quarta-feira, julho 28, 2010
Dois livros de Paul Gauguin
Li recentemente Oviri- Écrits d'un Sauvage e Avant et Après, de Paul Gauguin. As partes mais interessantes do segundo estão incluídas no primeiro, que é uma excelente selecção - correspondência, artigos, memórias, e o fabuloso relato sobre o Taiti "Noa Noa".
Gosto imenso da obra de Gauguin, e os seus escritos ajudam a compreendê-la melhor, e ao homem. Apesar de repetidamente se intitular "um selvagem", Gauguin revela-se profundamente civilizado, naquilo que a civilização tem de melhor - a inteligência, a moral, a arte, a busca do conhecimento e da compreensão; e se tentou fugir àquilo que odiava na civilização do seu tempo (aliás, de todos os tempos) - a hipocrisia, a mesquinhez, a pequena autoridade, a igreja - manteve-se sempre em contacto com o seu mundo de origem, e é tocante imaginá-lo doente e refugiado nos trópicos, o mais longe possível da Europa, a ler atentamente o Mercure de France.
Tal como no caso de van Gogh, cuja correspondência com o irmão me levou a procurar estes livros de Gauguin, é deprimente pensar na ironia das dificuldades económicas por que passaram e nos preços obscenos que os seus quadros atingem hoje em dia - pagos pelo mesmo tipo de pessoas que os desprezavam quando eram vivos.
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