domingo, julho 12, 2009
Uma citação de Natália Correia
Não Antero meu santo não me mato.
Antes me zango até ficar um cacto.
Quem me tocar (maldito) que se pique!
Tantas vezes me identifico com estas palavras!
Um amigo ofereceu-me a fotobiografia de Natália Correia. Fiquei a conhecer bem melhor a personagem e a sua obra, e se já a respeitava e por ela sentia alguma admiração, o meu respeito aumentou, sobretudo pela qualidade da sua escrita, por vezes barroca e excessiva, mas com poemas de grande beleza e sobretudo com uma força anímica e uma energia invulgares. Lembro-me em miúdo de a achar uma figura um tanto caricatural e divertida, e de facto era uma mulher com um certo excesso de energia e paixão que a levou a dizewr e fazer muitas coisas com as quais não concordo e de que não gosto, com alguma tendência ao exagero, mas é inegável que foi uma personagem, corajosa, inteligente, brilhante e marcante. De certa forma, imagino-a mais integrada na sociedade romântica, uma outra George Sand. Mas deixou-nos pérolas inesquecíveis, uma das quais, cujo impacto delicioso bem recordo na altura, é o poema que em minutos escreveu na Assembleia durante os debates da lei de despenalização do aborto:
"O Acto Sexual é para fazer filhos" - disse ele
Já que o coito - diz Morgado -
Tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.
Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado -
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.
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