domingo, outubro 05, 2008

Marraquexe


Estive alguns dias em Marraquexe, e foram umas pequenas férias estupendas. Nunca tinha estado no Norte de África; esperava um choque cultural, mas este foi apesar de tudo menor do que imaginava. É certo que houve dois aspectos que por vezes me irritaram e chegaram a provocar-me momentos de exasperação: um, a "melguice" constante dos marroquinos, não só a pressionar para vender coisas, o que muitas vezes era contra-producente, pois não me sentia à vontade para ver os produtos com calma e fugia, como a insistência em prestar "serviços" desnecessários - é quase impossível determo-nos um instante na rua para consultar um mapa ou tentar orientar-nos sem sermos assediados: "que cherches tu?", "fermé par là!", "espagnol? italien?", "la place?", etc; o outro, as multidões apressadas nas ruelas estreitas à hora de ponta das 18:30, com inúmeras motoretas, bicicletas, e frequentemente furgonetas, carrinhos de mão ou caleches, tudo a grande velocidade, aos gritos e buzinadelas.

Mas o resto compensou plenamente, e adorei a cidade. Fiquei num riad na medina, descoberto através do blog http://www.joaoleitao.com/viagens/, que aproveito para recomendar. Foram uns dias com verdadeiro sabor a férias, passados noutro mundo - o labirinto de ruelas estreitas, com arcadas e portas baixas, onde me perdi várias vezes, a cor ocre-avermelhada da cidade, o colorido dos souks, dos tapetes, dos montes de especiarias, das pilhas de frutos secos, das lanternas, das pratas, os perfumes da hortelã e especiarias, a vida fervilhante e sempre em mutação da praça Jamaa al Fna, as mulheres, a maior parte muito bonitas, de túnicas e lenços, muitas veladas, os homens de djellabas e babuchas, os grandes cafés à moda antiga, com esplanadas e terraços, onde tão bem sabia descansar bebendo café ou chá de menta e imaginar-me a ler e a escrever sem pressas, a comida saborosa, os inúmeros gatos.

Soube-me bem ser turista por uns dias: visitar a magnífica medersa Ben Youssef e os túmulos Saadianos, que foi quase como voltar ao Alhambra, tirar as fotos kitsch da praxe com serpentes ao pescoço e macacos nos ombros na Jamaa al Fna, comprar nos souks um bule, brincos de prata e tapetes berberes que parecem quadros de Klee.

Enfim, cada vez aprecio mais estas saídas da rotina, que são uma verdadeira recuperação de energia mesmo se fisicamente cansativas - anda-se quilómetros, mas como é bom estar longe, e ter experiências como contemplar do terraço do Café Glacier ou do Café de France o fim da tarde na Jamaa al Fna, com a luz a declinar sobre os terraços pejados de antenas parabólicas, a Koutoubia destacando-se contra o céu, e o eterno e variado movimento da praça.

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