domingo, março 08, 2009
In South American Way, ou Regresso aos Trópicos
Desde pequeno que sou muito exigente com a temperatura da água do mar, sempre achei a água do Algarve fria (salvo em raras ocasiões) e a da zona de Lisboa gelada; como para mim o prazer da praia esteve sempre sobretudo ligado aos banhos de mar e cada vez gosto menos de calor, o meu gosto pela praia tem diminuído progressivamente.
Este Inverno, depois de não ter ido à praia em 2008, decidi voltar a uma praia com água verdadeiramente boa, e planear uma semana de férias nos trópicos, onde não ia há mais de 10 anos. Pensei inicialmente em Cabo Verde, mas a pobreza da oferta em relação ao preço fez-me desistir; investiguei as hipóteses de outros destinos, lugares onde uma vez ou outra tive vontade de ir - Martinica, Maurícia, Senegal, Mombaça, até Miami ou Key West... Não considerei inicialmente o Brasil, porque nunca tive vontade de lá ir - nunca me senti atraído pela cultura brasileira, o sotaque irrita-me, a insegurança das cidades repele-me, e o facto de se ter tornado um destino de férias particularmente popular entre os portugueses também não me atrai nada (talvez por um pouco de snobismo, mas a verdade é que um dos encantos de sair de férias é precisamente afastar-me do que vejo todos os dias). Mas, depois de considerar os preços, as profilaxias de doenças, e sobretudo os voos complicados com ligações que implicam imensas perdas de tempo, acabei por concluir que o melhor era "deixar de frescura" (ler com sotaque brasileiro!) e ir mas era ao Brasil, onde não faltam praias tropicais, com voos directos e sem necessidade de tomar comprimidos para a malária nem levar vacinas. Depois de analisar várias opções e de ouvir a opinião de vários conhecidos que já estiveram no Brasil a praia eleita foi a Baía dos Golfinhos, nos arredores de Natal, no Nordeste.
Foi uma boa escolha - a praia é muito bonita, o hotel era confortável, e o mar verdadeiramente cinco estrelas, com a temperatura ideal e a ondulação suficiente para proporcionar o prazer imenso de nos sentirmos embalados pelas ondas sem impedir de nadar. Foram uns dias de descanso e calma perfeitos - a modorra do calor aliviada por longos banhos de mar - literalmente horas na água - onde frequentemente pares de golfinhos se aproximavam a poucas dezenas de metros, leitura e boa comida.
Não posso dizer que tenha ficado a conhecer o Brasil: fui directamente do aeroporto (das piores burocracias que já encontrei para entrar num país) para o hotel, a maioria das pessoas que vi eram turistas (portugueses, argentinos e noruegueses), e os brasileiros que encontrei resumiram-se praticamente aos funcionários do hotel e aos vendedores das lojas e criados dos restaurantes - todos nordestinos, pequenos e escuros, afáveis no trato e com o sotaque que já ouvimos muitas vezes nas novelas. São claramente muito pobres, e prejudicados pela alta dos preços trazida pelo turismo, embora este provavelmente os beneficie com empregos. Pipa é uma aldeia com uma rua e muitos becos, repleta de lojas e restaurantes, com um verniz de cor e movimento, mas no caminho do aeroporto passámos por outras aldeias que eram francamente miseráveis. Tal como no México, onde me surpreendi ao encontrar em cada aldeiazinha paupérrima, de casas de madeira, uma igreja das Testemunhas de Jeová, também aqui se nota a implantação da igreja, neste caso as evangélicas, e foram várias as jovens lojistas que estavam a ler a Bíblia nos intervalos do trabalho.
Enfim, foram uns dias muito bons, passados de papo para o ar (literalmente), que me trouxeram de volta a maravilhosa sensação quase esquecida de nadar em águas tropicais e que quebraram o preconceito anti-ida-ao-Brasil... Talvez ainda volte, quiçá a Salvador, que é a única cidade cuja cultura e ambiente tenho curiosidade em conhecer.
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