Mais um livro sobre Istambul, desta vez de Orhan Pamuk, de quem já li O Meu Nome é Vermelho e Neve. Gostei muito - o autor insere as suas memórias pessoais de natural de Istambul com a história da própria cidade, apresentada numa série de pequenos episódios, histórias, pontos de vista de estrangeiros e de escritores nativos, profusamente ilustrada com velhas fotografias a preto e branco e gravuras do século XIX. Istambul é-nos assim descrita como um puzzle, um mosaico, em que o elemento principal é uma tristeza / nostalgia do glorioso passado imperial otomano perdido, de um desejo de ocidentalização sobreposto a uma cultura extremamente rica e original mas decadente, simbolizada pelas yalis e konaks, as velhas mansões de madeira otomanas, que vão desaparecendo em incêndios. Essa tristeza / nostalgia istambulense, hüzün, permeia todo o livro, tal como o amor pela cidade e os contrastes que a definem. Talvez para um habitante de Lisboa, uma cidade também assombrada por um passado glorioso perdido, embora mais longínquo, seja mais fácil compreender a essência do hüzün. Estou satisfeito por ter deixado a leitura deste livro para depois de ter visitado Istambul e visto as ruas de Fener e as casas de madeira arruinadas - as que restam. Muito bom.
terça-feira, novembro 09, 2010
segunda-feira, novembro 08, 2010
I Claudius - a série da BBC
Vi esta série da BBC aos 13 anos, ainda na televisão a preto e branco, e foi na altura uma revelação - fiquei fascinado, o mundo romano, que até então conhecia dos livros do Astérix e dos volumes de uma história universal para crianças, ganhou de repente vida, naquela história cheia de intriga, excessos, violência. Li o livro de Robert Graves assim que foi publicado pela Bertrand, depois os 12 Césares de Suetónio que estava na biblioteca do meu pai, muito mais tarde os Anais de Tácito e a História Augusta, entre muitos outros livros e filmes sobre a época romana. Nunca mais tinha visto a série, até agora a rever em dvd. Em alguns aspectos envelheceu um pouco - toda filmada em estúdio, a técnica da caracterização evoluiu imenso desde então, mas globalmente continua excelente. O livro está muito bem adaptado, a série conserva a combinação de humor e horror que torna o livro de Graves tão cativante, e as interpretações, se bem que por vezes um tanto teatrais, são no conjunto soberbas: Derek Jacobi como Cláudio, Siân Phillips como Lívia, John Hurt como Calígula, Patrick Stewart como Sejano, etc. É sempre um prazer rever esta série, é de facto excelente.
sexta-feira, novembro 05, 2010
Aziyadé, de Pierre Loti
Nunca tinha lido de Pierre Loti, mas fiquei com vontade de o fazer, depois de ter estado no Café Pierre Loti em Istambul, de modo que procurei no inesgotável gutenberg project e li online o livrinho Aziyadé, de 1879, sobre a sua estadia nessa cidade. É um texto agradável, de um orientalismo muito à século XIX, repassado de uma nostalgia sensual, e que é engraçado ler conhecendo os lugares evocados - Eyüp, os cemitérios, o Bósforo, o bairro de Pera (actual Beyoglu), Fener, o Corno de Ouro - e imaginá-los no final do período otomano, quando o Império, já em plena decadência, era o sick man of Europe.
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