Descobri o universo de Dune relativamente tarde, quando o meu entusiasmo juvenil pela ficção científica estava já em declínio. Mais exactamente, foi através do filme de David Lynch, que vi salvo erro num ciclo de cinema da Gulbenkian, em 1984 ou 1985. Gostei da história e do ambiente do filme, de modo que depois li o livro; talvez porque o li depois de ver o filme, acho este uma adaptação muito boa, e sempre fiquei a imaginar o universo e as personagens de Dune com as imagens do filme - os cenários, os vermes, as indumentárias Fremen; e as personagens de Paul, Jessica, Gaius Helen Mohiam ou Irulan sempre terão na minha cabeça os rostos de Kyle MacLachlan, Francesca Annis, Sian Phillips e Virginia Madsen. Como gosto sempre de conhecer o seguimento das histórias que aprecio, fui encomendando e lendo nos anos seguintes os outros livros da saga - estupidamente esqueci-me do último, que nunca cheguei a ler (também sinal de que o interesse foi esmorecendo).
Há algumas semanas - muitos anos depois de ter lido Heretics of Dune, o último volume da série que li - quando, tomado por um apetite de ficção, fui à Fnac comprar livros, deparei na prateleira dos paperbacks em língua inglesa com este Paul of Dune, um dos vários livros acrescentados à série pelo filho de Frank Herbert com a colaboração de Kevin J. Anderson (este último, pelo que percebi, escreve livros baseados em outras séries, como a de Star Wars); tive curiosidade de mergulhar novamente no universo de Dune e nas aventuras de Paul Atreides e comprei-o.
Não fiquei decepcionado; é um livro de aventuras bem estruturado, que segue fielmente o universo criado por Frank Herbert. O meu interesse pela série tinha esmorecido em grande parte porque achei - e ainda acho - que a certa altura o autor complicara demasiado as histórias e começara a repetir-se de alguma forma, levando-se demasiado a sério, ou seja, sendo demasiado ambicioso no simbolismo e grandiosidade, ultrapassando largamente a sua capacidade (lembro-me de pensar, quando lia Heretics of Dune: "mas será que estas personagens não conseguem falar ou pensar sem ser como se estivessem a citar Shakespeare ou tratados de Filosofia?"). Isso não diminui, no entanto, a excelência do primeiro livro, Dune, nem o mérito de ter criado um verdadeiro universo ficcional de imensa riqueza, desde a ecologia à linguística; como li algures, F. Herbert está para a ficção científica como Tolkien para a fantasia.
Acho que ainda vou colmatar o meu esquecimento de Chapterhouse: Dune e talvez ler outros acrescentos de Brian Herbert e Kevin Anderson, que isto de leituras, como dizia alguém que me era muito próximo, não é só ler Kafka!
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