Estes 2 volumes são uma colectânea de cartas de 1926 a 1963, mas mais de dois terços correspondem ao período de Setembro de 1939 a Junho de 1940 quando, durante a drôle de guerre, Sartre escrevia diariamente a Simone de Beauvoir. É de longe a parte mais interessante, pelo olhar que nos permite lançar sobre um quotidiano, que por acaso é o de um homem inteligente, complexo e atento ao que o rodeava. Aliás, Simone de Beauvoir cita no prefácio uma afirmação de Sartre dita durante as conversas que foram publicadas no volume A Cerimónia do Adeus, em que ele explica o que pensava significarem as suas cartas: "Eram a transcrição da minha vida imediata... Um trabalho espontâneo. Pensava no fundo que seriam publicadas depois da minha morte... As minhas cartas foram em suma o equivalente a um testemunho sobre a minha vida".
É essa espontaneidade que nos mostra um homem pouco simpático, egoísta e egocêntrico, com uma ideias muitas vezes peregrinas e uma enorme auto-indulgência, mas também curioso, atento, intelectualmente corajoso e com uma capacidade de desenvolver e também de alterar as suas ideias, de viver segundo as mesmas, que é quanto a mim aquilo que o torna atractivo e interessante. Assistimos ao seu testemunho sobre a escrita de A Idade da Razão, que foi de certa forma um dos livros da minha vida (e estou certo que de muitas outras vidas), e acho sempre fascinante estes olhares sobre os processos criativos. Enfim, como pessoa, sempre simpatizei mais com a personalidade e as ideias de Simone de Beauvoir, mas reconheço que Sartre foi mais aventureiro e ousado, o que o levou a cometer mais erros, mas também a abrir mais caminhos.
No conjunto, mesmo considerando algumas cartas desprovidas de interesse (como as dirigidas a Simone Jollivet ou as dos últimos anos da colectânea), é um livro interessante e um bom complemento às Lettres à Sartre.
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