quarta-feira, janeiro 03, 2007

Babel, de Alejandro González Iñarritú



Tal como 21 Grams, também Babel é construído por três narrativas relacionadas, embora neste filme seja fácil perceber quais as relações entre as partes. O tema principal de Babel é a dificuldade de comunicação paradoxalmente crescente num mundo cada vez mais globalizado - mostrada sobretudo no episódio em Marrocos, que tem uma das sequências mais bem conseguidas do filme, quando o autocarro de turistas entra na aldeia do guia e cada habitante vulgar, cada cena do quotidiano, é percebida como uma ameaça latente, em que os turistas parecem uns marcianos completamente estranhos ao mundo em que estão.

Os outros dois temas, o efeito de borboleta (ou seja, os efeitos calamitosos longínquos de uma acção insignificante, assim chamado pelo exemplo hipotético de um bater de asas de uma borboleta em Pequim poder causar um ciclone na América) e a solidão na sociedade hipertecnológica, são ilustrados principalmente pelo episódio americano e pelo japonês, respectivamente. As consequências inesperadas e imprevisíveis de actos casuais são aliás um tema fulcral já em 21 Grams, como de resto em inúmeras obras (livros, filmes) que reflectem sobre a estranheza de vida, as causalidades, o que é e o que poderia ter sido.


Emocionalmente, os episódios americano e marroquino são os mais fortes e os mais tensos, de uma violência latente que nos mantém presos à cadeira à espera da cena seguinte. Não é um filme optimista, mas é extremamente adequado ao mundo em que vivemos.


As interpretações são excelentes na sua sobriedade, sobretudo a da ama mexicana, e a realização das cenas em Marrocos e no deserto californiano magnífica. Fiquei com vontade de ver Amores Perros.

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