Uma colectâea de entrevistas muito interessantes; é fascinante ler sobre as opiniões e métodos de trabalho de escritores que admiramos expostas por eles próprios. E os escritores cujas entrevistas foram seleccionadas - com excepção de Saul Bellow, de quem nunca li nada, e de Graham Greene, de quem li alguns livros mas que não me impressionaram especialmente; quanto a Boris Pasternak, conheço-o pouco, apenas li Doutor Jivago há muitos anos e lembro-me mal, mas fiquei com vontade de o reler, parece-me aliás que a sua obra principal é poética - são todos autores de obras que li e que aprecio, em diferentes graus, é certo, mas o suficiente para me despertar a curiosidade e o interesse de ler o que têm a dizer.
Abordando os restantes autores: gosto muito dos livros de E.M. Forster, cujas declarações sobre como imagina os livros antes de os escrever achei interssantes. A entrevista de William Faulkner é belíssima, como a sua escrita e os seus livros. A de Ernest Hemingway surpreendeu-me agradavelmente, já que é um autor com o qual a minha relação tem variado ao longo dos anos e conforme os livros - gostei imenso de Fiesta, Por Quem os Sinos Dobram e O Jardim do Paraíso; Across the River and into the Trees aborreeu-me profundamente e não empatizei nada com O Velho e o Mar, além de não apreciar aquilo que conhecia da personalidade do escritor. Mas gostei da entrevista, mesmo transmitindo um grande desejo e controlar a sua imagem sem parecer fazê-lo; mas tem frases como: "Leia aquilo que escrevo pelo prazer de o ler. Tudo o que lá encontrar corresponderá àquilo que você mesmo levou consigo para a leitura."
Truman Capote é sempre um conversador delicioso, e é engraçado ler a sua entrevista anterior à escrita de In Cold Blood, particularmente porque li recentemente uma colectânea dos seus contos. Mesmo que por vezes se torne um pouc irritante, escrevia sempre muito bem, e esta entrevista é um bom momento.
Lawrence Durrell é um dos meus escritores favoritos (embora sejam tantos que seja difícil fazer uma lista...) A sua entrevista está plena da vitalidade e do amor pela vida e pela escrita que enchem os seus livros, e é feta no seu momento áureo, na altura da publicação do final do Quarteto de Alexandria.
A de Jorge Luis Borges é excelente, graças à qualidade e interesse de tudo o que ele diz. Sempre o achei um escritor fascinante, e revela nas suas declarações uma personalidade não menos interessnate que a sua escrita.
Quanto a Jack Krouac, cuja entrevista termina o livro, foi um escritor que me fascinou quando adolescente (li Pela Estrada Fora aos 15 anos de um fôlego, e adorei), e que depois me desiludiu pela sua evolção (ou involução...), mas a entrevista é uma excelente peça de época, bem ilustrativa dos delírios anfetamínicos em que a escrita beatnick terminou.
No conjunto, o livro lê-se deliciosamente, e vem reforçar aquilo que eu penso em relação à actividade literária - e artística em geral: os escritores criam a sua obra com base na sua experiência e sensibilidade, e aquilo que lemos toca-nos mais ou menos e tem um significado consoante a nossa experiência e sensibilidade enquanto leitores - toda a verdadeira arte tem a ver com essa interacção emissor / receptor e deixa de pertencer exclusivamente ao artista a partir do momento em que é produzida / exposta.
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