sábado, agosto 19, 2006

Long Way Round, de Ewan McGregor e Charley Boorman


Sempre gostei de ler relatos de viagens; mais ou menos aventurosas, têm sempre dois elementos muito interessantes: a descrição dos locais e pessoas ao longo do caminho e o ponto de vista, a perspectiva, do viajante / narrador (claro que o interesse tem a ver com a sensibilidade e inteligência deste, e da maior ou menor simpatia que nos inspira). Se, além disso, a escrita for boa, melhor ainda, embora em geral não seja o mais importante. Há livros que me interessam mais por um ou outro destes factores - ou porque gosto particularmente do autor, ou porque o sítio me atrai especialmente, ou porque a viagem cobre um período de tempo/história particularmente interessante, ou uma combinação de todos eles. Assim, vou lendo este tipo de narrativas sempre que posso, sejam as explorações de Richard Burton em África ou a sua peregrinação a Meca e Medina, a viagem de Joshua Slocum à volta do mundo, a viagem do Snark de Jack London, ou a caminhada de Patrick Leigh Fermor através da Europa nos anos 30, ou The Road to Oxiana, ou as narrativas de Chatwin sobre a Patagónia ou a Ásia.

A volta ao mundo de mota de Ewan McGregor e Charley Boorman, contada por eles próprios, é mais uma narrativa de viagens,não das melhores, mas que se lê com agrado. O discurso é simples e fluente, a alternância dos narradores confere-lhe um ritmo mais animado, tem várias cenas divertidas. É engraçado comparar este périplo do século XXI, com equipa de apoio, cobertura dos media em directo, telefones celulares e sistemas de navegação GPS, com as expedições e viagens de outros tempos. O recurso à tecnologia, aliado às frequentes referências a corridas contra o tempo, a esforços de se apressarem e cumprirem os calendários planeados, diminuem um tanto o romantismo, a mística, do viajante / aventureiro / explorador. Mas são apenas sinais dos tempos... Hoje em dia, a maioria das pessoas (nomeadamente as que têm de trabalhar para viver) não têm de facto meses ou anos para deambular pelo mundo a seu bel-prazer, e percebe-se que é complicado dispor de 4 meses para viajar, e compreende-se que o dinheiro dos patrocínios dá jeito. E quanto à tecnologia, também os viajantes do passado utilizaram a que tinham disponível nas suas épocas, fosse mais ou menos sofisticada.

No final, no entanto, o livro fica a saber a pouco. Fica a sensação de que a viagem teria sido bem mais interessante se tivesse demorado mais tempo, permitindo mais espontaneidade e mais experiências e contactos com as pessoas dos países percorridos.

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