quarta-feira, junho 27, 2007
Marie Antoinette, de Sophia Coppola
A primeira frase que me veio à cabeça quando acabei de ver este filme foi a de uma crónica de Vasco Pulido Valente: “um filme frívolo sobre uma rainha frívola” (cito de memória, podem não ser exactamente estas as suas palavras). Com efeito, o que fica de Marie Antoinette de Sophia Coppola é um filme visualmente bonito (candy for the eyes, como li algures numa crítica americana), mas em que tudo é tratado de forma extremamente superficial e em que se fica com uma sensação de um enorme desperdício de meios – foram autorizados a filmar em Versalhes. Fico com a ideia de que os louvores com que a crítica cobriu o filme se devem a uma de três coisas (ou às três combinadas): o crédito acumulado por Sophia Coppola pelo seu nome e por Virgin Suicides, que já lhe valeu no incensamento de Lost in Translation, a beleza visual do filme (caras bonitas, belos décors, muita, muita roupa) ou a aparente originalidade que se limita a usar música pop na banda sonora de um filme de época (e que nem sequer é assim tão original). Acho os filmes de Sophia Coppola de um interesse decrescente: Virgin Suicides era interessante e tocante, Lost in Translation pretensioso e banal, e Marie Antoinette é pretensioso e... frívolo, é mesmo a melhor palavra.
Parece-me que a biografia de Maria Antonieta merecia melhor, não porque tenha qualquer admiração pela personalidade (frívola) da rainha mas porque sempre me fascinou o seu percurso de vida: dos píncaros da frivolidade, riqueza e posição a uma cela da Conciergerie e à guilhotina (parte que o filme nem sequer aborda, pois termina com o final do período de abundância). Aliás, é essa a ideia do subtítulo da biografia de Antonia Fraser – The Journey (biografia em que se baseou Marie Antoinette, que contou com a autora como consultora). No entanto, gosto pouco desta biografia, que comprei há uns anos num quiosque de aeroporto: muito detalhada, cheia de factiúnculos, mas excessivamente hagiográfica (sempre com a preocupação de desculpar a rainha; do género: “gastava x francos em plumas e vestidos, mas no ano de 1784 a sua contribuição para caridades foi de y”), não conseguindo de todo recriar uma pessoa convincente. Muito melhor é de longe a biografia de Stefan Zweig, que sem ser factualmente exaustiva (mas contando basicamente o mesmo) apresenta uma Maria Antonieta humana e convincente nos seus actos, erros e tolices, uma mulher normal apanhada numa conjuntura particularmente turbulenta da História.
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