quarta-feira, outubro 17, 2007
Parallel Lines, dos Blondie
Ouvi este disco vezes sem conta na minha adolescência, depois foi uma das vítimas do fim do vinil. Há uns tempos que andava com vontade de o ouvir de novo, inutilmente o tenho procurado na Fnac; ontem um chat buddy enviou-mo no msn, e que delícia ouvir novamente a voz de Debbie Harry em temas como Sunday Girl, Just Go Away, 11:59, One Way or Another, etc, tão bons como há 20 anos! É incrível como as letras me vieram imediatamente à memória. Tenho estado a ouvi-lo (em repeat, como no programa da Radar) desde ontem.
E como brinde, ainda recebi uma série de músicas de bandas da época que não conhecia, como Cranes, Revillos e Passions, e de outras que não ouvia há séculos, como Shakespeare's Sister, Eurythmics, Tourists. Alegrias da internet!
Black Coffee Blues, de Henry Rollins
Nunca tinha ouvido falar de Henry Rollins até um amigo me emprestar este livro; trata-se de um artista punk americano multifacetado - cantor rock, poeta, performer, escritor. O livro tem vários textos interessantes, por vezes Rollins consegue ser forte e intenso num estilo de desespero e existencialismo americanos que evoca influências de Jim Morrison (frequentes) a Raymond Carver (nas melhores partes). Achei no entanto em geral o livro de um homem imaturo e auto-centrado, que poderia ser escrito por um adolescente em crise de crescimento em fase de desencanto com o mundo
à procura de si próprio - todo aquele gloom angustiado e desesperançado dá vontade de dizer: "Snap out of it!", "Grow up!". (Como tinha 30 anos quando escreveu Black Coffee Blues, talvez tenha crescido e não tenha cedido à tentação de se fixar numa pose que lhe deu notoriedade:)
Mas é certo que tem bons momentos, curtos textos que nos tocam e impressionam, e os textos finais, como Exhaustion Blues, Monster (uma vívida e realista evocação da depressão) e I Know You, são muito bons.
I know you
You were too short
You had bad skin
You couldn't talk to them very well
Words didn't seem to work
They lied when they came out of your mouth
You tried so hard to understand them
You wanted to be part of what was happening
You saw them having fun
Seemed like such a mystery
Almost magic
Made you think that there was something wrong with you
You would look in the mirror trying to find it
You thought that you were ugly
And that everybody was looking at you
So you learned to be invisible
To look down
To avoid conversation
[...]
You had to be strong tokeep yourself alive
You know yourself very well now
You don't trust people
You know them too well
You try to find a special person
Someone you can be with
Someone you can touch
Someone you can talk to
Someone you won't feel so strange around
You found that they don't really exist
You feel closer to people on movie screens
Yeah, I think I know you
You spend a lot of time daydreaming
People have made comment to that effect
Telling you that you're self involved and self centered
But they don't know, do they
About the long night shifts alone
About the years of keeping yourself company
All the nights you wrapped your arms around yourself
So you could imagine someone holding you
[...]
For you life is a long trip
Terrifying and wonderful
Birds sing to you at night
The rain and the sun
The changing seasons are true friends
Solitude is a hard won ally
Faithful and patient
Yes I think I know you
à procura de si próprio - todo aquele gloom angustiado e desesperançado dá vontade de dizer: "Snap out of it!", "Grow up!". (Como tinha 30 anos quando escreveu Black Coffee Blues, talvez tenha crescido e não tenha cedido à tentação de se fixar numa pose que lhe deu notoriedade:)
Mas é certo que tem bons momentos, curtos textos que nos tocam e impressionam, e os textos finais, como Exhaustion Blues, Monster (uma vívida e realista evocação da depressão) e I Know You, são muito bons.
I know you
You were too short
You had bad skin
You couldn't talk to them very well
Words didn't seem to work
They lied when they came out of your mouth
You tried so hard to understand them
You wanted to be part of what was happening
You saw them having fun
Seemed like such a mystery
Almost magic
Made you think that there was something wrong with you
You would look in the mirror trying to find it
You thought that you were ugly
And that everybody was looking at you
So you learned to be invisible
To look down
To avoid conversation
[...]
You had to be strong tokeep yourself alive
You know yourself very well now
You don't trust people
You know them too well
You try to find a special person
Someone you can be with
Someone you can touch
Someone you can talk to
Someone you won't feel so strange around
You found that they don't really exist
You feel closer to people on movie screens
Yeah, I think I know you
You spend a lot of time daydreaming
People have made comment to that effect
Telling you that you're self involved and self centered
But they don't know, do they
About the long night shifts alone
About the years of keeping yourself company
All the nights you wrapped your arms around yourself
So you could imagine someone holding you
[...]
For you life is a long trip
Terrifying and wonderful
Birds sing to you at night
The rain and the sun
The changing seasons are true friends
Solitude is a hard won ally
Faithful and patient
Yes I think I know you
sábado, outubro 13, 2007
Take me out of here...
Take me out tonight
Where there's music and there's people
Who are young and alive
Driving in your car
I never never want to go home
Because I haven't got one anymore
Take me out tonight
Because I want to see people
And I want to see life
Driving in your car
Oh please don't drop me home
Because it's not my home, it's their home
And I'm welcome no more
in Smiths - There is a Light That Never Goes Out
domingo, outubro 07, 2007
The Tipping Point, de Malcolm Gladwell
É um livro bastante interessante, mais pelo tratamento dos exemplos que apresenta do que pela teoria subjacente. Aliás, como muitos dos livros que expoem e defendem uma teoria, este também sofre do defeito de querer encaixar tudo nessa teoria, acabando por apresentar algumas ideias pouco convincentes e forçadas. Mas globalmente é engraçado, dá algumas ideias perspicazes sobre o tema das modas (fads é o termo em inglês mais adequado, mas que não sei traduzir bem), levando-nos a apercebermo-nos de certos pormenores e tendências que geralmente não notamos e como tal ajuda a compreender o mundo em que vivemos, mesmo que muitas vezes, como diz a crítica do New York Times, que achei muito boa, se limite a ser "common sense dressed up as science".
Religião nos hospitais
Ultimamente tem-se falado muito da assistência religiosa nos hospitais, e hoje saiu uma extensa peça sobre o assunto no Público. Uma vez que também eu trabalho num hospital, tive vontade de acrescentar a minha opinião, embora geralmente evite falar das questões de que toda a gente fala ao mesmo tempo - sempre me irritaram estas ondas passageiras desencadeadas por uma ou duas pedradas, em que as pessoas do costume dão as opiniões que delas se espera e depois fica tudo mais ou menos na mesma. Desta vez, o que me levou a manifestar-me é a imensa hipocrisia que rodeia a questão. É ver "autoridades" do campo da Igreja, da Medicina, do Governo, etc, a falarem da enorme importância do apoio espiritual aos doentes e do papel das confissões religiosas.
Ora a minha experiência pessoal, que já vai em quase 20 anos, passnado por vários dos principais hospitais da Grande Lisboa, tem-me mostrado uma realidade bem diferente. Em todos estes anos de prática clínica, que incluiu a assistência a centenas de doentes crónicos, na maioria idosos, e infelizmente dezenas de moribundos, não me lembro de uma única vez (uma única) em que algum deles manifestasse o desejo de assistência espiritual ou conforto religioso. Os únicos casos em que contactei com membros de alguma confissão religiosa a aparecerem foram as Testemunhas de Jeová, por diversas vezes, mas sempre nao solicitados (excepto num caso, em que foram chamados pela mãe de um doente menor), e sempre para lembrar que os doentes em causa não podiam receber transfusões de sangue e não para lhes prestar apoio espiritual. Nos meus primeiros anos de prática ainda vi por vezes os capelães de dois hospitais passarem pela enfermaria perguntando aos enfermeiros-chefes se alguém precisava deles, mas foi tudo.
Isto não quer obviamente dizer que os doentes hospitalizados se sintam felizes e confiantes, muito pelo contrário. Mas o que eles pedem é a presença e companhia das famílias e dos amigos, muito limitadas pelas escassas horas de visita, e atenção do pessoal de saúde. Nos serviços em que trabalho actualmente há o cuidado de facilitar ao máximo o acesso aos familiares, sobretudo dos doentes mais graves e moribundos, nomeadamente tentando que não morram abandonados. Penso que seria muito mais importante e útil para os doentes, e isso seria ir verdadeiramente ao encontro das suas necessidades e desejos, investir nesse aspecto, em vez de pagar a capelães católicos ou de outra confissão, o que acho completamente errado. Obviamente, se alguém mostrar vontade de receber apoio espitual / religioso, seja qual for a confissão, deve-lhe ser facultado o acesso do ministro da religião correspondente, mas o pagamento deste e a organização desse apoio deve ser da exclusiva responsabilidade da igreja em causa. O papel do hospital deve ser apenas o de permitir e facilitar o acesso, uma vez que se o doente exprime essa necessidade a sua satisfação é seguramente importante para ele. Mas uma vez mais afirmo que seria muito mais importante facilitar e alargar o tempo de acesso às famílias - só que essas não têm bispos nem fazem notícia.
Ora a minha experiência pessoal, que já vai em quase 20 anos, passnado por vários dos principais hospitais da Grande Lisboa, tem-me mostrado uma realidade bem diferente. Em todos estes anos de prática clínica, que incluiu a assistência a centenas de doentes crónicos, na maioria idosos, e infelizmente dezenas de moribundos, não me lembro de uma única vez (uma única) em que algum deles manifestasse o desejo de assistência espiritual ou conforto religioso. Os únicos casos em que contactei com membros de alguma confissão religiosa a aparecerem foram as Testemunhas de Jeová, por diversas vezes, mas sempre nao solicitados (excepto num caso, em que foram chamados pela mãe de um doente menor), e sempre para lembrar que os doentes em causa não podiam receber transfusões de sangue e não para lhes prestar apoio espiritual. Nos meus primeiros anos de prática ainda vi por vezes os capelães de dois hospitais passarem pela enfermaria perguntando aos enfermeiros-chefes se alguém precisava deles, mas foi tudo.
Isto não quer obviamente dizer que os doentes hospitalizados se sintam felizes e confiantes, muito pelo contrário. Mas o que eles pedem é a presença e companhia das famílias e dos amigos, muito limitadas pelas escassas horas de visita, e atenção do pessoal de saúde. Nos serviços em que trabalho actualmente há o cuidado de facilitar ao máximo o acesso aos familiares, sobretudo dos doentes mais graves e moribundos, nomeadamente tentando que não morram abandonados. Penso que seria muito mais importante e útil para os doentes, e isso seria ir verdadeiramente ao encontro das suas necessidades e desejos, investir nesse aspecto, em vez de pagar a capelães católicos ou de outra confissão, o que acho completamente errado. Obviamente, se alguém mostrar vontade de receber apoio espitual / religioso, seja qual for a confissão, deve-lhe ser facultado o acesso do ministro da religião correspondente, mas o pagamento deste e a organização desse apoio deve ser da exclusiva responsabilidade da igreja em causa. O papel do hospital deve ser apenas o de permitir e facilitar o acesso, uma vez que se o doente exprime essa necessidade a sua satisfação é seguramente importante para ele. Mas uma vez mais afirmo que seria muito mais importante facilitar e alargar o tempo de acesso às famílias - só que essas não têm bispos nem fazem notícia.
Planet Terror, de Robert Rodriguez
Depois do excelente Death Proof, vi agora Planet Terror, o outro filme da dupla Grindhouse, e excedeu as minhas expectativas. Se Death Proof era irónico e divertido, cheio de diálogos engenhosos, este é o verdadeiro pulp trash, tão excessivo que é hilariante do princípio ao fim. Começa logo com um trailer impagável, e depois está lá tudo, servido por um argumento arrevezado repleto de complicadas armas biológicas/químicas (com um palavreado científico completamente disparatado), e uma verdadeira orgia de zombies vorazes, boazonas em perigo com grandes planos gratuitos de seios opulentos e pernas voluptuosas, tarados sangrentos, sangue literalmente às litradas, e até o assassino do Bin Laden. O filme é de facto muito divertido, extremamente bem feito, entretenimento puro e de boa qualidade. Uma delícia.
sábado, outubro 06, 2007
Proibição de fumar nos hospitais
Disseram-me que vem aí a proibição definitiva de fumar em hospitais, centros de saúde e outros estabelecimentos relacionados (mais uma vez, porque suponho que já é proibido), desta vez com multas e controlo a sério. Já prevejo o habitual coro indignado, mas só posso aplaudir a decisão. De facto, os argumentos utilizados contra estas medidas são patéticos - a dependência, a privação, etc. Trata-se pura e simplesmente de uma questão de hábito. Ninguém morre nem tem síndrome de privação por não poder fumar umas horas - neste caso as horas de trabalho. Aliás, nunca vi nem vi descrita nenhuma morte por privação de nicotina! Também houve queixas por não se poder fumar nos aviões (tantas horas, nas viagens longas!), e as pessoas habituaram-se. E mesmo para quem se sinta desconfortável por não poder consumir a sua nicotina (o que só acontece aos fumadores mesmo maciços) por esse tempo pode sempre utilizar um patch cutâneo. Quanto a mim, estas medidas só pecam por tardias. (E eu não sou nada apologista da cruzada contra o tabaco, a começar porque eu próprio sou fumador, mas acho que é simplesmente uma questão de bom senso.)
Prémios Ig Nobel
Já foram atribuídos os prémios IgNobel deste ano... É sempre divertido e instrutivo ver os trabalhos vencedores! Por ser da minha área, destaco o da Medicina, sobre os efeitos laterais de engolir espadas, mas gostei também particularmente do da Paz, com a "bomba gay" - uma combinação de químicos que faria os soldados desatarem aos beijos em vez de lutar... Fica o link: http://www.improb.com/ig/ig-pastwinners.html.