segunda-feira, abril 09, 2007

Portrait of a Marriage, de Nigel Nicolson (e V. Sackville-West)

Há bastante tempo que tinha curiosidade em ler Portrait of a Marriage, por múltiplas alusões encontradas em vários outros livros, devido às pessoas de quem se fala e a ser mais um elemento para conhecer uma geração que sempre me interessou profundamente. De certa forma, o livro revelou-se inferior às minhas expectativas, pois centra-se demasiado no caso de Vita Sackville-West com Violet Trefusis, e toda a intensidade do affair acaba por parecer hoje um pouco datada, tal como a imaturidade e tolice das duas raparigas se torna um bocado irritante. No entanto, o livro está bem escrito - tanto a parte de Vita escrita como autobiografia como a de Nigel Nicolson, e mais uma vez aprecio a forma honesta e arrojada para o tempo como o casal Harold - Vita viveu o seu casamento. De certa forma, é graças à geração do princípio do século XX que hoje gozamos da actual liberdade de costumes.

Logo na introdução fica a súmula do livro: "O meu pai aconselhou-me nas vésperas do meu casamento dizendo que 'dormir com apenas uma pessoa durante toda a vida seria como dizer "O Monte dos Vendavais é o maior romance da Literatura Inglesa, portanto nunca lerei outro"'. A infidelidade, pensava, tal como Vita, não causaria a destruição de um casamento a não ser que houvesse outras causas mais importantes. Frequentemente enriquece-o. Esta não era uma doutrina tão nova nos anos 20 como se pode imaginar. Era praticada, mas nunca recomendada. Nos anos 70, Portrait of a Marriage recomendou-a. Argumentou que o apoio mútuo em tempos de crise, gostos e interesses comuns e um desejo ocasional de afastamento eram laços mais fortes do que a compatibilidade sexual. Ouve-se falar de sexo sem amor: aqui tratava-se de amor sem sexo. [...] ...no século XX poderemos vir a aceitar que a maioria dos casamentos requerem o estímulo de relações emocionais, e provavelmente sexuais, extra-maritais, sem enfraquecer o casamento em si." No final, esta noção é reformulada: " Ela (Vita) lutou pelo direito a amar, homens e mulheres, rejeitando as convenções de que o casamento exije amor exclusivo, e que as mulheres devem amar apenas homens e os homens apenas mulheres".

Ou, segundo as palavras de Vita, numa antecipação de uma problemática que naquela época não se punha e que ainda hoje não está resolvida, e que é curioso encontrar tão bem exposta em 1920: "...porque é minha convicção que ao avançar dos séculos, e à medida que os sexos se tornam mais misturados em virtude das suas crescentes semelhanças, estou convencida de que estas ligações deixarão de ser consideradas como antinaturais, e serão muito melhor compreendidas, pelo menos no seu aspecto emocional, se não no físico. [...] Acredito que então a psicologia das pessoas como eu será objecto de interesse, e acredito que será reconhecido que muito mais pessoas do meu género existem do que é admitido no actual sistema de hipocrisia. [...] O primeiro passo em direcção dessa franqueza tem de ser pela admissão de relações normais mas ilícitas, e pela facilitação do divórcio, ou possivelmente mesmo pela reconstrução do sistema do matrimónio. Este avanço tem de vir necessariamente das classes mais educadas e liberais. Uma vez que "antinatural" significa "afastado da Natureza", apenas das mais civilizadas, porque menos naturais, classes sociais se pode esperar tolerância para com este produto da civilização." (Sim, ela era uma aristocrata snob, mas se formos honestos a questão das classes sociais não está tão ultrapassada como é politicamente correcto dizer e o seu argumento é perfeitamente actual.)

(As traduções são minhas, lamento não conservarem a elegância do discurso dos autores.)

1 comentário:

cinzento disse...

Li este livro com cerca de 15 ou 17 anos e gostei imenso dele. Na altura era a um pouco a minha anglofilia a falar mais alto, mas o mais interessante e curioso foi sobretudo sem contar ficar a conhecer a personagem real em que Virginia Wolf se inspirou para escrever Orlando.