Há dias, na minha consulta, um homem que é meu doente há já uns 10 anos, tipo de uns 60 anos, bastante reivindicativo e chico-esperto qb, disse-me logo de início, num tom meio apreensivo meio irritado: "Ó doutor, as minhas análises estão pior, e acho que sei porque é, é que eu tomei duas caixas dessa depuralina!" Tanto quanto eu sei, a toma da depuralina não teria agravado as análises em causa, mas aproveitei a ocasião para ser didáctico e dizer coisas do género: "Pois, não sei se terá sido por causa disso, mas é por essas e por outras que nós sempre dizemos para não tomarem coisas que não sabemos exactamente o que são nem o que fazem...", "Mas diziam que fazia bem, toda a gente andava a comprar!", "Bem, de certeza que não foi nenhum dos seus vários médicos que lhe disse... Por isso é que sempre lhe digo para não tomar nada, nem outros medicamentos, sem antes perguntar a um médico.", "Ah, mas ainda tenho lá duas caixas, sempre quero ver se sou ressarcido do que paguei, que aquilo ainda custa 27 euros!", "Vê? Ainda por cima é caro!". No final da consulta, enquanto passava as receitas, diz ele: "Estes medicamentos são uma pipa de dinheiro, doutor, isto é uma vergonha o que a gente tem de pagar!", não pude deixar de responder: "Bem, pelos vistos ainda lhe sobra bastante, porque foi comprar a depuralina, que é mais cara do que todos estes juntos e nem tem comparticipação!", ao que se limitou a dizer: "Pois, bem..."
O que é lamentável é que esta é uma atitude extremamente frequente - as pessoas queixam-se do sistema de saúde e dos médicos, mas acreditam com a maior das ingenuidades em inúmeras banhas da cobra, em geral inofensivas mas por vezes perigosas e sempre inúteis.
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