quinta-feira, janeiro 31, 2008

Breve comentário


Afinal o Ministro da Saúde sempre saiu; confesso que não o esperava, pois pensava que de certa forma convinha a Sócrates ter algumas figuras antipáticas no governo para canalizar o inevitável descontentamento da população, mas pelos vistos a proximidade das eleições falou mais alto e resolveu ser mais aplacativo. É com agrado que vejo a saída de Correia de Campos, de quem tinha boa opinião antes de ser ministro e que me desapontou imenso - não só pelos modos mas sobretudo pela actuação. Mas suponho que a política não vai mudar significativamente.

Com efeito, é com tristeza que tenho visto esta política rotulada de "reformas" que consiste fundamentalmente em medidas economicistas desgarradas e que tendem a degradar progressivamente o Serviço Nacional de Saúde, provavelmente para acabar com ele a médio prazo, favorecendo os privados, em nome do "interesse dos utentes". É certo que várias urgências e serviços deviam fechar. É certo que há muito desperdício que tem de se combater para aproveitar melhor os recursos existentes. Também não se pode considerar errado que se controlem as horas de trabalho dos profissionais.

Mas a forma como estas medidas têm sido tomadas não tem servido em nada para melhorar o serviço público, antes pelo contrário, e a tendência mantém-se. Com efeito, fecham-se as unidades antes de assegurar que os serviços que prestam continuarão a ser disponibilizados e sem reforçar as funcionantes, que ficam sobrecarregadas e funcionam pior. Os cortes económicos são feitos de forma a deteriorar os serviços - mas não os ordenados dos gestores, e as companhias de seguros continuam privilegiadamente a poder recusar (ou a exigir prémios proibitivos) todos os doentes que mais precisam de assistência (ou seja, que custam mais dinheiro). E o controlo da assiduidade é feito numa lógica exclusivamente de diminuir as despesas com horas de trabalho e não para "aumentar a produtividade", e de uma forma a descontentar o máximo ós médicos para que reduzam os horários ou, de preferência, saiam da função pública (ou seja, do SNS) - é difícil mostrar como é que isso vai melhorar os serviços, porque não vai, vai piorá-los e favorecer os privados duplamente: aumentando a sua freguesia com os descontentes e não assistidos no serviço público e permitindo-lhes pagar menos aos médicos que ficarão deles inteiramente dependentes para a sua sobrevivência. E, ao contrário do que as "autoridades" gostam de propalar, a saúde fornecida pelos privados (como aliás os outros bens) não fica mais barata, mas sim mais cara. Como de resto é lógico - os privados, por definição, querem ganhar dinheiro, portanto privilegiam o lucro.

É mesmo com muita tristeza que vejo cada vez mais caminharmos rumo ao sistema de antigamente - uma saúde cara disponível para quem a puder pagar e um sistema público pouco melhor que um hospício para "os pobres".

1 comentário:

Anónimo disse...

bom comeco