo citados, mesmo o principal, o religioso. Anos atrás, talvez essa discordância fundamental me tivesse afastado de o ler, mas cada vez sou menos militante e mais consciente da complexidade e diversidade das coisas / pessoas / situações. E penso que globalmente fico a ganhar com isso.
segunda-feira, março 12, 2007
Quadromania
Mais uma série de cds de jazz que descobri na Fnac - Quadromania, que tem colectâneas de 4 cds de vários artistas / bandas. Comnprei as de Benny Goodman - Get Happy - e de Louis Armstrong - High Society. Têm uma boa selecção de músicas, são baratas, e foi uma delícia voltar a ouvir temas que não ouvia há muito tempo, como A Kiss to Build a Dream On pelo Louis Armstrong, e sobretudo o Benny Goodman, verdadeiro rei do swing e cuja música merece bem o título Get Happy, pois quem pode ficar triste ao ouvi-la?
domingo, março 11, 2007
Revivalismos
Os revivalismos são de todos os tempos; quando eu era adolescente a moda era o revivalismo dos anos 60. Agora, como é natural, é o dos anos 80. À partida, acho um fenómeno positivo - por um lado é um prazer tornar a ouvir músicas já esquecidas e que constituíram a banda sonora da nossa vida passada, muitas vezes de momentos que nostalgicamente sabe bem reviver, por outro lado o relembrar de estéticas passadas contribui para a inspiração e construção de estéticas novas, além de ser igualmente interessante a recriação de velhos temas em novas versões. No entanto, como muitas vezes acontece, a procura indiscriminada do revivalismo faz ressuscitar coisas que melhor seria deixar esquecidas no seu tempo, pois ao mostrar como estão irremediavelmente datadas salienta a sua falta de qualidade. Ou seja, o que era mau há 20 anos continua a ser mau, e geralmente ainda pior porque sem o efeito da novidade nem o contexto em que de alguma forma fez sentido na altura em que apareceu.
Vem isto a propósito da recente injecção de música dos Heróis do Mar a que temos sido sujeitos na rádio por ocasião do documentário Brava Dança. Não vi o documentário, e até pode ser interessante, embora as críticas que tenho visto não me façam esperar grande coisa. Mas ouvir os Heróis do Mar a torto e a direito e ouvi-los enaltecidos como um grande acontecimento musical tem sido verdadeiramente constrangedor - é que eram mesmo fracos, e a música ouvida agora ainda soa mais completamente medíocre do que nso anos 80, em que era rodeada de um certo aparato e controvérsia que teve mais impacto que a própria música (aliás suponho que seja essa a razão de ser do documentário). Os mesmo comentários se aplicam aliás à ressurreição dos Duran Duran, outra banda irremdiavelmente datada e completamente medíocre, que na época teve algum impacto folclórico mas que de facto não tinha qualidade que justifique uma audição 20 anos depois, e ainda por cima apelidada por rádio como a Radar de "o som alternativo da década de 80"! è que nos anos 80 os Duran Duran era o que de mais mainstream havia, ou então sou eu que tenho uma ideia muito diferente do conceito de alternativo. Mas agora está na moda aplicar esse adjectivo a tudo e mais alguma coisa, nomeadamente ao kitsch, que era isso mesmo - kitsch. E transitório e perecível - felizmente.
quarta-feira, março 07, 2007
Correspondência Jorge de Sena / Sophia de Mello Breyner Andresen
Achei interessante esta correspondência, pelo retrato de época que representa e pelo que permite conhecer de dois escritores interessantes como Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner. Conheço alguma coisa da poesia de Sophia (gosto muito de Geografias), os seus contos e os livros para crianças; já de Jorge de Sena conheço muito pouco, apenas alguns poemas e as traduções de Emily Dickinson, Cavafis e de Palmeiras Bravas de Faulkner. E gostava de preencher essa lacuna, porque dos dois ele parece-me de longe o mais interessante, com uma obra variada que abarca um largo espectro literário, um muito bom gosto na escolha dos temas que tratou, uma visão amarga e desencantada de Portugal com a qual foi profundamente coerente. É esta uma das vantagens dos livros - uns levam-nos a outros, fazendo-nos descobrir conhecimentos e sensibilidades, alargando a nossa visão do mundo e das coisas.
terça-feira, março 06, 2007
Raças...
O meu novo cãozinho é um perdigueiro português. Não é uma das raças mais populares entre cães domésticos / de companhia, de modo que muita gente não conhece. Mas, como um cachorrinho brincalhão atrai sempre a atenção e desperta simpatia, quando ando com ele na rua, ouço sempre os comentários habituais: !Que giro, é tão engraçado!", geralmente logo seguido do palpite sobre a raça, que uns 75% das vezes é: "É um boxer, não é? São tão engraçados..." E lá esclareço eu: "Não, é um perdigueiro português...", e a deixa seguinte é quasae invariavelmente (as pessoas adoram pensar que conhecem intimamente as raças caninas): "Ah, é que costumam ser mais escuros, e com uma cabeça diferente...", ao que eu não respondo que o meu por acaso é descendente de uma série de campeões de concursos, pelo que seguramente é um perdigueiro mais que típico...
Para diminuir um pouco a confusão nos espíritos entre os boxers e os perdigueiros portugueses, aqui ficam fotos dos dois, onde penso que se distinguem facilmente as diferenças: as mais óbvias são que os boxers são maiores, de focinho bem mais curto e babam-se. São também bastante mais eléctricos que os perdigueiros.
Mas que o confundam com um boxer, ainda vá lá, a cor é parecida e em pequenos algumas das diferenças ainda podem não ser muito notórias (como o tamanho e o babarem-se, embora o tamanho e forma do focinho seja bastante diferente). Mas que o confundam com um pitbull!! É que nuns outros 20% dos casos, o comentário é : "É um pitbull, não é?" (os 5% restantes são os iluminados que reconhecem um perdigueiro, sempre com grande satisfação) Além de muito mais feios, são mais pequenos, atarracados e agressivos. Aqui fica também uma foto de um pitbull, e tive o cuidado de escolher uma em que as parecenças com perdigueiros sejam máximas!
De resto, estas confusões para mim não são novidade, durante 16 anos tive de esclarecer n vezes que o meu épagneul bretão não era um cocker spaniel... Como é possível confundirem-se cães tão diferentes?
E para terminar, aqui fica a foto do cão em questão - e é sem dúvida nenhuma um perdigueiro português, e lindo. E de qualquer forma a questão das raças é secundária, o que interessa mesmo é um cão ser afectuoso, simpático e já agora bonito.
Para diminuir um pouco a confusão nos espíritos entre os boxers e os perdigueiros portugueses, aqui ficam fotos dos dois, onde penso que se distinguem facilmente as diferenças: as mais óbvias são que os boxers são maiores, de focinho bem mais curto e babam-se. São também bastante mais eléctricos que os perdigueiros.
Mas que o confundam com um boxer, ainda vá lá, a cor é parecida e em pequenos algumas das diferenças ainda podem não ser muito notórias (como o tamanho e o babarem-se, embora o tamanho e forma do focinho seja bastante diferente). Mas que o confundam com um pitbull!! É que nuns outros 20% dos casos, o comentário é : "É um pitbull, não é?" (os 5% restantes são os iluminados que reconhecem um perdigueiro, sempre com grande satisfação) Além de muito mais feios, são mais pequenos, atarracados e agressivos. Aqui fica também uma foto de um pitbull, e tive o cuidado de escolher uma em que as parecenças com perdigueiros sejam máximas!
De resto, estas confusões para mim não são novidade, durante 16 anos tive de esclarecer n vezes que o meu épagneul bretão não era um cocker spaniel... Como é possível confundirem-se cães tão diferentes?
E para terminar, aqui fica a foto do cão em questão - e é sem dúvida nenhuma um perdigueiro português, e lindo. E de qualquer forma a questão das raças é secundária, o que interessa mesmo é um cão ser afectuoso, simpático e já agora bonito.
As Vidas dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck
Não sabia nada sobre este filme quando o fui ver, tendo-me sido recomendado por um amigo. E talvez por o ter visto sem qualquer ideia preconcebida o seu impacto foi violento. Com efeito, impressionou-me vivamente. É um filme muito bom, com um ambiente opressivo e angustiante, sobre a censura e o controlo exercido antes da queda do Muro na RDA pela Stasi, neste caso sobre os artistas mas que obviamente se pode generalizar a toda a população. O argumento é excelente, as personagens extremamente bem construídas e interpretadas, o desenrolar da história engenhoso e convincente, com a evolução da personagem do agente da Stasi a ilustrar todo o absurdo e carácter errado e maligno do sistema.
Causa calafrios pensar que até há 30 anos devia ser assim o ambiente que se vivia em Portugal sob o fascismo e a PIDE; felizmente eu era demasiado pequeno para me aperceber, e infelizmente a maioria das pessoas esqueceu-se completamente desse aspecto - fulcral - do antigo regime, de como é viver num clima de medo e desconfiança, sob uma ditadura corrupta e medíocre (como todas são, desde o início ou a certa altura da sua evolução).
Quando pensava mais tarde no filme, não pude deixar de estabelecer uma comparação com a história de Little Children , que também vi recentemente: comparar pessoas verdadeiramente encurraladas por uma ditadura com as que, por imaturidade e falta de coragem, se consideram encurraladas numa sociedade livre e provida de oportunidades. Será que a liberdade e a prosperidade material têm forçosamente de gerar frivolidade e infantilização? E olho novamente para Portugal, para a classe média que me rodeia e parece ser essa a desanimadora conclusão que se impõe.
Este é o segundo filme excelente sobre a RDA à volta da transição para a democracia, depois de Adeus, Lenine. Porque é que em Portugal ninguém faz o equivalente?
segunda-feira, março 05, 2007
Jornais
Nunca fui um grande leitor de jornais, sempre me limitei a ler os títulos, percorrer as páginas na diagonal, lendo sobretudo artigos de opinião, crónicas, por vezes críticas. Gosto de estar informado, mas nunca senti uma grande necessidade de saber muitos pormenores e sempre achei aborrecidos os detalhes dos artigos políticos e económicos. No entanto, gosto de dar uma vista de olhos diária a um jornal, e de me sentar com um numa esplanada ou café ao fim-de-semana, quando tenho mais tempo. Ora infelizmente o nosso panorama jornalístico é verdadeiramente pobre, em quantidade mas sobretudo em qualidade, e já há muito tempo, e na minha opinião tem vindo a piorar progressivamente nos últimos anos. Há muito tempo, costumava ler o Expresso ao fim-de-semana, mas deixei de o fazer há anos, saturado dos editoriais de José António Saraiva, que se tinham tornado verdadeiramente insuportáveis; um dia pensei: "nunca mais compro esta porcaria" e assim foi. Confesso que ainda não o li desde a saída de J.A. Saraiva. Em contrapartida, comprei o 2º número do Sol e achei-o péssimo, e umas espreitadelas ocasionais a números posteriores não me fizeram melhorar nada essa impressão. Leio a Visão regularmente, mas sempre a achei um tanto frívola e desinteressante, uma espécie de versão empobrecida do pior da Time.
Restam os diários. Durante anos, o Público era o que eu lia com mais frequência, comprava-o aos fins-de-semana e lia-o diariamente na net. Mas está a acontecer o mesmo que com o Expresso: a qualidade tem vindo a diminuir, os colunistas melhores a debandar, os que ficam a repetirem-se (mesmo as diatribes do Vasco Pulido Valente, que me davam tanto gosto ler, estão a tornar-se enfastiantes de tão repetitivas e previsíveis). A recente reestruturação foi a machadada final (até o logotipo perderam!) - este domingo tive o mesmo pensamento que anos atrás com o Expresso. Nem sequer o fim da insuportável Xis nos livrou de Laurinda Alves! Por coincidência (e porque o Público de facto não tinha nada que ler), comprei também o Diário de Notícias, que leio ocasionalmente na net e não compro há anos (graças aos tempos do inenarrável Luís Delgado), e agradou-me bastante mais. Acho que vou experimentar mudar de jornal... apesar de ter uma grande resistência a comprar uma publicação onde escreve o João César das Neves. Quanto ao Público, talvez mantenha a 6ª feira, para ler o Ípsilon, que amalgamou o Mil Folhas e o Y, que eram bons suplementos.
Enfim, que panorama jornalístico tão pouco estimulante.
Restam os diários. Durante anos, o Público era o que eu lia com mais frequência, comprava-o aos fins-de-semana e lia-o diariamente na net. Mas está a acontecer o mesmo que com o Expresso: a qualidade tem vindo a diminuir, os colunistas melhores a debandar, os que ficam a repetirem-se (mesmo as diatribes do Vasco Pulido Valente, que me davam tanto gosto ler, estão a tornar-se enfastiantes de tão repetitivas e previsíveis). A recente reestruturação foi a machadada final (até o logotipo perderam!) - este domingo tive o mesmo pensamento que anos atrás com o Expresso. Nem sequer o fim da insuportável Xis nos livrou de Laurinda Alves! Por coincidência (e porque o Público de facto não tinha nada que ler), comprei também o Diário de Notícias, que leio ocasionalmente na net e não compro há anos (graças aos tempos do inenarrável Luís Delgado), e agradou-me bastante mais. Acho que vou experimentar mudar de jornal... apesar de ter uma grande resistência a comprar uma publicação onde escreve o João César das Neves. Quanto ao Público, talvez mantenha a 6ª feira, para ler o Ípsilon, que amalgamou o Mil Folhas e o Y, que eram bons suplementos.
Enfim, que panorama jornalístico tão pouco estimulante.
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