Um livrinho muito belo, do qual fui gostando mais à medida que avançava na sua leitura. À primeira vista facilmente catalogável como um livro "rich in fin-de-siècle themes: melancholy, eroticism and decadence abound", como diz na recensão da contra-capa, é na verdade muito actual, pois foca uma questão intemporal - o contraste entre o que desejamos inicialmente e o que nos tornamos na realidade, a procura de um "sentido da vida", quase universal na juventude, e qual o sentido dessa procura.
O tom é suave e elegante, um misto de melancolia e nostalgia (fin-de-siècle?); acompanhamos a personagem principal, não especialmente simpática mas muito real nas suas aspirações e sensibilidade muito características de uma classe média culta ("...the melancholy with which life punishes the man who thinks more about beauty and ugliness and good and evil than about his daily bread."), desde uma infância protegida e despreocupada até à estagnação a que se entrega voluntariamente - por comodismo e nihilismo - aos 30 anos. Passamos pela fase em que ele espera que o sentido da vida se lhe revele de alguma forma - "He read and he thought. In books and in his own thoughts he looked for that which young people so often seek, only to forget in their old age that they have ever worried about it: a belief to live for, a star to steer by, a coherence to things, a meaning and an aim." - que no entanto lhe escapa - "In those days the thousands of unfulfilled desires he carried within himself were like many shimmering hopes and half-made promises, for long years of emptiness and disappointment had not yet ground them into sharp knives that pierced and tore at the soul."
A certa altura, chega à conclusão que apenas algumas pessoas têm a determinação para se dedicarem exclusivamente a um objectivo e eventualmente o atingirem, pois a maioria gosta de apreciar a vida pelo caminho, e a saída que encontra é um contentment com o quotidiano nimbado de nihilismo e indiferença.
Na velha imagem da vida como uma viagem, em que há os que só se preocupam com chegar a um destino e os que preferem ir apreciando o caminho, tenho vindo a inclinar-me também para a segunda tendência, mas penso que não é necessário cair no nihilismo e indiferença de Martin Brick, confortáveis justificativos para a mediocridade comodista em que se refugia. Acho que se podem pensar destinos a médio e longo prazo, lutar por eles, enquanto se aprecia o trajecto da melhor forma possível. Talvez não sejam destinos grandiosos nem gloriosos, mas só temos esta vida, e a melhor forma de a viver não será tentarmos ser felizes e criar alguma felicidade à nossa volta? Alguns de nós teremos a capacidade e a oportunidade de o fazer em maior escala, tanto melhor.
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3 comentários:
Parece sensato.
Fico contente por estares a descobrires coisas interessantes no universo cultural escandinavo!
Ora muito bem. Com que então o senhor também é dado a recensões?!
Eu julgava que era apenas uma mania minha.
Fiquei curiosa.
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