domingo, julho 22, 2007

Safe, de Todd Haynes

Vi há algum tempo Safe, não escrevi nada na altura, depois com o Verão, a família de férias, a inércia, a inércia!..., fui adiando, como com tantos outros posts que componho mentalmente mas que nunca chego a passar a escrito, mas gostava de deixar a minha impressão.

Safe é um filme muito interessante a vários níveis. Formalmente é muito bom: contido, com uma excelente interpretação da sempre óptima Julianne Moore, com um ambiente extremamente bem conseguido, em que a ansiedade, o medo, a claustrofobia, progridem num crescendo quase palpável. Há quanto a mim dois planos de leitura principais - um relacionado com o caso particular daquelas personagens (aquela mulher, aquelas fobias, aquele grupo de entre-ajuda, aqueles médicos, aquele subúrbio), o outro em que aquela história serve como metáfora de um problema mais generalizado: a sensação de insegurança e malestar crescente numa classe média suburbana e provida de uma afluência material e de um excesso de tempo livre que contrasta com a pobreza da sua vida interior, com a falta de objectivos e com o desinteresse geral da sua vida quotidiana, o que a leva a canalizar essa falta de sentido da vida numa série de medos absurdos, mal definidos e generalizados que acabam por ser o centro da sua vida. É nesse aspecto, e por essa leitura, que o filme se torna angustiante e que impressiona. Em relação à leitura mais estreita (a do caso particular contado), a minha visão é temperada por uma razoável experiência pessoal com doentes mais ou menos semelhantes, com os quais é muito difícil sentir empatia, pois nunca encontrei nenhum que fosse bonito como a Julianne Moore e são em geral pessoas auto-centradas, negativistas, sem capacidade de elaborar o sofrimento (nem aliás praticamente nada), e que se tornam extremamente destrutivas, corroendo tudo à sua volta, a começar pelas vidas dos familiares, sem qualquer consideração pelos sentimentos dos outros (aliás, o filme ilustra esses aspectos perfeitamente).

O final é como deve ser, em aberto, a melhor forma de terminar quer se faça uma ou outra leitura. É a melhor forma de nos pôr a pensar e de enfatizar o desconforto que o filme pretende causar.

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