domingo, dezembro 12, 2010
Brasileiras confusas
Outro dia, em conversa com um amigo a propósito de indecisões, recordámos uma personagem da telenovela O Casarão, aliás a melhor que me lembro de ter visto; Lina, interpretada por Renata Sorrah, que era uma mulher "moderna" e que passava grande parte do tempo dizendo "estou tão confusa...".
Por associação de ideias, lembrei-me de outras manifestações de confusão de mulheres brasileiras, e achei que é uma injustiça a arte poética dessa grande actriz que era (é?, nunca mais ouvi falar dela) Bruna Lombardi, pelo que aqui publico esta pérola literária da sua autoria:
Eu não sabia o que fazer, e abri a blusa.
Mais tarde eu ia dizer: foi sem pensar.
Ele me achou desnorteada, confusa,
Como acharia qualquer mulher que abre a blusa
E faz tudo que eu fiz só pra agradar.
Minha cabeca não era mesmo muito certa.
Mulher esperta eu nunca fui, mas deveria
Saber me colocar no meu lugar.
Não adiantava nada, eu era assim desatinada,
O tipo de mulher que faz as coisas sem pensar...
Você agora, me ouvindo contar essas histórias,
Talvez me ache também um pouco confusa.
E eu, que faco tudo pra agradar,
Já sem saber o que fazer, abro minha blusa,
Como faria qualquer mulher confusa em meu lugar!
Mas a confusão feminina brasileira vem de longe, como o prova esta outra pequena jóia poética de Cecília Meireles (que pode assim ser considerada uma precursora da bela Bruna), que recordo dos livros de Português dos tempos de escola:
Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo!
sorriso sem graça
ResponderEliminarAcredito ser uma prerrogativa de muitas mulheres do mundo todo... Aliás, amplio: é uma característica humana.
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