O primeiro livro que li de Peter Høeg foi The History of Danish Dreams, há muitos anos, comprado em Londres por uma amiga, e gostei muito – da escrita, mágica e melancólica, e do ambiente, nebuloso e meio fantástico. Não conhecia a Escandinávia, e muito pouco da literatura dinamarquesa (apenas Karen Blixen e Hans Christian Andersen), e este livro evocava uma terra onírica de brumas e lendas. Li depois Miss Smilla’s Sense of Snow, um thriller excelente, com o mesmo estilo de escrita e uma história muito engenhosa e que nos mantém suspensos do princípio ao fim (fizeram a partir dele um filme muito fracote, com Julia Ormond no papel de Smilla). Muito mais tarde, li The Borderliners, de que gostei menos, por achar a história demasiado rebuscada, e fiquei com menos interesse por ler outros livros dele.
Recentemente, no entanto, a minha ida a Copenhaga, de que gostei imenso (e que me pareceu uma cidade tão serena e bem disposta, diferente do que seria de esperar a partir da escrita melancólica de Andersen, Blixen e Høeg), deu-me vontade de voltar a ler alguma coisa da sua literatura, e comprei lá o último livro dele, The Quiet Girl.
Mais uma vez, a escrita é melancólica, e a história muito complexa, uma combinação de thriller com realismo fantástico e reflexões sobre a arte, a vida e as relações humanas. Além de ter de se tomar atenção aos pormenores para não perder o fio à meada que está verdadeiramente emaranhada, a minha falta de conhecimentos musicais impediu-me de apreciar / compreender as inúmeras referências à linguagem musical, e as permanentes reflexões profundas das personagens tornam-se por vezes cansativas e um bocado irritantes. Apesar de todos estes defeitos, é um thriller engenhoso, capaz de nos agarrar até ao fim – mesmo que este se revele um tanto decepcionante – e bem escrito, e a organização da narrativa, em fragmentos que se vão revelando em diferentes momentos cronológicos, agradou ao apreciador de puzzles que sou. Não é um grande livro, mas é interessante; no entanto, ainda está muito longe de me transmitir algo próximo da sensação que Copenhaga me transmitiu, que espero um dia encontrar em algum outro autor, pois para mim ler sobre os lugares enriquece-os imenso (tal como conhecê-los enriquece a leitura sobre eles). Pelo menos, foi agradável visualizar muitos dos sítios onde se passa a acção – por exemplo, quando estacionavam o carro atrás da Bolsa, eu revi mentalmente o magnífico edifício da Bolsa, com o seu campanário formado pelas caudas entrelaçadas de quatro dragões.
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
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