Nunca tinha lido nada de Don DeLillo, e devo dizer que Falling Man não me agradou especialmente. É razoavelmente interessante, sobretudo nas descrições do dia do 11 de Setembro e do estado de espírito de confusão e estupefacção / choque que se lhe seguiu, mas a evolução das personagens é pouco credível, o desenvolvimento da história pouco interessante, as partes do terrorista enxertadas à pressão, e sobretudo a escrita e a estrutura do romance são pretensiosos e entediantes, fizeram-me lembrar uma Anne Tyler com pretensões a Ian McEwan. Decididamente, o 11 de Setembro e os seus efeitos mereciam um tratamento literário melhor.
Sempre gostei muito de História, e acho este tipo de exercícios de especulação sobre a história contrafactual extremamente interessantes quando bem fundamentados, como é o caso de História Virtual, organizado por Niall Ferguson. Abordei a longa introdução com algumas reticências devido à sua extensão (100 páginas!), mas é das partes mais interessantes do livro e ajuda muito na sua compreensão. A revisão sobre as várias teorias e formas de encarar e de escrever a História está excelente e faz reflectir. Quanto aos vários cenários apresentados, o menos interessante pareceu-me o primeiro, o da América britânica, e a conclusão, com a sua "História alternativa", está muito engraçada. Também sempre me fascinou até que ponto o evoluir da História é determinista ou dependente do acaso, e a minha opinião actual é que é um misto de ambos - a tendência geral é determinista, mas com grandes variações a curto / médio prazo dependentes do acaso, nomeadamente de factores relacionados com os indivíduos. No fundo penso que acaba por ser também a posição de Niall Ferguson, ao ler a conclusão - apesar de vários cenários diferentes ao longo do tempo, o curso geral da História não ficava muito diferente. Ou será porque conhecendo a História que foi se torna quase impossível imaginar algo de completamente diferente a longo prazo? Com efeito, se os desvios se sucedessem e potenciassem, a certa altura quase tudo seria possível de imaginar, o que começa a ser inútil para a análise e compreensão do que de facto aconteceu..
Gostei imenso de Norwegian Wood. Haruki Murakami está actualmente muito na moda; eu tinha lido dele há uns anos A Wild Sheep Chase (traduzido recentemente em português como Em Busca do Carneiro Selvagem...) e não tinha gostado muito - escrita interessante, mas não me prendeu especialmente e achei-o no geral um pouco maçador e pretensioso. Mas Norwegian Wood é muito bom, um livro intimista e terno, com personagens e situações extremamente bem construídas e reais, uma história agridoce de nostalgia e crescimento, e uma escrita sóbria e cativante. Depois deste, fico com vontade de ler mais Murakami.
Este é daqueles livros de que não sei como dizer que gostei, porque o gostar aqui não se refere a nenhum prazer estético (nem de qualquer outro tipo, a não ser talvez o de conhecer, de saber, de tentar compreender). O livro é excelente para quem se interesse pela questão do nazismo e das atrocidades nazis, e de como foi possível. E a leitura das entrevistas a vários acusados e testemunhas do Julgamento de Nuremberga é mais um elemento, e não para simplificar. Sinto sempre uma espécie de horror gelado misturado com um fascínio doentio sobre esta questão, porque de facto foi tão horrível que desafia o entendimento. As declarações dos nazis revelam duas tendências comuns a quase todos - o afectarem desconhecimento do que se passava com os judeus (temperado por aquela tão humana mania de acrescentarem: "eu até tinha amigos judeus" ou "sempre ajudei pessoalmente os judeus") e o empurrar as responsabilidades para os ausentes (geralmente Hitler, Himmler e Bormann). E depois é a forma espantosa como descrevem tudo o que aconteceu como normal, banal, burocrático, o que atinge o expoente do horror / absurdo nas declarações de Rudolf Hoess, Julius Streicher e Otto Ohlendorff. Arrepiante.
quinta-feira, agosto 16, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário