sábado, março 20, 2010

Mais entrevistas da Paris Review!

Depois de ler a colectânea recentemente publicada de entrevistas literárias da Paris Review, fui ao site da revista e tenho lido outras entrevistas; foi uma óptima descoberta! Nos últimos dias li as entrevistas a:

Lilian Hellman - Descobri Lilian Hellman há muitos anos, quando vi o filme Julia, de Fred Zinnemann, baseado num capítulo de um dos seus livros de memórias. Gostei muito do filme, de modo que encomendei o livro, Pentimento, a Book of Portraits, depois li várias peças e outros livros de memórias. Gosto bastante da sua escrita, do seu tom, e de algumas peças (sobretudo The Children's Hour e The Little Foxes; mais tarde vi o filme com a magnífica interpretação de Bette Davis, é muito bom). A entrevista confirmou a ideia que eu tinha dela - uma mulher determinada e opinionated, não muito simpática, que gostava de construir a sua imagem, da qual fazia parte a sua ligação com Dashiell Hammett, de quem fala inúmeras vezes. Mas gostei das suas declarações sobre o período de McCarthy, e acho que era uma boa escritora, e uma mulher "com coluna vertebral".


Henry Miller - Em miúdo, li Sexus às escondidas, pela curiosidade pelo título, que sugeria algo proibido, mas achei-o incrivelmente chato (ainda acho, aliás); só muito mais tarde tive vontade de voltar a ler Henry Miller, quando, apaixonado pelo Quarteto de Alexandria, descobri que ele fora amigo de Lawrence Durrell. Li primeiro a correspondência entre os dois, publicada em 1962, depois Trópico de Cancer, que é muito bom, e O Colosso de Maroussi, de que também gostei muito; achei Trópico de Capricórnio algo repetitivo e não voltei a ler nada dele. A entrevista mostra-o como o imagino - um homem com imensa vitalidade e determinação, algo irregular como escritor, mas com a qualidade da franqueza e um amor pela vida contagiante. Não é dos mes escritores favoritos, acho as suas ideias algo ingénuas e datadas, mas penso que vale a pena ser lido.

Dorothy Parker - O nome era-me familiar há muito; a sua pessoa começou a tomar forma quando li sobre ela em Pentimento, de Lilian Hellman; mais tarde li uma colectânea dos seus contos e poesia de que gostei imenso, e vi o filme Mrs. Parker and the Vicious Circle, onde é interpretada por Janet Jason-Leigh (excelente interpretação, num biopic simultaneamente melancólico e divertido, como ela própria era). Tem alguns contos excelentes, tal como alguns poemas, e inúmeras frases célebres que fizeram a sua reputação de wit (ou, como ela diz depeciativamente, de wisecrack). A entrevista revela uma mulher inteligente, mas imensamente amarga e desiludida com a vida. Achei curioso ela referir E.M. Forster como um dos seus escritores favoritos. Foi sem dúvida uma personalidade, muito representativa do seu tempo, corajosa e independente, mas que obviamente foi prejudicada pela sua depressão crónica. Qiçá teria sido mais feliz na era do Prozac.

Isak Dinesen / Karen Blixen - Como muita gente, conheci Karen Blixen devido ao filme Out of Africa. Li inicialmente os seus contos, de que gostei muito, depois as suas memórias de África, que achei excelentes, embora por vezes me irritasse o seu discurso aristocrático (como quando usava tantas vezes os pronomes possessivos, "os meus cães", "os meus kikuyus", "a minha quinta"). Foi o meu primeiro contacto com a literatura dinamarquesa (se exceptuar Andersen), e encantou-me o seu tom algo sombrio e misterioso, a forma como as suas histórias se desenrolam de forma tão perfeita e ao mesmo tempo imprevisível. A entrevista mostra-a como ela sempre se mostrou, aristocrática e algo distante, mas dotada de um inegável fascínio e de uma sensibilidade muito especial.

Simone de Beauvoir - Depois de ler as memórias, vários romances (os melhores são Os Mandarins e A Convidada), O Segundo Sexo e a correspondência com Sartre e outros, a entrevista de Simone deBeauvoir nada acrescenta ao conhecimento e à ideia que tenho dela. Sempre a admirei intensamente, desde que li, aos 17 anos, Memórias de uma Menina Bem Comportada, e continuo a admirá-la (tal como a Sartre), com todas as suas qualidades e imperfeições; foi alguém que viveu a sua vida plenamente e conscientemente, com uma curiosidade e atenção pelo mundo inesgotáveis e uma lucidez invejável.

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