Mais um livrinho de Frederico Lourenço, como sempre agradável de ler, embora me pareça que é uma recolha um pouco feita à pressão e enfeitada de um título poético e vistoso; provavelmente a publicação fez-se mais para aproveitar o facto de ele vender bem do que propriamente por haver um interesse na reunião dos textos.
Mais uma vez Frederico Lourenço escreve sobretudo sobre si próprio, o que não é um defeito mas convida a que o leitor sinta alguma afinidade com ele para apreciar a leitura. O que me leva a questionar: qual afinal a minha afinidade com o autor? Existe, indubitavelmente, em vários aspectos. E como é natural aquilo que aprecio menos são os aspectos em que discordo dele ou não o compreendo. Por exemplo, nunca fui apreciador de ópera e os meus conhecimentos de música são mais que limitados, pelo que não me prendem especialmente os textos entusiásticos sobre Elisabeth Schwarzkopf ou as considerações eruditas sobre ópera ou música clássica. Um certo snobismo aristocrático do autor, que adora referir as celebridades da sua intimidade, irrita-me um pouco, embora simpatize com a forma como ele transforma isso em crítica irónica do meio e dele próprio. E aquilo em que mais discordo dele é sem dúvida o seu catolicismo, que continuo a achar absurdo em qualquer pessoa que seja inteligente e consciente.
Quanto aos aspectos que eu aprecio: gosto da sua escrita e da sua cultura, da forma como lê e comenta as leituras (e em geral aquilo de que gosta), da sua paixão pela Grécia e a literatura clássica que também partilho, da sua abordagem franca e sensata da sexualidade. Estas qualidades compensam largamente (pelo menos nos livros, obviamente desconheço o autor como pessoa) os pontos de desacordo citados, mesmo o principal, o religioso. Anos atrás, talvez essa discordância fundamental me tivesse afastado de o ler, mas cada vez sou menos militante e mais consciente da complexidade e diversidade das coisas / pessoas / situações. E penso que globalmente fico a ganhar com isso.
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