sábado, março 20, 2010
O resort
Nas minhas recentes férias na Bahia, fiquei pela primeira vez hospedado num resort de praia completo (já tinha ficado em vários hotéis de praia, com piscina e comodidades semelhantes, mas nunca num empreendimento com esta dimensão e tão... típico). Fora-me aconselhado por vários colegas e, embora o conceito não me atraísse particularmente, a relação qualidade / preço e a vantagem do regime "tudo incluido" para umas férias de aboboranço na praia (e tendo em conta que não desejava ter de ir muitas vezes à cidade) convenceram-me.
Não lamento a decisão: as ditas vantagens confirmaram-se, a praia era uma delícia, a comida muito boa, descansei imenso e aboborei qb, de modo que as férias corresponderam inteiramente ao que eu desejava. Mas, decididamente, este tipo de resort não é o meu alojamento ideal.
Para lá entrar, passava-se por três controlos, para afastar com segurança a pobreza da região, de modo que os nossos pertences ficavam perfeitamente resguardados, podendo os hóspedes esquecr os seus blackberries ou câmaras digitais nas espreguiçadeiras, que cedo lhes seriam entregues por um dos múltiplos empregados. Aliás, no check in era-nos aplicada uma pulseirinha de plástico que servia como livre-trânsito para utilizar as instalações, bares, etc. O complexo era de grandes dimensões, com centenas de quartos e os correspondentes ocupantes - muitos brasileiros, portugueses e italianos, a maioria com a sua próspera barriguita, e muitas criancinhas. Podia-se comer a qualquer hora, entre os vários restaurantes e cafetarias (todos com nomes de romances de Jorge Amado) - das 5 às 7, o café continental, das 7 às 11, o café buffet, das 11 às 13, o buffet de piscina, das 13 às 16, o almoço buffet, das 16 às 19, o lanche buffet, das 19 às 23, o jantar buffet, das 23 às 5, a ceia buffet... Além do bar molhado da piscina e do bar do lobby. Não vim mais gordo, porque o calor dos trópicos convidava a comer sobretudo saladas e fruta, e os doces de coco regionais são demasiado enjoativos, mas ainda comi saborosos pratos baianos como vatapá e xinxim de galinha, e os mojitos e as margaritas sabiam muito bem.
Mas o crème de la crème era a animação da piscina. A toda a hora havia uns frenéticos animadores, dando aulas de samba, de capoeira, de ritmo, de relaxamento, etc. Apesar da variedade dos temas, a actividade dos participantes era sempre muito parecida: de pé na piscina, braços erguidos ondulando de um lado para o outro. Já os animadores mexiam-se como se possuídos por um poltergeist - um negro pulava e saracoteava-se qual bicha louca como um boneco com molas nos pés, uma negra, a "Tia Tempestade", deixaria a Madonna verde de inveja; mas o máximo foi uma mulata de cabelo pintado de louro e calças negras artisticamente crivadas de buracos que deu uma aula de "relaxamento intensivo". Por entre música New Age (a eterna Enya) e frases omo "...porque o todo é o um, e o colectivo é o individual...", "agora formem um círculo... sempre de mãos dadas...", acabando por "abram os olhos, e vão ver um clarão, e voltarão a entrar no ventre materno"!!! Enfim, epifanias à parte, a zona da piscina era geralmente demasiado barulhenta para ler, embora a água fosse deliciosamente quente.
Resumindo, embora este tipo de resort não me atraia, aproveitei e diverti-me, como viajante optimista que sou (e não, não participei em nenhuma animação da piscina!).
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