Têm estado uns dias verdadeiramente invernosos - frio, e ultimamente alguma chuva - em que sabe muito bem ir ao cinema ou ficar em casa a ver um video alugado. É o que vou fazendo de vez em quando.
Expiação, de Joe Wright, é uma boa adaptação do excelente livro de Ian

McEwan - bem filmado, muito fiel à história e com grandes interpretações. Como a maioria das adaptações de bons livros, deixa muitas
nuances e pormenores de fora, o que não surpreende, sobretudo conhecendo as descrições pormenorizadas de McEwan dos estados de alma e emoções; como filme, no entanto, o principal senão é o frequente deslizar para um certo convencionalismo - a música, os longos planos dos
décors, dos drapeados dos vestidos.
O Assassinato de Jesse James pelo Cobarde Robert Ford, de Andrew Dominik, é uma espécie de western desencantado à moda dos anos 70 (como
McCabe & Mrs. Miller,
The Missouri Breaks ou
Heaven's Gates), sobre o ciúme

e a queda das ilusões, bem interpretado, melancólico e nostálgico. O Bob Ford de Casey Affleck e em geral os outros membros do
gang de Jesse James são bem mais convincentes do que o Jesse James de Brad Pitt, que parece a personagem mais débil do filme e deixa um pouco a sensação de ser incapaz de inspirar tanto temor ou emoções nos outros.
Ensemble, C'est Tout (
Finalmente Juntos? Não me lembro da tradução

do título), de Claude Berri, é um filme simpático e bem disposto sobre relações humanas, mas bastante convencional e previsível. Audrey Tautou lá faz de boa rapariga com personalidade, como de costume, Guillaume Canet é o bruto de bom coração e alma sensível, Laurent Stocker o artista ingénuo e excêntrico e Françoise Bertin a velhota amorosa a quem a velhice e a doença não tiram a dignidade. Mas vê-se bem, apesar de tanto
cliché.
A Rapariga Morta, de Karen Moncrieff, é muito bom; muito deprimente também, com várias histórias de pessoas vulgares, cada uma à sua maneira vencida pelas

adversidades de vidas difíceis, cujo elo de ligação é uma rapariga encontrada morta num baldio. Os intérpretes estão todos excelentes e a nota dominante é a da amargura, da falta de sentido da vida, conseguindo nunca ser lamechas.
No Vale de Elah, de Paul Haggis, é um filme que sofre de excesso de boas intenções e de vontade de tornar bem clara a mensagem anti-militarista. Demasiados

pormenores "simbólicos", demasiados sublinhados, é como se a toda a hora nos estivessem a gritar com um megafone:
"Vejam como a guerra é má!", "Vejam como desumaniza!" Sem tanto ênfase, num traço menos grosso, seria um filme muito melhor, já que a história é boa, os actores também, e sim, eu até concordo com a mensagem, mas gostaria que não a gritassem tanto.
Crash, do mesmo realizador, é muito melhor.
Look Both Ways, de Sarah Watt, foi uma surpresa agradável, pois nunca tinha ouvido falar deste filme australiano e trouxe-o do clube de video quase por acaso. Apesar de alguns
clichés e de bastante previsibilidade, é um filme

simpático e profundamente afectuoso com as suas personagens, sobre a angústia que sentimos face à nossa mortalidade e aos acasos trágicos da vida, construído no género de filmes como
Magnolia - esse filme tão
overrated - mas sem o seu pretensiosismo.
A Scanner Darkly, de Richard Linklater, é um filme visualmente muito

interessante, cuja estética reforça a história de Philip K. Dick. Foca questões como a dependência da droga, a sociedade da vigilância, ou o sacrifício de inocentes por um bem maior. Os actores, reconhecíveis sob a animação digital, estão muito bem, sobretudo Robert Downey Jr e Keanu Reeves.