
O quadro do Verão

O quadro do Inverno

As árvores dos quadros...

...e o local depois do abate.




Cada vez gosto mais de Coetzee. O primeiro livro que li dele, À Espera dos Bárbaros, é excelente e impressionou-me muito; li depois The Master of Petersburg e Disgrace, de que também gostei bastante. Diary of a Bad Year é muito bom - exprime as ideias e preocupações de um liberal sobre o mundo actual (o Ocidente pós-9/11), e trata também do envelhecimento e da nostalgia. No entanto, o tom não é sombrio, e está soberbamente escrito - consegue nomeadamente criar três vozes bem distintas, das três personagens, cuja interacção é apresentada com humor e ironia. depois da leitura deste livro, acho que Coetzee passou a ser um autor de que lerei tudo o que puder.
O primeiro livro de Arturo Pérez Reverte que li foi A Tábua de Flandres; gostei da história engenhosa, mas achei a escrita um pouco "floreada" de mais, e a leitura de O Mestre de Esgrima (fracote) e de O Clube Dumas (o mais interessante, com uma história muito bem imaginada) confirmou a minha opinião de que a escrita do autor não estava à altura das intrigas. Pele de Tambor é também um livro com uma boa história, e marca uma certa transição na obra de Pérez Reverte, como se ele pretendesse tornar-se mais "sério", o que evidentemente não é um defeito em si, mas leva a um maior pretensiosismo da escrita, sobretudo quando as suas reflexões filosóficas continuam a parecer um tanto serôdias. Essa seriedade acentua-se em Território Comanche, que é completamente diferente dos romances iniciais - é uma memória e reflexão dos seus tempos como corresponde de guerra nos Balcãs. É na mesma linha que se insere O Pintor de Batalhas, em que as mesmas memórias e impressões são transmitidas, agora de forma romanceada (deixo de lado O Cemitério dos Barcos Sem Nome, que achei palavroso e aborrecido, e O Capitão Alatriste, uma espécie de glosa dos romances históricos de Dumas mas no estilo de Reverte, engraçado no seu género).
Já não me lembro quando ouvi pela primeira vez, talvez na XFM. Mas foi amor à primeira vista, o álbum Mellon Collie and the Infinite Sadness é extraordinário - além de ter um nome absolutamente perfeito. Os Smashing Pumpkins são dos melhores exemplos de uma certa angústia existencial urbana e moderna que me diz muito.
Elias Canetti é um daqueles escritores que ganhou o prémio Nobel mas que é pouco conhecido em Portugal; até ao ano passado só o conhecia de nome, quando li um livro dele, The Voices of Marrakesh, a propósito da minha ida a Marraquexe. Gostei da escrita, das descrições feitas como em pinceladas impressionistas, mas não me afectou especialmente, ficou para mim como uma agradável recriação de lugar e ambiente.
Slumdog Millionaire é um filme agradável e bem disposto, soberbamente filmado por Danny Boyle, muito bem interpretado, que padece no entanto de um argumento algo simplista / simplório que transmite uma visão um bocado paternalista e "turística" da Índia. Compreendo os argumentos das críticas negativas de Salman Rushdie, mas sou muito menos severo - o filme é um bom entertainment, sai-se bem disposto da sala de cinema, e mostra pelo caminho bastante sobre a vida dos pobres na Índia (houve uma altura que pensei que ia abordar o problema dos transplantes selvagens - deformação profissional? - mas ficou-se pela exploração da mendicidade e da prostituição).
Outsourced (Despachado para a Índia), de John Jeffcoat, é um filme muito engraçado sobre um americano que vai gerir um call-center na Índia. Foca os temas da globalização, do choque cultural, e apresenta uma visão afectuosa e não paternalista nem turística da cultura indiana. É divertido e deixa-nos bem dispostos e a gostar e respeitar a Índia.
The Namesake (não me lembro do título em Português), de Mira Nair, é sobre duas gerações de indianos, em que a primeira emigra de Calcutá para os Estados Unidos e a segunda passa pelos problemas de integração / desenraizamento cultural. É uma história bem contada, optimista mas sem lamechices, que novamente apresenta os indianos e a sua cultura como algo tão real e humano como os ocidentais.
Por fim, Bend it Like Beckham (Joga como Beckham), de Gurinder Chadha, é uma divertida comédia passada no meio dos imigrantes indianos em Londres; mais uma vez abordam-se os choques culturais entre as tradições indianas e a vida ocidental, desta vez através de uma rapariga que sonha ser futebolista. O filme é muito engraçado e consegue fazer humor com os valores e as personagens indianos sem ser paternalista nem trocista. 


