segunda-feira, maio 15, 2006

Kate Bush

Há uns tempos, encomendei alguns cds de Kate Bush que não ouvia há imenso tempo (desde a mudança do vinil para o compact): The Kick Inside, The Dreaming e Hounds of Love. Tenho-os saboreado um a um - ultimamente Hounds of Love.

Ouvi Kate Bush pela primeira vez quando saiu o single Wuthering Heights, que foi um mega-sucesso em 1978, e foi na altura amor à primeira vista, ou melhor, à primeira audição. Foi aliás por causa da música que li o livro, que é magnífico, e embora tenha lido numa entrevista que Kate não o lera quando escreveu a canção, tendo-se inspirado apenas numa cena do filme com laurence Olivier e Merle Oberon (que nunca vi), soube captar admiravelmente o espírito da história, e ainda hoje é a "banda sonora" que associo aos tempestuosos amores e ódios de Cathy Earnshaw e Heathcliff. Ouvi inúmeras vezes o disco nesse Verão, e ofereci o álbum à minha irmã para eu o poder ouvir, vindo mais tarde a apoderar-me dele subrepticiamente, já que ela não o apreciava tanto como eu.

Nos anos seguintes, fui comprando os seus discos, até Hounds of Love. Depois, voltei-me para outras músicas, e foi caindo um tanto no esquecimento; não deixei de gostar, mas os últimos discos não me disseram muito e já a ouvia tão poucas vezes que quando me converti ao cd não comprei nenhum dos seus. Há uns anos, encontrei por acaso uma colectânea, The Whole Story, em promoção, e comprei-a; ao voltar a ouvir, descobri com prazer que o velho encanto, se não tão arrebatado, ainda estava lá, e há poucos meses encomendei na Amazon os cds antigos (por acaso, foi mais ou menos na altura em que saiu um novo cd dela, que ainda não ouvi).

E o encanto que me fascinou aos 12 anos continua lá - embora Wuthering Heights se mantenha uma das minhas músicas favoritas dela, hoje gosto mais dos álbuns The Dreaming e Hounds of Love. A música de Kate Bush, as inflexões e a sensualidade da sua voz, ora apolínea ora sombriamente dionisíaca, os instrumentos de sonoridade original ou tradicional que utiliza, despertam um prazer de embriaguez, onírico e mágico, uma certa música dos elementos - terra, ar, fogo, água - como se ela fosse uma sacerdotiza ou feiticeira que nos transporta com ela numa dança pagã. Não sei exprimir-me muito bem, mas é essa mais ou menos a sensação que me provoca. Não sinto especial vontade de ouvir os seus trabalhos recentes, pois um dos prazeres de a ouvir liga-se ao reconhecimento, e concordo que a qualidade da sua música está longe de ser homogénea, mas acho que tem momentos geniais e só por eles sinto-me grato por existir e pelo que me proporciona, e não é isso o que desejamos da arte?

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