domingo, janeiro 04, 2009

Gripe


Há uns 5 ou 6 anos que não tinha uma gripe, mas há duas semanas o vírus atacou-me e juntei-me aos números da tão falada epidemia. Já não me lembrava da sensação; como de costume, fui tomado nos primeiros dias por uma prostração e astenia intensas, e passei dois dias praticamente imóvel na cama, os processos físicos e mentais todos suspensos enquanto o sistema imunitário lutava contra o atacante a um nível subliminar. Depois, os dias de recuperação, ainda não completa, em que o mal estar e o cansaço se tornam irritantes e exasperantes por dominarem a nossa vontade. Mas aqueles dias iniciais, em que as forças desaparecem completamente, provocam uma estranha volúpia de incapacidade, um quase death wish, em que sabe bem abandonarmo-nos à fraqueza e ao oblívio. Raramente estou doente, e nunca tive nenhuma doença verdadeiramente grave, mas já houve algumas vezes em que me senti assim - gripes, uma laringite - e nessas alturas a morte parece doce e desejável. Já assisti incontáveis vezes a essa reacção em doentes internados, e acho que é um excelente mecanismo de defesa do corpo e da mente perante o fim - é como se se "desligasse", terminando o sofrimento e morrendo sem angústia. Claro que a minha doença foi apenas uma amostra, mas ajuda a compreender o que se sente nessas alturas. E não é uma má sensação.

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