sexta-feira, junho 29, 2007

Lolita, de Vladimir Nabokov

Apesar de ser um livro tão famoso, nunca tinha lido Lolita, como aliás nunca vi os filmes nele baseados, nem o de Kubrick nem o de Lyne. Surpreendeu-me por ser tão explícito e tão divertido, tendo em conta o tema - uma relação pedófila (confesso que pudibundamente pensava tratar-se apenas da obsessão platónica de um homem de meia idade por uma ninfita). Está soberbamente bem escrito, e torna-se fascinante como a obsessão maníaca do narrador e o seu mergulho progressivo na loucura são descritos de forma tão humanizada e ao mesmo tempo repleta de ironia acutilante, criando uma ambivalência de simpatia pelo homem e repugnância pelos seus actos. O retrato da ninfita é igualmente impiedoso e desarmante. É também de certa forma um road book, com excelentes descrições da América. Imagino que deve ter sido precisa uma grande coragem da editora para o publicar nos anos 50; como o autor diz no posfácio, este é um dos "...três temas que são absolutamente tabu no que respeita à maioria dos editores americanos. Os outros dois são um casamento negro-branco que é um êxito completo e glorioso e origem de muitos filhos e netos, e o ateu absoluto, total, que vive uma vida feliz e útil e morre durante o sono, aos cento e seis anos."

quarta-feira, junho 27, 2007

Marie Antoinette, de Sophia Coppola



A primeira frase que me veio à cabeça quando acabei de ver este filme foi a de uma crónica de Vasco Pulido Valente: “um filme frívolo sobre uma rainha frívola” (cito de memória, podem não ser exactamente estas as suas palavras). Com efeito, o que fica de Marie Antoinette de Sophia Coppola é um filme visualmente bonito (candy for the eyes, como li algures numa crítica americana), mas em que tudo é tratado de forma extremamente superficial e em que se fica com uma sensação de um enorme desperdício de meios – foram autorizados a filmar em Versalhes. Fico com a ideia de que os louvores com que a crítica cobriu o filme se devem a uma de três coisas (ou às três combinadas): o crédito acumulado por Sophia Coppola pelo seu nome e por Virgin Suicides, que já lhe valeu no incensamento de Lost in Translation, a beleza visual do filme (caras bonitas, belos décors, muita, muita roupa) ou a aparente originalidade que se limita a usar música pop na banda sonora de um filme de época (e que nem sequer é assim tão original). Acho os filmes de Sophia Coppola de um interesse decrescente: Virgin Suicides era interessante e tocante, Lost in Translation pretensioso e banal, e Marie Antoinette é pretensioso e... frívolo, é mesmo a melhor palavra.

Parece-me que a biografia de Maria Antonieta merecia melhor, não porque tenha qualquer admiração pela personalidade (frívola) da rainha mas porque sempre me fascinou o seu percurso de vida: dos píncaros da frivolidade, riqueza e posição a uma cela da Conciergerie e à guilhotina (parte que o filme nem sequer aborda, pois termina com o final do período de abundância). Aliás, é essa a ideia do subtítulo da biografia de Antonia Fraser – The Journey (biografia em que se baseou Marie Antoinette, que contou com a autora como consultora). No entanto, gosto pouco desta biografia, que comprei há uns anos num quiosque de aeroporto: muito detalhada, cheia de factiúnculos, mas excessivamente hagiográfica (sempre com a preocupação de desculpar a rainha; do género: “gastava x francos em plumas e vestidos, mas no ano de 1784 a sua contribuição para caridades foi de y”), não conseguindo de todo recriar uma pessoa convincente. Muito melhor é de longe a biografia de Stefan Zweig, que sem ser factualmente exaustiva (mas contando basicamente o mesmo) apresenta uma Maria Antonieta humana e convincente nos seus actos, erros e tolices, uma mulher normal apanhada numa conjuntura particularmente turbulenta da História.

terça-feira, junho 26, 2007

Queixas de médicos


Recentemente, as queixas de um amigo sobre o atendimento que recebera do médico de família num Centro de Saúde deram-me vontade de escrever um pouco sobre isso. Começo por dizer que sendo médico ouvir queixas a respeito de médicos me causa sempre um certo desconforto, por dois motivos. Em primeiro lugar, por muito que eu deteste generalizações e tenha relutância em amalgamar num grupo homogéneo a "classe médica", que é um termo que me irrita por englobar na mesma designação centenas de pessoas muito diferentes, a verdade é que essa generalização é feita pela maioria das pessoas, de modo que me sinto sempre indirectamente atingido no meu brio profissional. Em segundo lugar, a maioria das críticas e queixas que ouço no dia-a-dia são mais fruto de expectativas descabidas das pessoas ou da má organização / coordenação / concepção dos serviços do que propriamente da actividade directa dos médicos, que são sempre um alvo fácil por serem a "cara" do sistema e também alvo de uma certa hostilidade tradicional por serem considerados como uma classe privilegiada (o que actualemente é cada vez menos verdade).

Depois desta "declaração de interesses", acrescento que as queixas concretas do meu amigo eram perfeitamente razoáveis e ele tinha toda a razão. Tinham a ver com aquilo que não deve falhar na actividade dos médicos - falta de respeito pelos pacientes (no caso, atrasos injustificados no atendimento e atitude desinteressada em relação aos seus problemas) e incompetência (mau atendimento e prescrição errada - entendida no sentido lato e não só da medicação). E foi de certa forma por isso que quis escrever: a nossa actividade é complicada e ansiogénica, lidamos com pessoas em sofrimento e vulneráveis, as nossas acções têm sempre potenciais complicações muitas vezes impossíveis de evitar, e somos confrontados tantas vezes com queixas absurdas e injustas que temos de rebater, que me revolta e enfurece ver colegas a falhar em coisas estupidamente simples e básicas por desleixo e falta de respeito, contribuindo para alimentar o clima de suspeição e hostilidade que cada vez mais ensombra a nossa prática profissional.

Com efeito, será assim tão difícil ser-se pontual? É apenas uma questão de organização, e pode fazer o contacto com o paciente começar logo mal. E também não é assim tão complicado estar-se actualizado de forma a não cometer erros grosseiros; é claro que ninguém pode saber tudo, mas é indispensável saber-se o suficiente para resolver os problemas básicos e orientar os mais complexos. E também convém saber comunicar com os doentes de forma a responder às suas questões mais prementes e fazê-los sair do consultório menos inseguros do que lá entraram. Porque se é verdade que existem doentes hostis e desconfiados com quem é muito difícil conseguir um entendimento, na esmagadora maioria dos casos os doentes confiam em nós e os médicos têm (ou deveriam ter) tanta mais informação do que eles sobre as doenças que o controle da conversa está quase sempre do nosso lado.

Sempre defendi que a maioria dos médicos são pessoas sérias e interessadas pelo que fazem. Ao contrário do que em geral se pensa, quem queira apenas ganhar dinheiro tem seguramente outras formas mais fáceis de o fazer, sem necessidade de tirar notas elevadas no liceu, fazer um curso exigente de 6 anos, seguido de exame de candidatura à especialidade, anos de avaliação, exames depois dos 30 anos, e uma prática profissional com as responsabilidades e os riscos que se conhecem. Por isso mesmo também defendo que os médicos têm de estar ao nível dessas responsabilidades; não têm de ser perfeitos nem santos, mas respeito pelos doentes e competência profissional não são opcionais, sobretudo se queremos deixar de ouvir este tipo de queixas, que sendo fundamentadas, nos fragilizam para quando temos de enfrentar os verdadeiros desafios (que incluem as queixas indevidas). E afinal de contas uma atitude correcta não é assim tão difícil.

Paris Je t'aime

Paris é de facto uma cidade lindíssima, e este é um filme simpático, com múltiplos olhares sobre a cidade, cada realizador filmando uma curta história localizada num bairro. Umas são melhores, outras piores (achei fraquinhas as dos chineses e dos vampiros), mas o conjunto resulta muito bem, a final constitui um belo remate, e os actores estão todos excelentes. Os episódios de que gostei mais foram: Montmartre, de Bruno Podalydès, Tuileries, de Ethan e Joel Coen, Le Marais, de Gus Van Sant, Bastille, de Isabel Coixet, Pigalle, de Richard LaGravenese e 14ème Arrondissement, de Alexander Payne. Que vontade de rever Paris!

quarta-feira, junho 20, 2007

Memórias de um Nómada, de Paul Bowles

Como já várias vezes disse neste blog, sou um admirador da obra de Paul Bowles, e sempre achei a sua experiência de vida muito interessante, de modo que foi com grande curiosidade que li a tradução portuguesa de Without Stopping. Gostei muito, e surpreendeu-me um pouco tê-lo achado tão divertido, porque geralmente os livros de Bowles, mesmo se revelam um humor irónico e fino, são na sua maioria bastante sombrios. Paul Bowles teve uma vida fascinante, conheceu pessoas e sítios interessantes e é um observador arguto e divertido. A descrição da sua infância, das suas andanças pelo mundo, os retratos das pessoas e dos ambientes que foi encontrando, são excelentes. Muito bom.

segunda-feira, junho 18, 2007

Play Time, de Jacques Tati

Depois de me deliciar com Mon Oncle, não podia deixar de ir ver Play Time ao Nimas. É também um filme muito engraçado e inteligente, praticamente um filme mudo, cheio de gags hilariantes e repleto de pormenores significativos e com uma estética extremamente cuidada e bem conseguida. Nunca fui especialmente adepto dos filmes de gags, mas este de Tati é realmente engraçado, porque subjacente ao nonsense das cenas está sempre uma fina ironia, um olhar trocista e inteligente sobre o deslumbramento (tolo) com a modernidade e a tecnologia. Que diferença abismal dos trejeitos idiotas de Mr. Bean! Tati mostra que para fazer humor com nonsense não é preciso ser-se estúpido. Por isso se mantém tão actual 40 anos depois.

domingo, junho 17, 2007

Cenas da vida moderna - uma passagem de The Progress Paradox

Não resisto a transcrever uma passagem de The Progress Paradox, que está uma delícia e me fez rir até às lágrimas (tradução minha):

"Devido à profusão de coisas desnecessárias que acumulamos, livros como-fazer tais como Let Go of Clutter e o best-seller Clear Your Clutter with Feng-Shui prometem melhor sono e mesmo melhor sexo às pessoas que têm a coragem de deitar o excesso no lixo. Uma profissão de assistentes apareceu com esta finalidade, dando a "organizador" um novo significado como carreira. Um organizador já não é alguém que se dirige a uma mina ou uma fábrica para instar os trabalhadores a formarem um sindicato, mas alguém contratado à hora para entrar numa casa e atacar a tralha. A Associação Nacional de Organizadores Profissionais, sediada em Norcross, Georgia, tem 1500 membros; oferece um programa de certificação e diz que os seus membros profissionais são capazes de "criar uma redescoberta liberdade e sensação de controle" aos seus clientes controlando as suas coisas. A nova profissão até tem uma estrela mediática, Julia Morgenstern, que se anuncia como "a perita em organização nº 1 da América" e que frequentemente aparece na Oprah. Habitualmente, Oprah envia Morgenstern à casa atafulhada de um espectador, onde a perita em organização nº 1 da América é filmada revelando o seu incrível segredo - avançando pelas salas enfiando tralha em sacos de plástico verdes, que depois leva até à esquina e deixa no contentor do lixo."

Aqui fica portanto o segredo da organização, e uma sugestão para quem não sabe como ganhar a vida!

The Progress Paradox, de Gregg Easterbrook

The Progress Paradox - How Life Gets Better While People Feel Worse é um livro interessante, mais pelas questões que levanta e descreve do que pelas respostas que apresenta, o que aliás é frequente neste género de livros. Mas vale a pena pela primeira metade, que além de abordar uma questão importante, interessante e actual (o culto do mal estar, do catastrofismo, pela sociedade em geral e os media em particular numa é poca em que o mundo ocidental vive mais e melhor do que em qualquer altura da história - e o resto do mundo não vive pior), está escrito de forma inteligente e divertida, constituindo uma leitura agradável e informativa.

E de facto, porque havemos de estar rodeados de anúncios de desgraças e sensações de impending doom? O livro é muito bom a demonstrar o desfasamento entre a realidade e a percepção da mesma transmitida pelos media; apresenta uma série de hipóteses de explicação plausíveis, embora talvez eu acrescentasse algumas mais prosaicas, como a memória curta das pessoas e das sociedades (que aliás explica também a nostalgia de um passado dourado - que nunca existiu - e faz com que só nos lembremos do que desejamos, explicando fenómenos como o enaltecimento de Salazar a que temos assistido, por exemplo), ou o simples facto de as pessoas gostarem de se queixar e de profetizar desgraças desde tempos imemoriais - será para inconscientemente se congratularem com o seu bem estar presente?

Nos capítulos finais, o livro soçobra numa série de boas intenções piedosas e num misto de cristianismo e new age, salpicadas aqui e ali de ingenuidade americana, bastante simplórias. Mas no geral é uma leitura útil e divertida, e é sempre bom lembrar aos arautos da desgraça que vivemos num mundo cheio de confortos e vantagens que nunca eistiram noutras épocas (sim, eu sei que nem toda a gente no mundo vive bem, mas os arautos a que me refiro vivem, e fazem de conta que não).

Uma espécie de Marley...



Às vezes parece-me estar a viver uma versão de Marley & Eu... O meu jovem perdigueiro rói sacos, pegas, canetas, estojos, cadernos, livros, cadeiras, mesas, até a parede... É um verdadeiro torpedo mal comportado - ladra se fica preso à porta do café ou do supermercado, ganiu até às 4 da manhã na única noite em que o deixei em casa de outra pessoa, com quase 7 meses faz chichi na cozinha se o deixo sozinho muito tempo... Mas depois é tão bonito, tão meigo e olha-nos com uma expressão tão devotada e amigável! Sempre pronto para brincar, seja connosco seja com as gatas, que não lhe têm medo absolutamente nenhum. É um cãozinho delicioso, mas confesso que estou morto porque lhe passe a cachorrice, já me custa tanta vitalidade.

quinta-feira, junho 14, 2007

Requiem por uma Freira, de William Faulkner

Requiem por uma Freira está muito longe dos livros de Faulkner que eu mais gosto. A ideia de retomar a personagem de Temple Drake (do excelente Santuário) é interessante, mas a forma teatral não está muito bem conseguida e quanto a mim o livro sofre de um grande defeito, que é o de ser explicitamente uma metáfora, didáctico, o que torna pomposo e artificial. Quão melhor é quando a mensagem é transmitida de forma mais subtil, através das sensações / emoções despertadas pela história ou pela escrita, em vez de tão claramente proclamada!

Mas o livro vale a pena pelos textos intercalares, sobretudo pelos dois primeiros, em que se conta parte da história de Jefferson e do condado de Yoknapatawpha, complementando a informação de outros livros, como Absalão, Absalão! ou Os Invencidos e Sartoris, no belo estilo inconfundível de Faulkner. Infelizmente, o último (A Cadeia) é o menos bem conseguido, o que contribui para deixar um certo gosto a desilusão por um dos livros de Faulkner que menos aprecio.

Shortbus, de John Cameron Mitchell

Um filme delicioso, sob vários aspectos. Divertido, inteligente, emotivo, afectuoso, sexy, recorrendo sem pudor (e sem hipocrisia) a cenas de sexo explícito (que tem sido o que mais chamou a atenção sobre o filme), mas sem nunca ser pornográfico, para tratar os temas sempre actuais da solidão urbana e das relações humanas. As personagens são convincentes e apresentadas de forma afectuosa, e acho que o filme consegue atingir o objectivo de mostrar como aquelas pessoas que à primeira vista parecem marginais e bizarras são na verdade como qualquer um de nós, de forma que todos aqueles tipos de relação sexual (e são muitos) surgem como naturais e inocentes. A banda sonora é excelente, e todo o filme é repassado de um ambiente envolvente e humano que nos deixa no final bem dispostos com o mundo. No clube Shortbus só faltou mesmo aparecer Antony e ouvi-lo, seria ouro sobre azul.

terça-feira, junho 12, 2007

Ilíada, de Homero


Foi um prazer enorme ler a Ilíada na tradução de Frederico Lourenço. Desde criança que sempre adorei as histórias da mitologia grega, lembro-me que li sobre a guerra de Tróia pela primeira vez num dos livros dos 15, salvo erro o 15 Grandes Descobertas, sobre a descoberta de Tróia por Schliemann. Já tinha lido a Ilíada na Europa-América de bolso, mas é completamente diferente lê-la nesta tradução. Obviamente não sei avaliar da sua fidelidade, já que nunca poderia ler o original, mas está escrita numa linguagem muito bela e repleta de arcaísmos elegantes que lhe conferem um tom, um sabor a poesia antiga que acho muito bem conseguido (também Os Lusíadas têm esse tipo de linguagem, é o que se espera numa epopeia poética). E simultaneamente é uma leitura empolgane, cheia de acção, de som e de fúria.

Em breve lerei a Odisseia, que espero degustar com igual prazer.

Beirut - Gulag Orkestar

Ouvi Beirut na rádio Radar e gostei muito desde o princípio. Já comprei o cd e continuo a gostar, um pouco mais a cada audição. Tem uma sonoridade fascinante, com uma mistura de influências - da Europa Oriental e do Médio Oriente -, a utilização de instrumentos como o ukulele, a corneta e o acordeão, e o timbre forte, límpido e melodioso da voz de Zach Condon. A música cria um ambiente onírico e mágico, em que é o som que fascina e as palavras tornam-se meros acessórios, importantes mais pela sua musicalidade do que pelo significado. Zach Condon, que é a alma e praticamente o faztudo da banda, é um rapaz de 19 anos que se mudou de Albuquerque para Nova Iorque, o que cria ainda mais expectativas em relação aos seus próximos trabalhos. De certa forma faz-me lembrar o início da carreira de Kate Bush, pela juventude, originalidade e recurso a instrumentos e sonoridades pouco convencionais. Muito, muito bom.

quinta-feira, junho 07, 2007

Fim-de-semana


Que bem sabe, dois dias longe da rotina, tendo como única obrigação descansar, ler e comer. E sobretudo em boa companhia. É pena não o poder fazer mais vezes, o que por outro lado torna estes momentos mais preciosos ainda. E até o tempo ajudou, com a Costa Vicentina ensolarada mas sem demasiado calor.

Infortúnios informáticos

Há umas semanas sofri o desastre das avarias sucessivas dos 3 computadores de minha casa - um bloqueou por incompatibilidades de programas anti-vírus, outro não recebia corrente eléctrica e o mais antigo apagou-se provavelmente em definitivo após uma vida razoavelmente longa. E quando uma pessoa se habitua a usar diariamente a internet, que desânimo perdê-la de repente! Sentimo-nos verdadeiramente cortados do mundo.

Mas pior ainda do que as avarias em si é o calvário para as reparar... Mais uma vez reforcei a minha ideia de que nesta terra não há suporte técnico adequado para a tecnologia informática. Decidi não arranjar o pc mais velho, que aliás já me irritava utilizar por ser tão lento. Lá me desloquei à clínica dos computadores - por sinal utilizo uma que descobri há uns meses ser a eleita em termos de eficácia e honestidade pela revista da Deco. A avaria do que não carregava a bateria já era uma recidiva, pagara mais de 200 euros há cerca de 2 meses para o arranjar. Os rapazes da clínica são simpáticos e solícitos, mas esperei 2 semanas pelo arranjo de uma das "máquinas" (a que utilizo actualmente); quanto à outra, como era uma reclamação, "dizemos-lhe já qualquer coisa até amanhã, terá prioridade!". Depois de esperar 10 dias, liguei para lá - ainda não tinha diagnóstico! Mais 3 ou 4 dias, telefonei de novo, "está na oficina, ligamos amanhã!". Dois dias depois, lá me ligaram, pedindo que assinasse uma autorização especial para o conserto, que aparentemente pode arruiná-lo definitivamente, "mas costumamos ter bons resultados!". De qualquer forma, como ele assimd e nada me serve, arrisco. Aguardo agora o resultado... Prudentemente, não me desfiz da carcaça do computador mais velho, que mandarei arranjar caso este se desintegre.

O que me aborrece mais nem são as avarias, que obviamente acontecem, mas a sensação reforçada de que os informáticos (pelo menos os portugueses, que são aqueles com quem lido) não percebem grande coisa do que fazem. Sempre que precisei de tirar alguma dúvida - sobre programas, instalações, reparações, ligações), sempre me deparei com umas explicações vagas e confusas e umas actuações longas e geralmente ineficazes, ficando geralmente mais bem servido quando trato eu próprio das coisas pelo velho método de tentativa e erro. O mesmo aliás acontece no hospital ou nas clínicas em que trabalho - o suporte informático é extremamente prático e cómodo, mas ficamos sempre com a manifesta sensação de que o estamos a subaproveitar, poruqe os técnicos do departamento de informática são sempre complicados e demorados a resolver qualquer problema.

Enfim, de qualquer forma de momento estou novamente informatizado, e como há sempre alguma vantagem a tirar dos infortúnios, aproveitei para reduzir a dependência da net que tenho vindo a desenvolver nos últimos anos - li uma série de livros e vi uma data de filmes - e fiz um reset na minha rotina informática.