Voltei ontem, após muitos anos, ao Palácio Ribamar. Quando eu era pequeno, conhecia-o pelo nome de Escola Preparatória Bartolomeu Dias, onde fiz o ciclo preparatório. Na altura, este velho palacete do século XVIII, adaptado a escola depois de ter servido vários propósitos - entre eles o de casino nos anos 20 - estava a cair aos bocados, e era um exemplo das escolas em más condições. Lembro-me, por exemplo, de uma vez um colega meu dar um pontapé na parede e abrir um buraco entre duas salas. Havia quatro pavilhões préfabricados no pátio, ainda piores que as salas do edifício, e outras partes serviam de escritório da companhia das águas e de centro de saúde. Mas no geral, tenho boas recordações daquela escola, tive um ciclo feliz, gostávamos de explorar as salas vazias ou cheias de tralha e o velho dragoeiro era a árvore ideal para trepar - embora fosse proibido, todos o faziam.
Mais tarde, a escola passou para uns edifícios novos, mais acima, o palácio esteve abandonado uns anos, e depois foi remodelado numa daquelas obras eternas, que exibiam um enorme cartaz com os prazos e os custos, mesmo quando o prazo do fim da obra já fora ultrapassado em mais de um ano - o que aconteceu naquele caso. Nunca mais entrara lá, embora o meu filho muitas vezes falasse da Biblioteca - é agora uma biblioteca municipal - de que tem cartão de sócio e onde vai às vezes jogar jogos de computador de graça.
Fiquei muito favoravelmente impressionado - eis o exemplo de uma boa recuperação, de que temos alguns no concelho de Oeiras. O espaço está muito agradável, espaçoso e cheio de luz, e dá efectivamente vontade de estar lá a ler e a estudar. Claro que não sobrou nada do interior do antigo edifício, nem o átrio octogonal. Só tive tempo de dar uma vista de olhos pelo conteúdo do espaço infantil, mas pareceu-me bastante razoável.
Por outro lado, lamento o desaparecimento de outro Ribamar, o enorme café no jardim, tal como do Caravela. Eram cafés grandes, luminosos, sempre cheios de pessoas a estudar ou de reformados - o motivo da sua ruína, suponho. Boa parte do meu estudo na Faculdade e para o exame da especialidade foi lá feito, além de estarem ligados a outros episódios da minha vida. Os seus substitutos são uma triste sombra dos originais.
Entretanto, está actualmente em obras de recuperação o Palácio Anjos, a dois passos do outro, que eu costumava ver da janela da minha casa em criança (ficava mesmo em frente) e onde, por um motivo ou outro, nunca entrei, apesar de já ser da Câmara há muitos anos, depois de um longo período de abandono em que esteve mais ou menos ocupado por ciganos. Espero que a recuperação seja igualmente bem sucedida, embora para já me desagradem os cubos de cimento que plantaram no antigo campo de minigolfe e que me parecem completamente desinseridos do local, todo ele muito belle époque. Enfim, manias de originalidade arquitécticas.
1 comentário:
Trepavas a árvores?
Enviar um comentário