Slumdog Millionaire é um filme agradável e bem disposto, soberbamente filmado por Danny Boyle, muito bem interpretado, que padece no entanto de um argumento algo simplista / simplório que transmite uma visão um bocado paternalista e "turística" da Índia. Compreendo os argumentos das críticas negativas de Salman Rushdie, mas sou muito menos severo - o filme é um bom entertainment, sai-se bem disposto da sala de cinema, e mostra pelo caminho bastante sobre a vida dos pobres na Índia (houve uma altura que pensei que ia abordar o problema dos transplantes selvagens - deformação profissional? - mas ficou-se pela exploração da mendicidade e da prostituição).
A Índia é um país que me provoca um misto de atracção e repulsa - gosto da sua cultura e de muita da sua estética, mas a miséria e as multidões assustam-me e duvido que algum dia tenha a coragem de lá ir. A propósito da cultura indiana, dos seus valores e do contraste e interacção com os valores ocidentais, que são temas que sempre me interessaram, relembro outros três filmes, qualquer deles quanto a mim superior a Slumdog Millionaire:
Outsourced (Despachado para a Índia), de John Jeffcoat, é um filme muito engraçado sobre um americano que vai gerir um call-center na Índia. Foca os temas da globalização, do choque cultural, e apresenta uma visão afectuosa e não paternalista nem turística da cultura indiana. É divertido e deixa-nos bem dispostos e a gostar e respeitar a Índia.
The Namesake (não me lembro do título em Português), de Mira Nair, é sobre duas gerações de indianos, em que a primeira emigra de Calcutá para os Estados Unidos e a segunda passa pelos problemas de integração / desenraizamento cultural. É uma história bem contada, optimista mas sem lamechices, que novamente apresenta os indianos e a sua cultura como algo tão real e humano como os ocidentais.
Por fim, Bend it Like Beckham (Joga como Beckham), de Gurinder Chadha, é uma divertida comédia passada no meio dos imigrantes indianos em Londres; mais uma vez abordam-se os choques culturais entre as tradições indianas e a vida ocidental, desta vez através de uma rapariga que sonha ser futebolista. O filme é muito engraçado e consegue fazer humor com os valores e as personagens indianos sem ser paternalista nem trocista.
Num ano em que Slumdog Millionaire ganhou o Oscar de melhor filme, penso que vale a pena rever estes filmes (e outros, certamente) e ler livros como A Suitable Boy, de Vikram Seth (e certamente outros...).
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