
sexta-feira, novembro 28, 2008
O Palácio do Desejo, de Naguib Mahfouz

terça-feira, novembro 25, 2008
Museu Nacional de Arqueologia

O Museu Nacional de Arqueologia é pequeno, mas vale bem uma visita. Para já, fica numa excelente localização - o Mosteiro dos Jerónimos, um dos monumentos mais bonitos de Portugal, numa das zonas mais bonitas de Lisboa - e a colecção, sendo pequena, tem peças muito interessantes. A colecção egípcia é modesta mas as peças são boas - melhor em Lisboa, só na Gulbenkian - e incluem a única múmia que penso haver no nosso país - fraco, se se pensar nas dezenas de múmias do British Museum, por exemplo, mas sempre é uma amostra. A sala do tesouro tem uma boa colecção de peças de ouro, com muitos belos torques e um colar belíssimo que parece uma obra de arte moderna, e a colecção romana é pequena mas bem representativa. Para terminar, a loja é bastante boa, e pode-se sempre aproveitar para visitar a igreja do mosteiro e o claustro, um dos mais belos da Europa.



segunda-feira, novembro 24, 2008
Satisfações

Depois de um dia de intenso trabalho, apesar do cansaço físico, fica-me sempre uma agradável sensação de satisfação e de realização. Não é só pelo sentimento de obrigação cumprida ligado à ética protestante de que por vezes sou acusado, ou pelo facto da imersão no trabalho me fazer abstrair de outros problemas. É porque gosto realmente do meu trabalho. Nunca me arrependi da especialidade que escolhi; pelo contrário, quanto mais passam os anos e aumenta a experiência mais me congratulo pelo acerto da escolha. Combina todos os elementos que aprecio e me estimulam na Medicina: uma matéria intelectualmente estimulante, doentes graves pelos quais se pode fazer alguma coisa, seguimento longitudinal de doentes crónicos, o que permite uma relação humana e familiar que é uma das satisfações da profissão, e o exercício de técnicas e intensivismo qb. Hoje apeteceu-me escrever sobre isto porque na minha última urgência tive uns poucos de doentes muito graves, um deles num estado de instabilidade com o qual felizmente não tenho de lidar todos os dias, do tipo em que se sente que cada gesto ou decisão, a cada 10 minutos, faz diferença. Acho que só quem tenha trabalhado em cuidados intensivos percebe bem o que se sente nessas alturas, são momentos simultaneamente angustiantes e exaltantes, pela responsabilidade e pelo imediatismo dos efeitos das nossas acções.
Ao contrário do que muita gente pensa, incluindo médicos, o trabalho numa unidade de cuidados intensivos é a maior parte do tempo bastante rotineiro e calmo, e a ausência de contacto com doentes que falam, e sobretudo a falta de seguimento longitudinal de doentes crónicos, nunca me atraiu particularmente. É por isso também que a minha especialidade me faz sentir realizado - lido com doentes graves, por vezes com as emoções do intensivismo, mas mantendo o contacto pessoal com os doentes que também me é tão gratificante. Sempre gostei imenso dos tempos de consulta, em que num período limitado de tempo se tenta orientar os problemas dos doentes da melhor forma que sabemos. E sinto uma especial satisfação ao reencontrar, ao longo de meses e anos, pessoas que vou conhecendo cada vez melhor, com as quais se estabelecem laços de uma certa intimidade e às quais sinto que faço alguma dferença, ao contribuir de alguma forma, mesmo que muitas vezes incompleta e limitada, para o seu bem estar.
Enfim, alegrias da Medicina...
sexta-feira, novembro 21, 2008
(Uma espécie de) Marley & Eu
Ele não se chama Marley, nem é um labrador (nem um boxer, ao contrário do que muita gente pensa, mas sim um perdigueiro português). Mas faz-me no entanto lembrar muitas vezes do protagonista do livro de John Grogan. Não é muito esperto, é muito bruto, e nos seus meses de maior energia de cachorrice revelou-se um verdadeiro vândalo, esventrando sofás, despedaçando almofadas, estraçalhando colchas e lençóis, roendo até paredes. Muitas vezes me provocou acessos de desespero e houvemomentos em que maldisse a hora em que decidi dar um sucessor ao meu saudoso épagneul breton.
Mas é tão bonzinho, tão meigo e afectuoso, que quando se encosta a mim a pedir festas e passo as mãos pelo seu focinho macio e quente lhe perdoo tudo. Ou quando me olha com aqueles olhos claros tão incondicionalmente dedicados, ou quando franze o sobrolho de um modo que lhe dá uma expressão tão cómica de seriedade num cão tão pateta. Derreto-me e penso que ao fim e ao cabo posso sempre substituir as almofadas e, agora que ele já fez 2 anos e acalmou bastante, posso esperar pela Primavera para estucar e pintar de novo as paredes. Será que, como diz a minha empregada russa, tenho mesmo "um coração mole"? Talvez, em certos aspectos.
segunda-feira, novembro 17, 2008
Outono

Gosto do Outono. Gosto das folhas secas a cair e espalhadas pelo chão, do cheiro da terra molhada depois das primeiras chuvas. Mas sobretudo gosto do regresso do frio, das manhãs límpidas e húmidas em que uma neblina suave cobre o rio, revelando ao desvanecer-se um azul limpo e claro. Lisboa tem uma luz espectacular, seja de manhãzinha ou ao fim da tarde, quando as casas e as igrejas ficam douradas por uma luz quente e avermelhada. É um verdadeiro repouso para os sentidos, depois da luz forte e do calor opressivo do Verão. Não que este Verão tenha sido muito quente, foi felizmente misericordiosamente benigno. Que me perdoem os frustrados adeptos da praia e do calor, mas o frio sabe-me muito melhor.
domingo, novembro 16, 2008
Guerra, SA, de Joshua Seftel

quinta-feira, novembro 13, 2008
A propósito de uma citação de Chateaubriand

d'hypocrite et d'ambitieux me connaissent peu: je ne réussirai jamais
dans le monde, précisément parce qu'il me manque une passion et un
vice, l'ambition et l'hypocrisie. La première serait tout au plus chez
moi de l'amour-propre piqué; je pourrais désirer quelquefois être
ministre ou roi pour me rire de mes ennemis; mais au bout de
vingt-quatre heures je jetterais mon portefeuille et ma couronne par
la fenêtre.
Senti-me identificado com esta passagem. Com efeito, a hipocrisia é-me extremamente difícil, sou constantemente censurado por ser demasiado franco, "desbocado" mesmo; padeço talvez de um espírito crítico demasiado afiado, e não tenho pejo de exprimir as minhas opiniões nem de desmascarar a mediocridade. Em relação à ambição, também me falta, pelo menos aquela que é necessária para ter sucesso (para réussir dans le monde, como diria Saint-Simon). Quando era mais jovem, e comecei a trabalhar, era muito mais ambicioso, achava que tinha capacidade para réussir dans le monde e esperava consegui-lo; mas à medida que fui conhecendo esse "mundo" (no meu caso, o dos colégios de especialidade, universidade, Ordem dos Médicos), este pareceu-me tão ridículo, afectado e medíocre (parochial é um bom adjectivo), como dizia um antigo chefe meu, tão imbuído de um espírito jesuitico-coimbrão, que cedo achei que seria inútil sequer tentar alterá-lo. Mantenho-me assim de certa forma um outsider - faço o que acho correcto, exponho as minhas opiniões sem vergonha, e contento-me com o meu trabalho que me realiza e me faz sentir bem. Lembro-me da primeira - e última - assembleia do colégio da especialidade a que assisti. Senti-me de tal forma deslocado perante o acervo de hipocrisia e politiquices ridículas que decidi nunca mais comparecer. E penso que, infelizmente, este espírito não é exclusivo da classe médica, é uma característica do provincianismo nacional, e está de tal forma arreigado que penso que não desaparecerá nas próximas gerações. Lembro-me de pensar na altura que o motivo porque estas vetustas instituições (neste caso a Ordem dos Médicos e os colégios de especialidade, mas penso que se aplica às instituições portuguesas em geral) nunca mudam é porque as únicas pessoas que têm paciência para fazer parte delas são aquelas que pensam da mesma forma, e portanto vão perpetuando o status quo. Claro que há aqui e ali um espírito mais corajoso e empreendedor, que luta contra a corrente, mas infelizmente eu não tenho a apersistência suficiente para ser um deles. Limito-me a agir na minha esfera imediata de influência, que é bem pequena, e não é com orgulho que o afirmo. De qualquer forma, acho que é melhor que nada.
terça-feira, novembro 11, 2008
O Meu Nome é Vermelho, de Orhan Pamuk


quarta-feira, novembro 05, 2008
Um bom resultado, para variar!

Finalmente, um bom resultado nas eleições americanas, depois do golpe constitucional de 2000 e do desastre de 2004 que nos deram 8 anos de um dos piores presidentes de sempre. Sabe bem acordar com uma perspectiva optimista, mesmo sabendo que as coisas não vão mudar de um dia para o outro. Mas é sem dúvida uma grande melhoria! Para já, congratulemo-nos com a vitória de Obama e com o bom sinal de os americanos se terem mobilizado para votar na mudança e contra a política de Bush.
domingo, novembro 02, 2008
Uma visita ao Museu Berardo

Fui hoje pela primeira vez ver o Museu Berardo, instalado no CCB. Penso que a exposição actual da colecção, Não te Posso Ver Nem Pintado, é apenas uma parte, espero que não a melhor. Quando vejo estas exposições, fico sempre com a ideia de que a arte contemporânea está num beco sem saída, de que há uns 50 ou 60 anos que não há ideias novas e de que, embora aqui e ali se encontrem trabalhos interessantes (e também vi alguns hoje), a esmagadora maioria é confrangedoramente má, sofrendo da tentativa patética de impressionar, chocar, ou de procurar uma originalidade postiça. Talvez eu seja muito filisteu, mas de facto este tipo de arte raramente me agrada - e eu até sou um grande admirador de arte moderna.
Vi também uma exposição, Desenhos de Escritores, que achei muito pobre. Seria bem mais interessante uma exposição - ou várias - de pintores integrados em movimentos que também incluíssem literatura. Mas obviamente não se pode gostar de tudo.
Enfim... Tirando o espaço, que é um excelente espaço de exposição, acho que o que mais apreciei no museu foi a loja.

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