Uns dias de ociosidade são o ideal para ler vários livros de seguida, e esse é um dos meus principais prazeres de férias... Estas não foram excepção!
Comecei por O Capitão Alatriste, de Arturo Pérez-Reverte, um livro levezinho, um romance de capa e espada a homenagear os romances de Dumas. Como sempre, achei a escrita de Pérez-Reverte um bocado chocha, recheada de muitos lugares comuns, e a história é engraçada, mas nada de especial. Arturo Pérez-Reverte tem alguns livros em que o engenho da intriga compensa os seus poucos dotes de escritor - o melhor é de longe O Clube Dumas, seguido de Pele de Tambor e de A Tábua da Flandres. Este foi o primeiro que li dele e o que me fez ler os seguintes, até O Cemitério dos Barcos sem Nome, que achei maçador e pretensioso em excesso.
Bitter Lemons of Cyprus, de Lawrence Durrell, é felizmente bem melhor. Gosto muito dos livros de Durrell, desde que li Justine, que foi verdadeiro amor à primeira vista. Ainda hoje, o Quarteto de Alexandria é das minhas obras favoritas. Ao longo dos anos, fui lendo tudo o que encontro de Durrell; obviamente gosto mais de uns do que de outros, mas em geral não me decepciono. Bitter Lemons é sobre a sua experiência em Chipre nos anos 50. Como sempre, está soberbamente bem escrito, com os seus toques de ironia que por vezes criam cenas hilariantes - como a da compra da casa em Bellapaix - mas sobretudo repassado de ternura e nostalgia pela vivência na ilha. E é muito interessante o relato do início dos problemas na ilha, no período final da dominação britânica, mostrando como a discórdia e a amargura se vão insinuando e crescendo até se chegar a uma situação incontrolável. De certa forma, ajuda a compreender situações como as do Líbano ou da ex-Jugoslávia, além de evidentemente a de Chipre.
Loucuras de Brooklyn, de Paul Auster, é mais um livro de um dos meus autores americanos favoritos, pelo menos dos vivos. Gosto muito dos livros de Auster, das suas histórias rocambolescas, da sua ternura pelas personagens, do seu talento de contador de histórias, de como explora detalhes e pormenores "seguindo-os", ramificando a narrativa, e sobretudo da sua paixão pela serendipidade, do seu optimismo. Além de que escreve muito bem. Tinha gostado bastante do último livro dele que lera, Oracle Night, mas este é optimista e alegre onde o outro era sombrio e misterioso.
Londres, de Virginia Woolf, é um livrinho que se lê de um fôlego; está muito longe do seu melhor mas é sempre agradável ler a sua prosa. Serviu para me abrir o apetite para a sua correspondência com Vita Sacville-West, que comprei em San Francisco e ainda não li.
The Plot Against America, de Philip Roth, é muito bom. Muito inteligente e extremamente bem escrito, é sinistro e arrepiante pela sua credibilidade, porque é impossível deixar de pensar que podia de facto ter sido assim, e como tudo aquilo que tomamos por garantido - a segurança, a sanidade, a normalidade - é tão assustadoramente frágil. Mostra bem como o Mal pode de facto aparecer e crescer em qualquer lugar (e de certa forma foi curioso lê-lo tão pouco depois de Bitter Lemons), e faz-nos olhar com particular cuidado para a evolução da situação na América de hoje, em que a paranóia fanática e anti-muçulmana da actual Administração substituiu o anti-semitismo imaginado no livro de Roth. Nunca tinha lido nada deste escritor, e gostei muito.
Adeus, Tsugumi, de Banana Yoshimoto, é interessante. Há cerca de um ano, li um livro desta autora, Kitchen, e gostei do seu tom, mais do que da história ou das personagens. Tsugumi confirmou essa impressão: a história é banal, trata do tantas vezes abordado tema da passagem à idade adulta, do crescimento, da nostalgia pela adolescência. O que é melhor no livro é o tipo de escrita, suave, leve, detendo-se nos pormenores e momentos, através dos quais conta a narrativa e desenvolve as personagens.
O primeiro livro de Isabel Allende que li foi A Casa dos Espíritos, num passado já longínquo, e lembro-me de que gostei muito. Depois, gostei menos de cada livro que fui lendo, com a excepção de Paula, que me tocou pela sua intensidade e pelo tema tratado, até ter deixado de a ler depois de O Plano Infinito. Há um ano, ofereceram-me Retrato a Sépia, e li-o para ver se voltava a gostar da autora, mas achei-o ainda pior que os anteriores. Mas, como diz o povo, quando há fome não há ruim pão... de modo que, já com os livros no fim, li Zorro, que estava disponível, levado por um companheiro de férias. Saiu-me um típico romance de capa e espada, completamente folhetinesco, que se lê facilmente - um pouco tipo pastilha elástica para os olhos, ou romance de aeroporto. Fraco, mas consome-se facilmente.
Por fim, um livro que ainda não terminei, e de que estou a gostar bastante. Sempre gostei de relatos de viagens e de experiências pessoais. Quando o terminar, logo falarei de Long Way Round, o relato de Ewan McGregor e Charley Boorman da sua viagem de mota à volta do mundo.
terça-feira, agosto 15, 2006
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