domingo, julho 13, 2008

A Brief History of Neoliberalism, de David Harvey

Um livro muito esclarecedor, que mostra como alguma ideia que é repetida e propagada até à exaustão acaba por ser tomada como uma verdade ou uma inevitabilidade. Com efeito, é esse o caso da ideologfia do neoliberalismo - desde os anos 80 tem sido exaustivamente repetido que "não há outra solução", e as pessoas acabaram por acreditar e aceitar dessa forma uma prática cujos resultacdos estão longe de ser os que são publicitados - a melhoria da economia com a consequente melhoria do nível de vida para a generalidade das pessoas - mas que tem antes favorecido uma minoria que tem enriquecido progressiva e escandalosamente à custa de uma diminuição de uma série de regalias e direitos que o tão denegrido "Estado-providência" conferira às populações da Europa e que nos proporcionou algumas décadas de um bem-estar inédito até ao século XX.

E como é que o mundo ocidental tem sido progressivamente convencido desta "verdade científica"? Através de uma verdadeira lavagem ao cérebro realizada pelos media, cada vez menos imparciais e mais manipulados, por uma classe enriquecida que se apoderou das posições políticas chave, e que assim pretende - e consegue - perpetuar os seus ganhos. Citando o livro de Harvey (tradução minha): "Porque é que, então, há tanta gente persuadida de que a neoliberalização por meio da globalização é 'a única alternativa' e que tem sido tão bem sucedida? (o autor acabara de comparar dados da Suécia e da Grã-Bretanha, como exemplos de dois países menos e mais rendidos ao neoliberalismo, respectivamente, comparação muito favorável à Suécia) Destacam-se duas razões. Em primeiro lugar, a volatilidade de desenvolvimentos geograficamente desiguais acelerou, permitindo o avanço espectacular de certos territórios (pelo menos por algum tempo) em detrimento de outros. [...] Em segundo lugar, a neoliberalização, o processo mais do que a teoria, tem sido um enorme sucesso do ponto de vista das classes superiores. [...] Com os media dominados pelos interesses destas classes, pode propagar-se o mito de que os estados falham economicamente porque não são competitivos (criando assim a necessidade de ainda mais reformas neoliberais). [...] Se as condições das classes inferiores se deterioram é porque não conseguem(por dedicação à educação, a aquisição de uma ética de trabalho protestante, submissão à disciplina e flexibilidade no emprego, etc). Problemas particulares surgem, em resumo, por falta de força competitiva ou por derrotas pessoais, culturais e políticas. Ou seja, num mundo de Darwinismo neoliberal, apenas os mais aptos devem e conseguem sobreviver."

Entristece-me que a maioria das pessoas se deixa cair nesta armadilha e não pense pelas suas cabeças. Porque acho que essa maioria acredita que valores como a justiça, a segurança, a educação e a saúde, e a regulação do trabalho, são demaisado fundamentais e parte integrante da dignidade humana para serem negociados como televisores, roupas ou chouriços. E que o neoliberalismo não é mais do que uma entre várias teorias económicas, que actualmente está em voga, como outras estiveram mais ou menos tempo e com maior ou menor sucesso. E que é demasiado perigoso arriscar a perda de direitos que de facto e inquestionavelmente melhoraram a nossa qualidade de vida em nome de uma teoria muito propalada mas que, se examinada com algum espírito crítico, nomeadamente na sua prática e nos seus resultados até agora, revela que está muito longe de ser o que apregoa.

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