sexta-feira, setembro 15, 2006

Between the Woods and the Water, de Patrick Leigh Fermor

Como acho que já disse mais do que uma vez a propósito de outros livros, gosto muito de ler relatos de viagens. Sobretudo quando são tão deliciosamente suculentos como os de Patrick Leigh Fermor - terminei há dias Between the Woods and the Water, a continuação de A Time of Gifts, que li há uns anos.

Já não me lembro bem de quando ouvi falar de P. Leigh Fermor pela primeira vez, talvez na biografia de Bruce Chatwin, de quem foi amigo e de alguma forma um dos mentores. Depois, lembro-me de várias vezes ver A Time of Gifts no catálogo da editora Folio, onde durante alguns anos encomendei livros, e por fim comprei-o, numa época em que li vários volumes de memórias / viagens. Gostei imenso, e a continuação não lhe fica atrás. Espero bem que Leigh Fermor consiga publicar em breve a terceira e última parte! (Pois ele ainda vive, com 91 anos.)

Estes dois livros são o relato (escrito muitos anos depois e ainda inacabado) de uma viagem feita pelo autor na sua juventude - em 1933, uma espécie de enfant terrible da upper middle class inglesa, aventurou-se no projecto de viajar a pé até Constantinopla, atravessando a Europa ao longo dos eixos dos rios Reno e Danúbio), munido de um saco-cama emprestado por outro viajante famoso (Robert Byron, o autor de The Road to Oxiana) e uma bagagem reduzida ao mínimo, como uma espécie de vagabundo educado. A viagem durou quase dois anos, ao longo de uma Europa num momento particularmente significativo - pouco antes da 2ª Guerra Mundial, que iria transformar radicalmente toda a zona percorrida, que por isso mesmo ganha contornos simultaneamente nostálgicos e fantásticos, pois é de um outro mundo, entretanto desaparecido, que se fala. E a descrição de Patrick Leigh Fermor é fascinante - enriquecida pelos anos entretanto passados, em que PLF, um autodidacta inesgotavelmente curioso, acumulou conhecimentos enciclopédicos sobre tudo, desde botânica e zoologia a antropologia e etnologia (não admira que fosse uma das inspirações de Chatwin!), mas sobretudo a História europeia, o que torna o livro repleto de detalhes curiosos e interessantes áo longo de toda a narrativa. Por outro lado, o humor e optimismo da juventude (tinha 18 anos) tornam-se contagiantes.

O livro termina num tom nostálgico e inesperadamente melancólico, numa nota em que o autor informa que a zona onde se passa a parte final já não existe, submersa pela construção de uma gigantesca barragem no Danúbio pelas socialistas Roménia / Bulgária / Jugoslávia, assim destruindo uma paisagem fulcral na história da Europa desde o tempo dos Romanos. Não é uma diatribe sentenciosa contra o progresso, antes uma reflexão sobre a saudade e a nostalgia por um passado desaparecido.

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