domingo, maio 02, 2010

Mais três entrevistas da Paris Review

Tenho grande admiração por Gore Vidal; não é especialmente talentoso como escritor de ficção, ebora os seus romances sejam geralmente bem acima da média e tenha escrito alguns excelentes como o original e delicioso Myra Breckinridge e a série dedicada à História dos Estados Unidos, mas como ensaísta é do melhor que há, de uma clareza, inteligência e humor contundentes e corrosivos. Gosto da sua personalidade forte e corajosa; é certo que pertence a um meio social privilegiado que lhe proporcionou oportunidades que a maioria nunca tem, mas soube viver à sua maneira e desafiar uma série de convenções e preconceitos do seu meio e do seu tempo (aliás, de todos os meios e tempos). É certo que é arrogante e vaidoso e nem sempe concordo com as uas posições, mas globamente acho-o um pessoa excepcional.

A entrevista à Paris Review, de 1974, mostra-o numa fase particularmente corrosiva, sente-se um despeito relacionado com o envelhecimento, quando estava a deixar de ser um homem atraente e com muitos anos pela frente e ainda não resignado ao declínio físico da idade. Não é por isso das entrevistas dele que eu mais aprecie; mas se estão lá a sua arrogância e snobismo, também está a sua verve eo seu humor; vale sempre a pena lê-lo.

A entrevista de Marguerite Yourcenar, realizada pouco antes da sua morte e por isso incompleta, surpreendeu-me agradavelmente. Gosto imenso dos livros de Yourcenar, Memórias de Adriano é dos meus livros favoritos de sempre. No entanto, sempre simpatizei menos com a escritora do que com os seus livros; apesar de exprimir nstes ideias lúcidas, independentes e não preconceituosas, vários dos seus ensaios e sobretudo as suas cartas mostram traços de grande conservadorismo e superioridade moral que me irritam, tal como a sua imagem muito construída e resguardada. Fico sempre com a impressão de que devia ser uma pessoa insuportável no dia a dia. Por isso gostei muito de ler esta entrevista, onde não se notam esses traços negativos, mostrando antes uma grande abertura de espírito, simplicidade de expressão e lucidez, notáveis sobretudo tendo em conta que tinha mais de 80 anos e que morreria em breve, penso que de um AVC.

Quanto a Aldous Huxley, li vários livros seus na adolescência, e lamento ter esquecido por completo a maior parte deles, como Contraponto ou Sem Olhos em Gaza; apenas me lembro bem de Admirável Mundo Novo, que é muito bom. Gostei muito da entrevista, era sem dúvida um homem inteligente, culto e interessante (mesmo tendo resvalado para um interesse por parapsicologia e misticismo na meia idade - a entrevista é de 1960).

Termino com o final desta entrevista, que é uma passaem que me agradou particularmente: "I think that fiction and, as I say, history and biography are immensely important, not only for their own sake, because they provide a picture of life now and of life in the past, but also as vehicles for the expression of general philosophic ideas, religious ideas, social ideas. My goodness, Dostoyevsky is six times as profound as Kierkegaard, because he writes fiction. In Kierkegaard you have this Abstract Man going on and on - like Coleridge - why, it's nothing compared with the really profound fictional Man, who has always to keep these tremendous ideas alive in a concrete form. In fiction you have the reconciliation of the absolute and the relative, so to speak, the expression of the general in the particular. And this, it seems to me, is the exciting thing - both in life and in art."

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