Finalmente fui buscar o meu tão desejado cachorrinho. Desde a morte do meu velho amigo épagneul que sentia imensa vontade de voltar a ter um cão, um vazio por preencher como acho que só as pessoas que já tiveram um cão compreendem. Até dos passeios matinais e nocturnos sentia saudades.
Nos últimos anos, a minha intenção de sempre de voltar a ter um cão se perdesse o meu sofreu várias oscilações. A causa foi sempre a mesma - os entraves crescentes postos por uma sociedade cada vez mais asséptica e insensata, preocupada com o acessório em detrimento do essencial, e que dificultam a vida aos donos de cães. Não podem estar nos relvados, não podem estar na praia, querem açaimá-los nos transportes, etc, etc. Cultiva-se a noção saloia de que os cães são "porcaria" porque andam com as patas no chão e defecam e urinam - que horror! Como se as pessoas que o dizem não fizessem o mesmo, esquecendo-se que a solução é lidar com isso de forma higiénica e cívica e não suprimir os cães - a velha história de deitar fora o bebé com a água suja do banho. Esquecem-se de toda a felicidade e qualidade de vida que nos trazem, dos inúmeros estudos que demonstram as vantagens de saúde física e mental de ter um cão (como outros animais de estimação) ou para as crianças de crescerem com um. Mas todos estes apóstolos da pseudo-higiene, da pseudo-saúde, da pseudo-segurança, podem ser terrivelmente maçadores no dia-a-dia, e eu muitas vezes não me sentia com vontade de os enfrentar diariamente, e pensava que o melhor mesmo seria não voltar a ter cão.
E quando finalmente a questão se pôs, foi adiada sumariamente até ao próximo Verão, em parte pelo desgosto e luto pelo meu velho amigo, em parte por diversos problemas que me têm mantido ocupado, no mau sentido. Por vezes, os amigos e familiares opinavam sobre o assunto, predominando a corrente do "não te metas nisso, arranjar mais trabalho além dos que já tens?", mas os que melhor me conhecem encorajavam-me, fosse pela ideia de que "ao menos terias alguém em casa a portar-se bem!" ou simplesmente por acharem que me faria mais feliz devido "às boas vibrações". Até que de repente a saudade da sensação do companheirismo, do afecto incondicional, dos passeios partilhados, impôs-se de tal forma que mandei as dúvidas às urtigas e em poucos dias procurei e descobri este pequeno perdigueiro que era então um bebé de mama e que desde há poucos dias está comigo.
Não estou mesmo nada arrependido! É como se bastasse olhá-lo para sentir o coração mais leve, tocar o seu pelo macio e quente e recolher automaticamente os espinhos eriçados ao longo do dia. Neste momento escrevo com um focinho confiantemente adormecido apoiado no meu braço, e esse simples contacto é apaziguador e reconfortante.
Quem, mas quem, resistiria a este cachorrinho?
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