segunda-feira, novembro 24, 2008
Satisfações
Depois de um dia de intenso trabalho, apesar do cansaço físico, fica-me sempre uma agradável sensação de satisfação e de realização. Não é só pelo sentimento de obrigação cumprida ligado à ética protestante de que por vezes sou acusado, ou pelo facto da imersão no trabalho me fazer abstrair de outros problemas. É porque gosto realmente do meu trabalho. Nunca me arrependi da especialidade que escolhi; pelo contrário, quanto mais passam os anos e aumenta a experiência mais me congratulo pelo acerto da escolha. Combina todos os elementos que aprecio e me estimulam na Medicina: uma matéria intelectualmente estimulante, doentes graves pelos quais se pode fazer alguma coisa, seguimento longitudinal de doentes crónicos, o que permite uma relação humana e familiar que é uma das satisfações da profissão, e o exercício de técnicas e intensivismo qb. Hoje apeteceu-me escrever sobre isto porque na minha última urgência tive uns poucos de doentes muito graves, um deles num estado de instabilidade com o qual felizmente não tenho de lidar todos os dias, do tipo em que se sente que cada gesto ou decisão, a cada 10 minutos, faz diferença. Acho que só quem tenha trabalhado em cuidados intensivos percebe bem o que se sente nessas alturas, são momentos simultaneamente angustiantes e exaltantes, pela responsabilidade e pelo imediatismo dos efeitos das nossas acções.
Ao contrário do que muita gente pensa, incluindo médicos, o trabalho numa unidade de cuidados intensivos é a maior parte do tempo bastante rotineiro e calmo, e a ausência de contacto com doentes que falam, e sobretudo a falta de seguimento longitudinal de doentes crónicos, nunca me atraiu particularmente. É por isso também que a minha especialidade me faz sentir realizado - lido com doentes graves, por vezes com as emoções do intensivismo, mas mantendo o contacto pessoal com os doentes que também me é tão gratificante. Sempre gostei imenso dos tempos de consulta, em que num período limitado de tempo se tenta orientar os problemas dos doentes da melhor forma que sabemos. E sinto uma especial satisfação ao reencontrar, ao longo de meses e anos, pessoas que vou conhecendo cada vez melhor, com as quais se estabelecem laços de uma certa intimidade e às quais sinto que faço alguma dferença, ao contribuir de alguma forma, mesmo que muitas vezes incompleta e limitada, para o seu bem estar.
Enfim, alegrias da Medicina...
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