sexta-feira, dezembro 21, 2007

The Costs of Living, de Barry Schwartz

Um livro interessante, que gostei de ler, embora em várias passagens me tenha irritado um pouco. A tese central - de que a mentalidade da economia de mercado, o chamado imperialismo económico, está progressivamente a invadir todos os campos da nossa vida e a corrompê-los - é válida, está bem apresentada, e globalmente o autor faz uma descrição muito correcta e perspicaz da nossa sociedade. Chama a atenção para o facto muito importante de que o imperialismo económico não é uma inevitabilidade biológica, e que é o predomínio actual da mentalidade "de mercado" que assim o faz pensar.

Há dois aspectos no livro, no entanto, que me desagradaram. O primeiro é um certo tom... lamentoso, saudosista, que frepassa todo o texto, ou boa parte dele. Logo n início, o autor deplora a sorte de um casal conhecido, de profissionais bem sucedidos economicamente e na sua carreira, mas que no entanto vive infeliz, pressionado pelo esforço de manter uma vida e um "sucesso" a que se sentem social e culturalmente obrigados mas que não os satisfaz nem realiza. E passa daí a expor como a superabundância de escolhas nos torna inseguros e infelizes - contrapondo com antigamente em que a maior parte dos aspectos da nossa vida não precisavam de ser escolhidos pois estavam determinados à partida. Ora esse é um raciocínio falacioso - é verdade que ainda não aprendemos a gerir a multiplicidade de escolhas e decisões que a liberdade actual nos proporciona, mas a resposta é aprender a geri-la e não deixar de a ter. Estou certo de que um casal correspondente de há 30 ou 50 anos tinha outros problemas - a mulher obrigada a estar em casa e dependente economicamente do marido, o homem a seguir a profissão imposta pela tradição familiar, eventualmente a forçar-se a disfarçar uma possível homossexualidade, por exemplo... Pelo menos os problemas do casal da actualidade dependem deles próprios e podem sempre aprender a fazer as escolhas que os farão verdadeiramente felizes e realizados.

O segundo aspecto que me desagradou é o das soluções propostas pelo autor (um problema aliás muito frequente neste tipo de livros - acertam no diagnóstico dos problemas mas apresentam soluções irrealistas e desajustadas; pergunto-me porque insistem em propor soluções?), com um ênfase particular no recurso à religião e à vida "espartilhada" numa comunidade. Discordo absolutamente de que impormo-nos regras ou recorrermos à perda da livre-escolha (seja em coisas tão importantes como a profissão que escolhemos ou tão insignificantes como o que comemos à 6ª feira) seja a solução. O individualismo e a liberdade pessoal são de facto uma conquista e a base da nossa civilização, e não é por acaso que esta, com todos os defeitos que possa ter, é a mais bem sucedida actualmente e a que proporciona maior bem estar (e por favor não me venham com a felicidade dos povos do 3º Mundo ou dos países muçulmanos, basta ver a direcção dos fluxos de emigração).

Qual a solução então? Não sei, e não sei sequer se existe. Pessoalmente, acho que, como bom herdeiro do Iluminismo, a educação, a informação e a cultura são a resposta - quanto mais informadas as pessoas estiverem mais perceberão que a felicidade não está num consumismo selvagem nem na competição a todo o custo. Não acho que sejamos todos basicamente "bons selvagens" nem uns egoístas inveterados como defendem os extremistas do darwinismo social - mesmo porque, sob o ponto de vista evolutivo, a capacidade de cooperação contribuiu tanto como o egoísmo para o sucesso da nossa espécie. Acredito que um maior conhecimento desenvolve também o sentido da importância de uma moral, que não tem de e não deve ser religiosa. Ao fim e ao cabo, a maioria das pessoas é normal, ou seja, razoavelmente decente.

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