quarta-feira, abril 25, 2007
A Derrocada, de Émile Zola
Há anos que não lia um livro de Zola, quase me esquecera de como a sua escrita é dramática e poderosa, pontuada por momentos de ternura mas terrivelmente cruel no seu realismo implacável. A Derrocada é um dos livros da série dos Rougon-Macquard, que já li quase toda, sobre a guerra franco-prussiana e a Comuna de Paris. É um execelente manifesto contra a guerra, mostrada em toda a sua violência, crueza e fealdade, abundando em mortos, estropiados, ruína, cheiros, miséria, fome, esgotamento, terror físico e moral. Aliás, Zola é sempre palavroso e detalhado nas suas descrições (as Halles em O Ventre de Paris, o armazém em O Paraíso das Damas) e pormenoriza cruelmente a progressão da desgraça, que parece sempre inevitável e fatal (mesmo nos momentos de acalmia, há sempre uma sensação de desgraça iminente; lembro-me de ter achado A Taberna um dos livros mais cruéis que li e ainda me acontece associá-lo a qualquer sensação de impending doom). Outros exemplos dessas descrições implacavelmente pormenorizadas de Zola: a ruína de Nana, a demência alcoólica de Coupeau.
Um livro como este sobre a guerra, tal como os de Remarque (A Oeste Nada de Novo e Tempo Para Amar e Tempo Para Morrer) é o melhor argumento pacifista, melhor ainda que filmes como Letters from Iwo Jima, em que apesar de tudo há uma certa poesia e beleza que envolve toda a história. Aqui não há mesmo nada de poético, nem música de fundo.
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