domingo, março 11, 2007
Revivalismos
Os revivalismos são de todos os tempos; quando eu era adolescente a moda era o revivalismo dos anos 60. Agora, como é natural, é o dos anos 80. À partida, acho um fenómeno positivo - por um lado é um prazer tornar a ouvir músicas já esquecidas e que constituíram a banda sonora da nossa vida passada, muitas vezes de momentos que nostalgicamente sabe bem reviver, por outro lado o relembrar de estéticas passadas contribui para a inspiração e construção de estéticas novas, além de ser igualmente interessante a recriação de velhos temas em novas versões. No entanto, como muitas vezes acontece, a procura indiscriminada do revivalismo faz ressuscitar coisas que melhor seria deixar esquecidas no seu tempo, pois ao mostrar como estão irremediavelmente datadas salienta a sua falta de qualidade. Ou seja, o que era mau há 20 anos continua a ser mau, e geralmente ainda pior porque sem o efeito da novidade nem o contexto em que de alguma forma fez sentido na altura em que apareceu.
Vem isto a propósito da recente injecção de música dos Heróis do Mar a que temos sido sujeitos na rádio por ocasião do documentário Brava Dança. Não vi o documentário, e até pode ser interessante, embora as críticas que tenho visto não me façam esperar grande coisa. Mas ouvir os Heróis do Mar a torto e a direito e ouvi-los enaltecidos como um grande acontecimento musical tem sido verdadeiramente constrangedor - é que eram mesmo fracos, e a música ouvida agora ainda soa mais completamente medíocre do que nso anos 80, em que era rodeada de um certo aparato e controvérsia que teve mais impacto que a própria música (aliás suponho que seja essa a razão de ser do documentário). Os mesmo comentários se aplicam aliás à ressurreição dos Duran Duran, outra banda irremdiavelmente datada e completamente medíocre, que na época teve algum impacto folclórico mas que de facto não tinha qualidade que justifique uma audição 20 anos depois, e ainda por cima apelidada por rádio como a Radar de "o som alternativo da década de 80"! è que nos anos 80 os Duran Duran era o que de mais mainstream havia, ou então sou eu que tenho uma ideia muito diferente do conceito de alternativo. Mas agora está na moda aplicar esse adjectivo a tudo e mais alguma coisa, nomeadamente ao kitsch, que era isso mesmo - kitsch. E transitório e perecível - felizmente.
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