terça-feira, março 06, 2007

As Vidas dos Outros, de Florian Henckel von Donnersmarck


Não sabia nada sobre este filme quando o fui ver, tendo-me sido recomendado por um amigo. E talvez por o ter visto sem qualquer ideia preconcebida o seu impacto foi violento. Com efeito, impressionou-me vivamente. É um filme muito bom, com um ambiente opressivo e angustiante, sobre a censura e o controlo exercido antes da queda do Muro na RDA pela Stasi, neste caso sobre os artistas mas que obviamente se pode generalizar a toda a população. O argumento é excelente, as personagens extremamente bem construídas e interpretadas, o desenrolar da história engenhoso e convincente, com a evolução da personagem do agente da Stasi a ilustrar todo o absurdo e carácter errado e maligno do sistema.

Causa calafrios pensar que até há 30 anos devia ser assim o ambiente que se vivia em Portugal sob o fascismo e a PIDE; felizmente eu era demasiado pequeno para me aperceber, e infelizmente a maioria das pessoas esqueceu-se completamente desse aspecto - fulcral - do antigo regime, de como é viver num clima de medo e desconfiança, sob uma ditadura corrupta e medíocre (como todas são, desde o início ou a certa altura da sua evolução).

Quando pensava mais tarde no filme, não pude deixar de estabelecer uma comparação com a história de Little Children , que também vi recentemente: comparar pessoas verdadeiramente encurraladas por uma ditadura com as que, por imaturidade e falta de coragem, se consideram encurraladas numa sociedade livre e provida de oportunidades. Será que a liberdade e a prosperidade material têm forçosamente de gerar frivolidade e infantilização? E olho novamente para Portugal, para a classe média que me rodeia e parece ser essa a desanimadora conclusão que se impõe.

Este é o segundo filme excelente sobre a RDA à volta da transição para a democracia, depois de Adeus, Lenine. Porque é que em Portugal ninguém faz o equivalente?

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