domingo, março 25, 2007

Insinuações, ou o jornalismo de investigação à portuguesa - ou ainda bem que deixei de comprar o Público!

Inicialmente fui lendo umas vagas alusões na net (na blogosfera, como agora é tão bem dizer), mas não liguei ao assunto, por me parecer tratar-se de mais um dos muitos boatos mais ou menos maldosos que as pessoas adoram fazer circular. Mas há dias um amigo mostrou-me a peça de jornalismo de investigação do Público, e fiquei desgostado com a baixeza a que um jornal mainstream (pois não se trata propriamente do 24 Horas) chega - um daqueles desgostos inevitáveis que me provoca quase sempre o olhar com atenção para as manifestações mesquinhas da política portuguesa. Refiro-me obviamente à questão das dúvidas sobre a licenciatura de Sócrates.

A peça em causa é um exemplo acabado de um artigo de má fé, em que se enumeram uma série de pormenores burocráticos e minudências de carimbos e fotocópias e páginas numeradas ou não, em que, não demonstrando rigorosamente nada de substancial, se insinua do princípio ao fim que Sócrates ou falsificou a licenciatura ou a obteve de forma ilegal (por favores?). Qualquer pessoa minimamente familiarizada com a burocracia portuguesa sabe que este género de irregularidades de papelada são o pão nosso de cada dia - eu lido diariamente com n exemplos de processos perdidos, duplicados, números trocados, etc - aliás como é lógico que aconteça quando o número de papéis para tratar de qualquer assunto por mais insignificante que seja é sempre gigantesco. O que se deduz facilmente da trajectória académica de Sócrates é que cedo se desinteressou do curso para ingressar na política, e que tratou mais tarde de o terminar da forma mais fácil para despachar o assunto e ter um canudo, o que revela uma certa parolice mas nada mais do que isso. Certamente não será grande engenheiro, com um curso despachado ás três pancadas numa universidade privada e nunca tendo exercido, mas obviamente não é na engenharia que tenciona fazer a sua vida e esses seus dotes não têm qualquer interesse para os cargos que tem desempenhado.

Ou seja, o Público decidiu denegrir o primeiro-ministro, e fê-lo dando visibilidade a insinuações maldosas, que continuam a não passar disso mesmo. A meu ver, está perfeitamente ao nível da história do boato da homossexualidade de Sócrates, que só nunca foi abertamente discutida na imprensa mainstream por ser considerado um tema indecente / obsceno. Enfim, uma tristeza.

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