sábado, maio 13, 2006

Frida Kahlo - a exposição no CCB


Depois de vários adiamentos, fui finalmente ver a exposição de Frida Kahlo no CCB. Tinha bastantes expectativas, porque gosto muito da sua pintura e por causa da publicidade que lhe fora feita, com frases como "a maior mostra dos quadros de Frida Kahlo alguma vez exibida". E talvez devido a essas expectativas, fiquei consideravelmente desiludido. É certo que estão lá alguns belos quadros, representativos da sua obra, como "A Coluna Partida", alguns auto-retratos e desenhos, que há uma boa selecção de fotografias e de citações, que o documentário é interessante. Mas sabe a tão pouco...

Em primeiro lugar, é uma exposição extremamente pequena; se calhar é a maior que se exibiu até agora, mas, conhecendo a sua obra, cria-se a expectativa de algo bem mais vasto - que diferença de algumas grandes exposições de outros pintores que já vi! Depois, e pior ainda, achei-a tecnicamente péssima: as condições de iluminação muito más - como aquelas cores vivas e brilhantes mereciam uma luz que condissesse com elas e as realçasse! parece um velório - e a ordenação dos quadros desajeitada, além de parecerem dispersos e perdidos entre os textos extensos e as fotografias bem mais numerosas - se é para disfarçar como são poucos, obtem-se precisamente o efeito contrário. O altar mexicano, para quem já viu verdadeiros altares mexicanos do dia de los muertos - e eu por acaso já passei esse dia no México - é apenas folclórico e postiço. E porque não tiveram o trabalho de legendar o documentário? Porque exploraram tão pouco as potencialidades do diário?

Enfim, vale a pena ver, porque os quadros de Frida Kahlo são bons, e ela própria é uma personalidade interessante - é fascinante a forma como ela exprime pela sua obra de uma maneira tão completa e pungente o seu drama pessoal, a dor, a convivência com um corpo semi-destroçado; sempre achei aliás que a sua insistência nos auto-retratos e o seu cultivar da originalidade e do carisma eram uma forma de se encontrar, de se justificar, de desafio, de se vingar e de vencer a adversidade. Seguramente viveu momentos muito negros, e a insistência na exploração do seu corpo, do seu rosto, lembra-me a necessidade que alguém que está desesperadamente deprimido tem de se sentir real; essas depressões também são evocadas pela paisagem árida de alguns quadros. Mas as cores, a exuberância e riqueza do conjunto da obra mostra que ela lutava eficazmente contra o desespero. Só pela sua força, merece a nossa admiração - e além do mais, os quadros são verdadeiramente belos, nas suas formas duras, cores violentas e imagens poéticas e fortes; quanto a mim, era bem melhor pintora que Diego Rivera. Mas teria sido melhor terem poupado na megalomania publicitária e terem exibido o material que têm da forma que ele merecia.

1 comentário:

  1. já foi à algum tempo, mas estou totalmente de acordo.
    fui ver mais uma amiga e os comentários foram precisamente os mesmos. só para acrescentar, quem montou a exposição e a (des)organizou não fez o trabalho de casa. um dos manequins com trajes típicos, trazia um casaco a fazer de cachecol. está bem que não era um casaco com um feitio usual mas sinceramente já não há profissionais nem vergonha. hoje em dia qualquer pessoa pensa que sabe cantar, dançar, ser actor, ser político... e ainda é aplaudido. o país desceu a um nível muito baixo. será que os portugueses perderam o sentido crítico ou nunca o tiveram?

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