quinta-feira, maio 01, 2008

The Charioteer, de Mary Renault

Há muitos anos que li a trilogia de Mary Renault sobre Alexandre - Fogo do Céu, O Jovem Persa e Jogos Funerários -, de que gostei imenso; só muito mais tarde li outro livro dela, The Mask of Apollo, que não me causou grande impressão. The Charioteer, que comprei em Londres há meses um pouco por acaso e para dar uma outra oportunidade à autora foi assim uma agradável surpresa.

Não só é um bom romance, bem escrito e com cenas e personagens muito bem criadas e convincentes, como é mais um exemplo, a par de Alexis, de Marguerite Yourcenar, de como é possível a uma mulher escrever de forma incrivelmente perspicaz e sensível (insightful é a palavra que exprime o que quero dizer) sobre experiências homossexuais masculinas. E juntando o facto de ter sido escrito por uma mulher (mesmo que ela própria lésbica, como é o caso de Mary Renault - e de Yourcenar) ao de os problemas tratados no livro serem não só o aprender a viver com a sua sexualidade mas mais ainda o da honestidade nas relações e os da escolha (ilustrada pela metáfora do auriga de Platão que dá o título ao livro) e da descoberta de si próprio, vem reforçar a minha convicção de que rotular estes romances em que as personagens principais são homossexuais e/ou os temas tratados envolvem o lidar com isso, de "literatura gay" é um erro, porque extremamente redutor. É aliás um reflexo da cultura americana de rótulos e compartimentos que a intelligentsia politicamente correcta europeia, curiosamente em outros aspectos tão crítica da cultura americana, tem adoptado avidamente.

The Charioteer - ou Alexis, ou tantos outros - vale pela sua qualidade, por ser bem escrito - e o bem escrito não significa escrita linguisticamente correcta, mas sim escrita convincente, arguta e tocante, que nos faz acreditar na história e pensar nos problemas e que deixa uma impressão durável. Enfim, acho que vou experimentar mais uns livros de Mary Renault.

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