sábado, agosto 08, 2009

A doação de sangue dos homossexuais



Nos últimos dias houve muitos post na "blogosfera" e no Facebook sobre esta questão, a propósito de uma entrevista do director do Instituto de Sangue: é ou não um discriminação considerar que ser homosseual é uma contra-indicação a ser doador de sangue? O argumento principal a favor dacontra-indicação é qe dar sangue não é em si um direito, mas sim receber sangue "seguro". O que é verdade, decerto. Mas eu concordo que o estabelecer que "ser homossexual" em si é uma contra-indicação está errado e é uma forma de discriminação que deveria desaparecer. É óbvio que é fundamental assegurar o mais possível que o sangue administrado está live de doenças transmissíveis, e concordo que se recusem os dadores com comportamentos de risco. Mas mesmo admitindo que s homossexuais - ou os "men who have sex with men" na teminologia anglo-saxónica politicamente correcta actualmente utilizada - tenham maior frequência de comportamentos de risco, isso não é obrigatório. E quanto a mim, a razão principal para eliminar essa fraseologia é precisamente a de que conduz a um reforço da ideia-feita de que homossexualidade = promiscuidade e a uma visão negativa dos homossexuais, que forçosamente contrbui para a homofobia que já
é tão prevalente na nossa sociedade e que penso ser fundamental eliminar. Mesmo que a selecção dos dadores continue da mesma forma - ou seja, que os homens que têm sexo com homens contnuem a ser recusados caso a caso porque os responsáveis pela selecção não os considerem suficientemente seguros - não deveser assumido que são recusados por "serem homossexuais". Mesmo porque os inquéritos são muito pouc fiáveis, pois as pessoas - homo ou heterossexuais - podem sempre mentir sobre os seus hábitos. E quando se diz que é "só" um questão de palavras, está a ser-se hipócrita, porque as palavras são muito importantes.

Quanto à tão badalada entrevista, é um manancial de disparates que só podem desacreditar quem os profere. Olim tem o direito às suas opiniões, mas pelo que diz estas são completamente homofóbicas e disparatadas, e é por isso que subscrevi a causa do facebook pedindo a sua demissão. Só pela pérola dos homens violados já merecia!

Enfim, as questões de linguagem são importantes,e tudo o que contribua para o fim da homofobia e a aceitação da homossexualidade como algo perfeitamente natural parece-me fundamental. Queremos ou não ser civilizados? E a verdadeira civilização passa pela implementação da felicidade das pessoas.

2 comentários:

Donagata disse...

Não estou suficientemente a par das normas que regem as dádivas de sangue (deve havê-las, julgo eu) para me poder pronunciar sobre se a medida se insere ou não nos preceitos a ter para evitar o mais possível o risco para o recebedor. Contudo, penso que este grupo e com penas de poder ser considerada homofóbica, que não sou nem um bocadinho é, de facto, um grupo que traz consigo um risco acrescido. Como o grupo de quem se dedica à prostituição, os casais, ou não, que adoptam o sexo em grupo, os toxicodependentes... Enfim, seria extensa a lista. Compete portanto a quem tutela estes assuntos zelar pela fiabilidade do sangue recolhido. Sobretudo pela do ministrado em doentes... É uma questão de saúde pública. Devo-te dizer que tenho por amigos homossexuais de quem receberia sangue sem a mais pequena hesitação. De outros, já não...

Concordo contigo quando dizes que a linguagem conta. É claro que conta e há que ter todo o cuidado com o que se diz. Sobretudo com a forma como de diz, ou corre-se o risco de agravar preconceitos já tão enraizados como muito bem dizes.

Contudo há algo no meio desse processo todo que me intriga. Se eu for dar sangue e agora eu sou um homossexual homem, quem me obriga a dizer que o sou? Ou que sou prostituta, ou que tenho comportamentos de risco? Alguém?

Como digo, não percebo nada disto mas há por aqui algo que me escapa, seguramente.

Jokas.

Chatwinesque disse...

Nunca se consegue que o sangue seja 100% seguro, mas é claro que se deve tentar a maior segurança possível. A discriminação aqui tem a ver sobretudo com a forma como a questão é apresentada - mesmo que entre os homossexuais masculinos a percentagem de comportamentos de risco seja maior que entre os heterossexuais, é errado apresentar o "ser homossexual" como o factor de risco, pois não é verdade e contribui para a ideia feita homosexualidade = promiscuidade. Se quiseres uma comparação, também entre os negros a percentagem de hepatites e seropositividade é maior, mas não seria admissível apresentar o "ser negro" como factor de risco... Trata-se de desmistificar os conceitos. Perguntem sobre "contactos sexuais esporádicos" ou whatever, mas a formulação actual está errada e é de facto discriminante.